
Ele visitou o Mausoléu do Presidente Ho Chi Minh, onde também depositou coroa de flores e foi recebido numa Cerimônia de Boas-Vindas no Palácio Imperial
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva denunciou nesta sexta-feira (28), no Vietnã, a tentativa de se implantar novamente um clima de guerra fria no mundo. A preocupação se refere às ultimas medidas tomadas pelo presidente dos EUA, Donald Trump.
“Como expoentes da construção de uma ordem multipolar, a América Latina e o Sudeste Asiático devem evitar uma nova divisão do globo em zonas de influência. Ainda que de formas distintas, Vietnã e Brasil sofreram os efeitos da guerra fria e sabem que o melhor caminho é o do não-alinhamento”, disse o presidente.
Antes de reunir-se com o presidente vietnamita, Lula abriu suas atividades com a cerimônia de aposição de coroa de flores no Monumento aos Heróis e Mártires da Guerra do Vietnã. Ele visitou o Mausoléu do Presidente Ho Chi Minh, onde também depositou coroa de flores e foi recebido numa Cerimônia de Boas-Vindas no Palácio Imperial, com execução do Hino Nacional, revista às tropas, homenagens prestadas pelo governo vietnamita ao presidente brasileiro.
Além da reunião com o presidente do Vietnã, Lula participou de encontros com os líderes dos outros três pilares do sistema político vietnamita: o primeiro-ministro, Pham Minh Chính; o presidente da Assembleia Nacional, Tran Thanh Man; e o secretário-geral do Partido Comunista, Tô Lâm. Ao final, o presidente brasileiro participa da recepção oficial oferecida pelo presidente Luong Cuong.

O Vietnã é um exemplo de heroísmo para todo o mundo. Na segunda metade do século passado o país asiático sofreu uma intervenção direta do imperialismo estadunidense e impôs uma derrota acachapante às tropas invasoras. A vitória militar que uniu o país – dividido artificialmente pelo império – foi conduzida pelo dirigente vietnamita Ho Chi Minh, líder marxista que foi primeiro-ministro do Vietnã do Norte de 1945 a 1955 e Presidente do país de 1945 até sua morte em 1969.
No campo de batalha os méritos da vitória foram para o general Vo Nguyen Giap que entrou para a história como um dos maiores gênios militares de todos os tempos. O conflito foi encerrado em 1975 com a vitória dos vietnamitas e a expulsão das tropas americanas. De lá até hoje o país vem reconstruindo com sucesso a sua economia da destruição imposta pelos bombardeios criminosos do regime estadunidense. O Vietnã é considerado hoje um país que, após se libertar do jugo do imperialismo, avança na construção do socialismo.
Lula fez a avaliação sobre a situação internacional ao lado do presidente do Vietnã, Luong Cuong. O líder brasileiro cumpre agenda em Hanói após concluir sua viagem ao Japão, onde teve encontros com o imperador Naruhito, o primeiro-ministro Shigeru Ishiba e empresários. A viagem ao Vitenã visa ampliar parcerias de negócios entre os dois países. O líder brasileiro mantém a postura tradicional da diplomacia do país de apostar no multilateralismo, um mundo sem a influência exagerada e o alinhamento automático às superpotências.
O chefe do Executivo brasileiro defendeu uma integração maior do Mercosul (Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai e Bolívia) com o Vietnã. Isso poderia ser feito, segundo o presidente, por meio de acordos comerciais, a exemplo do negociado com a União Europeia. “A presidência brasileira do Mercosul, que se iniciará em julho, vai trabalhar em prol de um acordo com o Vietnã que seja equilibrado e beneficie os dois lados”, afirmou.
O Vietnã consolidou-se como principal origem das importações brasileiras oriundas da ASEAN (Associação de Nações do Sudeste Asiático), além de ter sido o 14º fornecedor mundial de produtos para o Brasil.
O Brasil exporta mais para o Vietnã do que para Portugal, Reino Unido, França ou Paraguai. O Vietnã ocupa a quinta posição entre os países de destino de produtos do agronegócio brasileiro. O Brasil fornece cerca de 70% da soja importada pelo Vietnã, além de ser o principal fornecedor de carne suína (cerca de 37%), o segundo maior de carne de frango e de algodão.
Os dois países assinaram o Plano de Ação para Implementação da Parceria Estratégica para o período 2025 a 2030. O documento foi assinado na capital vietnamita.
O plano reúne prioridades do relacionamento bilateral em assuntos como defesa, economia, comércio e investimentos; agricultura e segurança alimentar e nutricional; ciência, tecnologia e inovação; meio ambiente e sustentabilidade; transição energética e cooperação sociocultural e assuntos consulares. A Parceria Estratégica pretende aprofundar o diálogo político, reforçar a cooperação econômica, intensificar o fluxo de comércio e os investimentos, fortalecer a coordenação em temas da agenda multilateral e impulsionar novas iniciativas de cooperação.
Lula destacou que as duas nações são emergentes e que podem transformar a relação entre ele como uma parceria estratégia. O fluxo de comércio entre Brasil e Vietnã se aproxima de US$ 8 bilhões e tem um campo muito grande para crescer. “Adotamos um plano de ação abrangente para o período 2025-2030, que nos ajudará a avançar em diversas áreas”, afirmou Lula em declaração à imprensa, após reunir-se com o líder vietnamita.
Os acordos preveem também a abertura do país asiático à carne bovina brasileira. “A abertura do mercado vietnamita para a carne bovina brasileira atrairá investimentos de frigoríficos do Brasil para fazer deste país uma plataforma de exportação para o Sudeste Asiático”, afirmou o presidente.

Para Lula, além das exportações ligadas ao setor de alimentos, o Brasil tem potencial para investir em produtos de valor agregado. “Já contribuímos para a segurança alimentar do Vietnã e queremos ampliar a exportação de bens de maior valor agregado, incluindo aeronaves. Espero que a Vietnã Airlines avalie positivamente a oferta da Embraer para jatos da família E-Jets, ideais para a conectividade regional”.
Um caminho adicional apontado pelo líder brasileiro no fortalecimento das relações entre as duas nações é em torno do café, com os dois países atuando em pesquisas para tornar o grão mais resistente aos impactos da mudança do clima.
“Vietnã e Brasil são os dois maiores produtores mundiais de café e ambos tivemos safras recentes afetadas pela mudança do clima. Estamos determinados a ampliar nosso intercâmbio técnico para fortalecer a resiliência da cultura do café. O Vietnã pode se beneficiar do Fundo Florestas Tropicais para Sempre, proposto pelo Brasil, e ser remunerado por seu esforço de preservação ambiental”, disse o presidente brasileiro.