Desmontou a Secretaria de Segurança na véspera dos atos terroristas e viajou “tranquilo” para os EUA. Acusou cinicamente a PM do DF pela sabotagem ao plano de segurança para o 8 de janeiro
O ex-ministro da Justiça Anderson Torres, flagrado com um plano de golpe de Estado, mentiu nesta terça-feira (8), em depoimento à CPI dos Atos Golpistas, dizendo que “nunca” questionou o resultado das eleições de 2022. Disse, também, que os acampamentos, de onde partiram os grupos fascistas para a invasão dos Três Poderes, estavam vazios na sexta-feira, dia 6 de janeiro, dois dias antes das depredações.
Torres abandonou o País na condição de secretário de Segurança do Distrito Federal, desmontou a Secretaria, da qual era titular, e foi para a Disneylândia. Disse que não viajaria se soubesse dos perigos. No entanto, há vários avisos da inteligência entregues ao então secretário alertando para os riscos de invasão dos prédios públicos.
No dia 12 de dezembro de 2022, ocorreu a tentativa de invasão do prédio da PF e uma quebradeira no centro de Brasília e, no dia 24, um atentado (frustrado) à bomba no aeroporto de Brasília e o ex-secretário diz que viajou “tranquilo” para os EUA. O comportamento está sendo interpretado com um escárnio contra a CPI e uma tentativa de blindagem ao seu chefe, Jair Bolsonaro.
Ele acusou o Comando da Polícia Militar do Distrito Federal pela quebradeira criminosa às sedes dos Três Poderes. Tentou se esquivar de sua responsabilidade pelos atos criminosos de 8 de janeiro, acusando a PM do DF. A deputada Jandira Feghalli (PCdoB-RJ) lembrou que o ex-secretário viajou às 23 horas da sexta-feira (6) e os avisos dos riscos de invasão foram entregues a ele na tarde do dia 6 de janeiro.
O secretário, que era contra as urnas eletrônicas e que participou de lives com Bolsonaro atacando o TSE, e que foi flagrado com uma minuta de um golpe em sua casa, desmontou a secretaria e viajou para os EUA e apresentou a lorota de que estava e férias. Ele só entraria de férias oficialmente no dia 9 de janeiro.
Ele mentiu também ao afirmar que o acampamento na frente do QG do Exército, de onde partiram os terroristas para a quebradeira do Congresso, Planalto e STF, estava vazio. Imputou essa mentira ao Comandante Militar do Planalto, general Gustavo Henrique Dutra.
O ex-ministro de Bolsonaro faltou com a verdade também à comissão de inquérito ao dizer que nunca teria questionado o processo eleitoral brasileiro. Em vídeo, o deputado Rogério Correa (PT-MG), desmentiu o depoente mostrando a imagem do ex-ministro ao lado de Bolsonaro atacando as urnas eletrônicas e o Superior Tribunal Federal (STF). O ex-ministro aparece defendendo a tese derrotada pelo Congresso Nacional do retorno ao voto impresso.
Tentou se esquivar de tudo e jogar a responsabilidade pela inação criminosa da polícia na repressão aos terroristas comandados por Bolsonaro ao comando da PM do Distrito Federal. Afirmou que não sabe como a minuta do golpe de Estado flagrada em sua casa foi parar lá. O documento com o roteiro do golpe tinha, segundo perícia da PF, apenas as impressões digitais dele e de seu advogado.
Disse também que viajou “tranquilo” para os Estados Unidos, onde se encontrava Bolsonaro, dois dias antes da tentativa de golpe, mesmo com os alertas de invasão e depois do que havia ocorrido na diplomação do presidente eleito.
Anderson Torres não soube responder à pergunta do deputado Rubens Júnior (PT-MA) que quis saber os motivos dele não ter tomado conhecimento dos relatórios de inteligência alertando para os riscos das ações preparadas nos acampamentos no QG do Comando Militar. Foi desmascarado ao confirmar que o Plano de Ação Integrada de Segurança estava em vigor até a véspera da tentativa de golpe.
As mentiras do ex-ministro ficaram claras com a explicação de que o plano de ação integrada, formulado no dia 6 de janeiro, foi rasgado no dia 7, véspera dos atos terroristas. Ou seja, o próprio ex-secretário reconheceu que viajou antes das férias e deixou a Secretaria acéfala. Suas férias teriam início oficial no dia 9 de janeiro.
O próprio secretário admitiu que nunca tinha visto um plano de segurança como o que foi elaborado deixar de ser cumprido. Mas o plano foi desfeito traiçoeiramente exatamente em sua gestão. No dia 6 de janeiro, antes, portanto, de sua viagem, a Subsecretaria de Segurança Pública do DF alertava para riscos de tentativa de invasão do Congresso Nacional. Ele partiu para Orlando, nos EUA, logo em seguida à entrega destes documentos com alertas sobre as ameaças dos grupos “bolsonaro/fascistas” enfurecidos com a derrota eleitoral.