Durante a pandemia, num primeiro momento, poucos esperavam o aumento dos negócios por parte de empresas. No entanto, enquanto a maior parte delas amargavam queda no faturamento, demissões de funcionários, queda nos lucros ou mesmo prejuízo, sem contar as centenas de milhares que tiveram de fechar suas portas, algumas outras estão saindo no lucro sobre a calamidade da pandemia.
A JBS, maior produtora de proteína animal do mundo, teve lucro líquido recorde de R$ 3,4 bilhões, entre abril e junho deste ano, auge da pandemia do novo coronavírus. Contabilizou salto de 54,8% na rentabilidade em relação ao mesmo período do ano anterior.
A Camil, uma das maiores no ramo de alimentos da América do Sul, especializada no beneficiamento de arroz e feijão, mais do que dobrou o lucro líquido, entre o primeiro trimestre de 2020 e o mesmo período de 2019, passando de R$ 49,8 milhões para R$ 109,5 milhões, um avanço de 120%, conforme reportagem do Correio Braziliense.
Os bancos também estão garantindo seus resultados. Sem reduzir suas taxas de juros de um lado, e reduzindo seus custos de captação do outro, aumentaram suas margens de lucro no curso da pandemia.
Além disso, o governo está fazendo pagamentos de juros e amortizações da dívida pública poucas vezes em níveis tão altos. Acima da programação orçamentária, o governo, acompanhando a decisão de Paulo Guedes, está pagando R$ 350 bilhões dos lucros do Banco Central para essa finalidade.
Não são ganhos normais das atividades das empresas. São ganhos resultantes da especulação dos preços de produtos básicos da alimentação, a exemplo da alta de preços do arroz que agitou toda a economia nos últimos dias.
São ganhos sobre o aumento nos preços de outros produtos ou serviços que tiveram aumento de demanda, que a pandemia deveria conter a ganância de se aproveitar da situação.
Tão ruim ou pior que esse tipo de vantagens sobre a calamidade que a sociedade atravessa, especialmente sobre as populações mais vulneráveis, somente a omissão de Bolsonaro dando as costas para o problema. https://horadopovo.com.br/bolsonaro-diz-que-explosao-do-preco-do-arroz-nao-e-problema-dele/
“A Covid-19 não é igual para todos”, disse Katia Maia, diretora executiva da Oxfam seção Brasil, quando da publicação do relatório mundial da organização não governamental, que busca soluções para os problemas da pobreza, das desigualdades e injustiças, divulgado no final de julho.
Considerando apenas o período de março a junho, o relatório já apontava que 42 bilionários brasileiros aumentaram suas fortunas em 34 bilhões de dólares ou 177 bilhões de reais, números baseados no ranking de bilionários da revista Forbes.
São aos pobres e miseráveis, os invisíveis, que a pandemia trouxe veementemente à tona, que são especialmente impostas essas distorções.
O Indicador de Inflação por Faixa de Renda do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), divulgado na segunda-feira (14), calculou que em 12 meses, o acumulado do índice para famílias mais pobres é de 3,20%, mais do que o dobro (1,54%) das famílias mais ricas.
O Ipea constatou, ainda, que o grupo de despesas que está mais pressionando a inflação é o de alimentos no domicílio, que tem maior peso na cesta de consumo das famílias mais pobres.
Em termos do planeta, os números também impressionam. Enquanto 400 milhões de trabalhadores perderam o emprego, as 32 empresas mais lucrativas do mundo conseguiram se blindar das consequências econômicas da Covid-19 e aumentaram o lucro em até R$ 577 bilhões a mais em 2020, considerando o período da pandemia em relação aos anos anteriores.
J.AMARO