“A pandemia foi devastadora para a vida financeira de consumidores e de alguns prestadores de serviços com a suspensão de procedimentos, mas fez muito bem às contas dos planos de saúde”, diz Idec
Em meio à pandemia, os planos de saúde registraram lucro líquido 22% maior no primeiro trimestre deste ano na comparação com o mesmo período do ano passado, informou a Agência Nacional de Saúde (ANS). Além do aumento do número de segurados, as operadoras lucraram – e muito – com o já conhecido e pernicioso aumento dos planos acima da inflação. Com a suspensão do reajuste no ano passado, em função da pandemia, as operadoras de saúde receberam autorização para cobrar o acumulado de uma vez só, fazendo com que o aumento de alguns planos este ano chegue a 35%.
Neste mesmo período, apesar da crise sanitária, o custo assistencial não aumentou na mesma medida: de acordo com a ANS, os planos estão gastando 8,7% mais com procedimentos, internações e consultas. Gastando menos do que se deveria para atender aos usuários, o caos da superlotação de leitos que estampa os noticiários não se restringe ao SUS: em março, alguns hospitais privados do país chegaram a ter 100% de lotação.
O índice de reajuste dos planos de saúde privados deste ano será aprovado nos próximos dias, com pressão das operadoras de que seja na casa dos 10% alegando aumento dos custos.
O Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) contesta:
“Todos os indicadores oficiais demonstram que a saúde financeira das empresas vai muito bem, obrigada. A pandemia foi devastadora para a vida financeira de consumidores, de alguns prestadores de serviços, com a suspensão de procedimentos, mas fez muito bem às contas dos planos de saúde. Parece haver um esforço do setor para tornar ruins os indicadores que se apresentam para justificar reajustes altos em 2021, o que não tem justificativa”, diz Ana Carolina Navarrette, coordenadora do programa de Saúde do instituto.
Segundo ela, o congelamento do reajuste ano passado não afetou as receitas das operadoras e o recebimento dos valores represados esse ano beneficiou grandemente a saúde financeira das empresas. Além do mais, houve o ingresso de pelo menos 1,4 milhão de beneficiários novos desde junho. No ano passado, o lucro líquido das operadoras de planos de saúde cresceu 49,5%, segundo dados também da ANS.
“O aumento de beneficiários resulta, de imediato, no aumento de receitas, e tende a só afetar as despesas assistenciais quando ultrapassado o período de carência para utilização da cobertura do plano. Os dados do 1º trimestre mostram não apenas o aumento do lucro líquido das operadoras, mas, também, da margem que esse lucro representa em relação às receitas de mensalidades”, afirma Rodrigo Leal, especialista em regulação econômica de plano de saúde, membro da Associação Brasileira de Economia de Saúde (Abres).
O Idec coordena, desde abril deste ano, a campanha “Chega de aumento”, pedindo para que o percentual seja próximo de zero ou negativo (desconto na mensalidade).
“As famílias estão fazendo esforços enormes em um cenário de pandemia para pagar as contas e não vão sair do plano de saúde. Um reajuste zero ou negativo daria um fôlego para o consumidor”, complementa Ana Navarrete, argumentando que os salários não são reajustados na mesma medida, ainda mais em um período de desemprego a níveis recordes como o deste ano.
Percentual de aumento em 2021
A ANS autorizou a cobrança a partir de outubro do aumento represado de 8,14% para planos individuais e de 15% para planos coletivos do ano passado. Adicionando o reajuste do ano corrente e a aplicação do reajuste por idade, o aumento poderá chegar a 35% no valor das mensalidades ao longo deste ano para planos coletivos; para os individuais, de 18,9%.