Na última quinta-feira (01/03), o ex-presidente Lula discorreu sobre diversos assuntos, em uma entrevista à jornalista Mônica Bergamo, do jornal “Folha de S. Paulo”. Além de afirmar que não poderia saber o que ocorria em seu governo – ‘como um pai não sabe o que seus filhos estão fazendo’ -, de insinuar que Palocci, seu ex-homem de confiança e caixa de campanha, ‘gosta de dinheiro’, e de garantir que Moro, os procuradores e os delegados da PF estão todos a serviço dos EUA, Lula saiu em defesa do mandato de Michel Temer contra um suposto golpe que teriam tentado dar contra o peemedebista.
Sobre Antônio Palocci, Lula insinuou que seu ex-auxiliar, seu caixa de campanha, homem de sua inteira confiança, seu conselheiro, seu ministro da Fazenda, depois ministro de Dilma, por indicação sua, teria desviado dinheiro. É o que concluímos, ao atentarmos para o que disse o ex-presidente na entrevista à Folha, quando perguntado sobre Palocci:
“É uma pena. A história dele se esvaiu com isso. O Palocci demonstrou gostar de dinheiro. Quem faz delação quer ficar com uma parte daquilo de que se apoderou. Não vejo outra explicação”, disse Lula.
Ou seja, pelo que Lula afirma, Palocci se apoderou de parte do dinheiro quando este era seu auxiliar. Se ele “gosta de dinheiro” e quis ficar com uma parte daquilo que se apoderou, isso é uma confissão de que houve roubo em seu governo e de que uma parte do que foi desviado ficou com Palocci. Essa confissão pode ser consciente ou não, mas complica bem a já complicada situação de Lula perante a Justiça e a opinião pública.
Já sobre o “golpe” contra Temer, a que Lula se refere, seriam as denúncias feitas pelo Ministério Público Federal e a Polícia Federal no caso da propina acertada na garagem do Palácio do Jaburu numa conversa cavilosa entre o presidente e o dono da JBS, Joesley Batista. Todo o processo, como as imagens de Rocha Loures correndo com a mala abarrotada de propinas, as gravações e depoimentos comprometedores contra Michel Temer, etc, foram caracterizados por Lula como uma tentativa de golpe que, ‘felizmente’, Temer teria vencido.
É o que pode ser constatado neste trecho da entrevista, onde Lula diz:
“E é importante ter em conta que o Temer teve uma vitória quando derrubou o golpe que a TV Globo, o [ex-procurador-geral Rodrigo] Janot e o [empresário] Joesley [Batista] tentaram dar nele”, disse.
A intenção de Lula parece evidente na entrevista. Seu plano é consolidar o acordão contra a Lava Jato que vem sendo costurado desde que Romero Jucá, presidente nacional do PMDB, disse que tinham que “estancar a sangria”, referindo-se às investigações da Polícia Federal e do Ministério Público contra a corrupção.
Lula com isso desmoraliza a campanha de seus aliados contra os ‘golpistas’ do PMDB – que teriam derrubado Dilma – e sinaliza para Temer que está do seu lado contra o “golpe da Globo e do MPF”. E espera dele uma forcinha para tentar [ele Lula] se livrar também das garras da Justiça. Ou seja, para Lula, o “Fora Temer”, gritado nas ruas, fazia parte do tal “golpe jurídico-midiático” contra o peemedebista.
Seguem os principais trechos da entrevista relativos ao suposto golpe que só Lula viu contra Temer:
“Eu respeito que todo mundo seja candidato. Até o Temer resolveu ser! Qual é a aposta dele? É a de defender os seus três anos de mandato.
(…) E é importante ter em conta que o Temer teve uma vitória quando derrubou o golpe que a TV Globo, o [ex-procurador-geral Rodrigo] Janot e o [empresário] Joesley [Batista] tentaram dar nele.
Aquele golpe tinha como pressuposto básico o Temer cair, o Rodrigo Maia assumir a presidência e o Janot ter um terceiro mandato [na PGR]”.
A repórter questiona se ele acha que a Globo tentou dar um golpe.
“Acho. Eu acho”, responde Lula.
E por que isso ocorreria?, indaga novamente a entrevistadora.
“Porque era importante manter o Janot. Era importante tirar o Temer. E era importante colocar o Rodrigo Maia. Isso para mim tá claro”.
De novo a repórter. Mas por que Rodrigo Maia, se o Temer tem uma plataforma…
[Interrompendo] “O Temer se prestou a fazer o serviço do golpe. Mas não era uma figura palatável, e houve uma tentativa de golpe. Senão, me explica o que aconteceu?”
Não pode ser jornalismo simplesmente?, perguntou Mônica Bergamo
Jornalismo de quem? respondeu Lula
Da Rede Globo, disse a repórter.
“Você acha que na Globo alguém faz jornalismo livre? O jornalista decide e faz uma denúncia como aquela que foi feita contra o Temer?”, rebateu Lula.
“No mesmo dia já tinha jornalista apostando na renúncia do Temer. E já tava se discutindo quem ia assumir e o que ia acontecer”, acrescentou o ex-presidente.
“Ora, o Temer resolveu enfrentar. Teve a coragem de desmascarar o Janot, o Joesley e ficou presidente. E ainda ganhou duas paradas no Congresso Nacional [para impedir que o processo contra ele no STF seguisse], não se sabe a que preço. A imprensa dizia que R$ 30 bilhões foram gastos, não sei quantos bilhões. Mas ganhou”, concluiu.
SÉRGIO CRUZ