Jacob Chansley, mais conhecido como o ‘xamã do QAnon’ ou ‘loquito de cuernos’ (louquinho de chifres) pela notoriedade que alcançou ao usar chapeu com chifres de bisão na violenta invasão do Capitólio, em 6 de janeiro, para impedir a certificação do presidente eleito, foi condenado por um juiz a 41 meses de prisão.
Atendendo pedido da promotoria, o juiz distrital Royce Lamberth também o sentenciou a três anos de liberdade condicional, após ser solto. O xamã está preso há nove meses.
A marcha sobre o Capitólio, insuflada pessoalmente por Trump – “lutem como o inferno”-, seguida pela ocupação do Congresso dos EUA por horas, vandalismo, parlamentares tendo que se esconder, e até gritos de “enforquem Pence”, que chocaram o mundo, foi o ponto culminante das tentativas do presidente derrotado de fraudar as eleições, sob a fake news de que ele fora ‘roubado nos votos por e-mail’. Mentiras que, aliás, o bilionário mantém até hoje.
A turba que atendeu à convocação de Trump e invadiu o Capitólio pretendia criar o cenário para que um grupo de deputados e senadores mais fiéis ao então presidente virasse a mesa, impedindo a certificação no Colégio Eleitoral da vitória de Joe Biden.
A invasão fora tornada possível graças ao esvaziamento do esquema policial de proteção do Congresso dos EUA e recusa, por horas, do Pentágono em autorizar o envio da Guarda Nacional para restaurar a ordem.
A seita QAnon, em cujos quadros bordeja até um ex-conselheiro de Segurança Nacional de Trump, o general da reserva Michael Flynn, prosperou no clima de negacionismo, estupidez e retrocesso patrocinado pelo trumpismo, espalhando que existe um complô de democratas com reptilíneos pedófilos para subverter os EUA, e que o salvador da pátria seria Donald Trump.
Em setembro, o ‘xamã’ se confessou culpado de obstruir um processo oficial quando, junto com centenas de outros manifestantes, invadiu o prédio para impedir que legisladores certificassem a vitória de Biden nas eleições presidenciais. Quatro pessoas morreram durante o violento ataque ao Capitólio e 140 policiais ficaram feridos durante os confrontos. Quatro policiais que defendiam o Capitólio mais tarde cometeram suicídio.
Um exibicionista fanático, Chansley fez greve de fome em fevereiro para exigir a inclusão de alimentos orgânicos no cardápio da prisão. Em março, concedeu da prisão uma entrevista, o que mais tarde foi repreendido pelo juiz do caso. Segundo alegou seu advogado, Albert Watkins, o xamã está “tentando se afastar e se distanciar do vórtice Q”.
No início do ano, o tribunal o submetera a uma avaliação psicológica, após o advogado dizer que seu cliente estaria tendo sua “vulnerabilidade da saúde mental” afetada pela prisão, e o juiz Lamberth decidiu que o ‘xamã’ era “competente para se declarar culpado”. Chansley agradeceu na época a disposição do tribunal em examinar suas “vulnerabilidades mentais” e acrescentou esperar que o juiz “não tenha se ofendido com nada (que) eu disse ao psiquiatra” – só queria dizer que o juiz deveria ser “imparcial”.