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Apesar da intenção de Lula de que os navios sejam fabricados nos estaleiros brasileiros e com conteúdo nacional, a licitação pública anunciada é internacional e pode não garantir compras internas
O presidente Lula afirmou nesta segunda-feira (17), durante a cerimônia de retomada da indústria naval e offshore brasileira, em Angra dos Reis (RJ), que o país vai deixar de importar e vai construir seus navios e plataformas dentro do Brasil. “Antes me diziam que era mais barato para a Petrobrás comprar fora, mas isso prejudica os empregos dos brasileiros”, disse Lula.
“Mesmo até 2010 essa lógica prevalecia. Diziam que era bobagem fazer sondas e plataformas aqui, porque custa menos. Mas quanto custa para o país, para o aprendizado tecnológico nosso? Quanto volta ao povo brasileiro? Obviamente é mais barato comprar de fora, mas temos que pensar no Brasil. A Petrobrás precisa ter uma vocação para ajudar a crescer esse país”, argumentou o chefe do Executivo.
“Se as pessoas não pensarem no Brasil, só pensarem no rendimento da empresa, obviamente que fica mais barato comprar qualquer coisa fora. Mas nós temos que pensar neste País. Não é o Brasil que é da Petrobrás. É a Petrobrás que é do Brasil, e portanto ela precisa ter a vocação de ajudar o Brasil”, prosseguiu o presidente.
A retomada da indústria naval é vista como estratégica para a geração de empregos e o desenvolvimento tecnológico do país. Nos últimos anos, o setor enfrentou uma grave crise, com o fechamento de estaleiros e a perda de milhares de postos de trabalho. Com os novos investimentos, o governo pretende reverter esse quadro e impulsionar a fabricação de embarcações para atender às demandas da Petrobrás e da Transpetro.
Lula citou o protecionismo anunciado por Trump. “Temos que ter em conta que estamos em um mundo muito competitivo. Vamos levar em consideração o que diz o presidente dos EUA. Eles se comportavam como referência, e lá havia muitas oportunidades. Mas chegaram para construir uma base militar mundial. Entra um presidente e destrói o consenso de Washington, de abrir as fronteiras e o livre comércio. Com base nisso, acabamos com a nossa indústria de autopeças, fomos destruindo nossas indústrias”, ressaltou o presidente.
Lula prosseguiu na mesma direção e disse que o Brasil não pode aceitar desaforo. “Agora entra o novo presidente, com o discurso ‘América para os americanos’. Os imigrantes estão sendo mandados embora, mas eles ajudaram a construir os EUA e a fazer os trabalhos que os americanos não queriam fazer. Cadê a democracia? Cadê o respeito ao livre trânsito do ser humano e ao livre comércio? Somos um país de paz, queremos que todos gostem da gente e gostamos de todos. Vamos fazer isso, e não vamos aceitar nenhum desaforo”, afirmou Lula.
O presidente falou dos aumentos dos combustíveis, defendeu que a estatal faça vendas diretas e criticou os intermediários e as privatizações de ativos da Petrobrás, entre elas a BR Distribuidora. “A Petrobrás precisa vender para os grandes consumidores direto o diesel, a gasolina e o gás, para baratear. O povo é assaltado pelo intermediário. Me senti tão ofendido quando privatizaram a BR Distribuidora. Quem ganhou? A Petrobras, o povo? Não. Quem ganhou foi quem comprou, e muito barato”, afirmou.
Os ataques feitos contra a Petrobrás visam, na opinião de Lula, enfraquecer o país e beneficiar empresas estrangeiras. “A Petrobrás nasceu por persistência de um presidente da República, um dos poucos que tinha um espírito nacionalista. A Petrobrás foi crescendo aos trancos e barrancos, mas sempre havia alguém que tinha a perspectiva de destruí-la. Passaram então a privatizar pedaços da Petrobras e diziam que era bobagem investir e que o bom era pagar dividendos”, denunciou.
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“A expectativa é que essas iniciativas impulsionem a geração de empregos e ampliem a participação da indústria brasileira no setor naval e offshore. A contratação dos gaseiros está em linha com os esforços para renovação e ampliação da frota da Transpetro e com o aumento gradativo da produção de gás natural. Além disso, vai proporcionar menor exposição aos afretamentos”, ressaltou a presidente da Petrobrás, Magda Chambriard.
Apesar da intenção de Lula de que os navios sejam fabricados nos estaleiros brasileiros e com conteúdo nacional, a licitação pública anunciada esta manhã é internacional, o que não garante que o objetivo do presidente seja atingido.
O objetivo do certame é a aquisição de oito navios gaseiros com capacidades de 7 mil, 10 mil e 14 mil metros cúbicos e integra o Programa de Renovação e Ampliação da Frota do Sistema Petrobrás, que teve início em julho de 2024 e concluiu em janeiro a contratação de quatro navios da classe handy.
Neste novo evento, foi lançada a segunda licitação para Ampliação da Frota do Sistema Petrobrás e foram assinados protocolos de intenções para o reaproveitamento de plataformas da Petrobrás em fase de desmobilização.
A contratação vai triplicar a capacidade da Transpetro para transportar GLP e derivados e permitir à companhia carregar amônia. A ampliação da frota de gaseiros, de seis para 14 navios, leva em conta o aumento de produção de gás natural no país e pretende atender a demanda na costa brasileira e na navegação fluvial, como já ocorre na Região Norte do país e na Lagoa dos Patos, no Rio Grande do Sul.
As empresas interessadas terão 90 dias para apresentar as propostas. De acordo com o cronograma, o primeiro navio deve ser lançado em até 30 meses após a formalização do contrato. Os demais devem ser entregues sucessivamente a cada seis meses. Os futuros gaseiros serão até 20% mais eficientes em termos de consumo, propiciarão redução de 30% nas emissões de gases do efeito estufa e estarão aptos para atuar em portos eletrificados.
O presidente Lula estava acompanhado do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, da presidenta da Petrobrás, Magda Chambriard, do vice-presidente Geraldo Alckmin, do presidente da Transpetro, Sérgio Bacci e de vários outros ministros e parlamentares.
A solenidade foi seguida da “Feira de Negócios da Indústria Naval e Offshore Brasileira”, iniciativa da Petrobrás e do Ministério de Minas e Energia, com a participação de representantes e agentes do setor.