Lucro de R$ 26 bilhões em 2021 – 34,7% maior do que em 2020 – contrasta com o país em recessão e milhões de brasileiros na fome e no desemprego
O Bradesco realizou um lucro líquido de R$ 26,215 bilhões em 2021. Foi um recorde histórico e 34,7% maior do que o já polpudo lucro de R$ 19,458 bilhões em 2020. Aa carteira de crédito atingiu o montante de R$ 812,7 bilhões, a caminho do trilhão, o que representou uma alta de 18,8% sobre o volume de crédito em 31.12.2020.
O retorno sobre o patrimônio líquido atingiu os espetaculares 18,1% (ROAE, em inglês), melhor ainda do que os 14,8% de 2020. A provisão para devedores duvidosos foi de R$ R$ 15,035 bilhões, o que representou uma reversão de R$ 10, 719 bilhões em relação à provisão de 2020.
As receitas com prestação de serviços foram de R$ 34,099 bilhões, 4,1% maiores que os R$ 32,747 bilhões cobrados dos correntistas em 2020. A margem financeira total em 2021 totalizou R$ 63,980 bilhões. Em 2020 totalizou R$ 63,128 bilhões.
O comunicado do Bradesco feito no Relatório de Análise Econômica e Financeira, divulgado na terça-feira (8), em seu primeiro parágrafo apresenta a síntese do que a direção banco entende dos resultados que obteve no ano, assim expressa:
“2021 foi um ano desafiador, marcado pela consistente recuperação de resultados em meio a um cenário de incertezas globais, elevação das taxas de juros e altas na inflação. Bom desempenho das receitas com a margem financeira com clientes e prestação de serviços, aliadas às menores despesas com PDD e eficiente controle dos custos, contribuíram para o forte crescimento de 35% do lucro no ano, superando períodos anteriores (+1,3% vs 2019). Alcançamos praticamente todas as estimativas do guidance de 2021“.
A saúde do banco ao que se vê está excelente, motivo de gozo para os acionistas que receberão uma nova ação para cada 10 papéis que possuírem. O banco aumentará seu capital em R$ 4 bilhões com o uso das reservas de lucros. Não há informação, mas é aceitável supor que os diretores também receberão bônus pelos resultados em 2021.
Vale registrar que o Santander anunciou no começo do mês a realização um lucro líquido de R$ 16,347 em 2021 e um retorno sobre o patrimônio de 21,2 % ao ano, resultados também cantados do em verso e prosa pela “fantástica” competência do banco.
Com taxas de juros na estratosfera, com uma dívida pública cativa rendendo cachoeiras de juros, com os empréstimos regulares mais as operações compromissadas pagando juros dos restos de dinheiro diários nas contas bancárias, o que se vê é um sistema financeiro ganhando os tubos de dinheiro, enquanto a economia afunda numa recessão desumana.
Os números de desempregados, subempregados, biscateiros, desalentados, pobreza, miséria, moradores de rua e famintos não param de crescer, assim como a quebradeira de pequenas e micro empresas, as dificuldades e a regressão por que passa a indústria, o comércio e os serviços, que não conseguem se equilibrar.
Até a potente indústria automotiva aponta o estrago da crônica escalada dos juros, enquanto Bolsonaro e Guedes continuam ver a economia “crescer”, certamente, apenas lendo os relatórios dos bancos, seguradoras, companhias de capitalização, consórcios e bolsa de valores.
Desde 2010, e mesmo antes, o Bradesco realiza lucros anormais, afirmação que vale para Itaú, Santander e a maioria dos bancos no Brasil. Com um recuo ou outro, o lucro é ascendente e a rentabilidade, em 18,1% ao ano, dispara entre as maiores entre os bancos de todo planeta.
Em 2020, em plena pandemia, o Bradesco exibe um lucro de 19,5 bilhões, um pouco a mais do que aos R$ 19,0 bilhões realizados em 2017. Agora em 2021, ainda sob a pandemia e todas as adversidades econômicas e sociais, conseguiu o maior lucro da sua história.
Os ganhos de vento em poupa dos bancos estão ancorados nas taxas de juros mais altas ou mesmo extorsivas do mundo, respaldadas pela política monetária vigente em todos esses anos. A dívida pública da União há décadas foi capturada pelos bancos.
Da mesma forma, qualquer correntista em algum momento com dificuldades em suas contas cai no rotativo do cartão de crédito e acaba ficando refém da dívida junto à instituição financeira na qual é correntista. No caso da dívida pública, já houve, inclusive, quem ganhou para que ela aumentasse e mais refém dela o Estado ficasse.
Nessas circunstâncias, a dívida tem sido uma fonte inesgotável de receitas de juros e lucros. O relatório do banco e, isso também vale para os demais, nem apresenta, desde há muito tempo, as receitas de juros e os custos pela tomada de dinheiro no mercado para destinar fundos aos empréstimos.
O resultado de receitas e custos permitiriam saber qual o lucro bruto e a efetiva margem dos ganhos da carteira de operações de crédito. O relatório só informa que em 2021 a “margem financeira total” foi de R$ 63,980 bilhões, subtraindo receitas e custos da informação desse resultado.
Não há também a informação de quanto do total da carteira – de R$ 812,7 bilhões de crédito – é destinada ao setor público, especialmente com a dívida pública e o setor privado. A falta dessas informações impedem ver o quanto das receitas do Bradesco, o que mais uma vez vale para os demais bancos, têm origem nas “tetas” do estado.
No âmbito de todo sistema financeiro, o total de crédito concedido é de R$ 4.684,2 trilhões para o setor privado. Na mesma data de 31.12.2021, a dívida pública da União foi calculada pelo Banco Central (BC) em R$ 6,697 trilhões.
Numa matemática simples, sem considerar os empréstimos às estatais, os bancos têm emprestado algo em torno de 41,16% dos seus créditos para pessoas e empresas e, aproximadamente, 58,84% da dívida pública. Ou seja, algo como 3/5 dos seus lucros vêm da rolagem da dívida.
Enquanto a taxa básica de juros da economia de outros países, inclusive os Estado Unidos, são negativas, o que permite a rolagem da dívida pública até sem ônus, o Brasil elevou a taxa básica (Selic) para 10,75% ao ano, alcançando, cm isso, a maior taxa real de juros do mundo.
Em recente entrevista ao O Estado de São Paulo, o economista-chefe do Itaú Unibanco, Mario Mesquita, expressou sua opinião sobre o aumento juros. “Se voltarmos a ter uma trajetória forte de crescimento sustentado no gasto público, vamos viver com taxa de juros mais alta”.
Não ocorre ao sr. Mesquita que o gasto público de qualidade pode e deve ser feito e seria viável se financiado a taxas civilizadas, inclusive para reduzir os lucros dos bancos e conter a drenagem de riquezas que a política econômica de antes e de hoje fez e faz, subtraindo recursos de todos os demais setores, do trabalho e da produção, e, em grande medida, esterilizados na ciranda financeira.
J.AMARO