“O Haddad veio aqui, falou bonito, mas não falou de dinheiro”, disse Lula no aniversário da Embrapa. “É um absurdo deixar de fazer uma pesquisa porque falta um milhão, dois milhões. Eu diria que é irresponsabilidade de todo mundo”, observou o presidente
O presidente Lula fez uma cobrança pública de seu ministro da Fazenda, Fernando Haddad, durante as comemorações dos 51 anos da Embrapa nesta quinta-feira (25), que revela bem como a insistência da equipe econômica em manter a meta de zerar o déficit fiscal primário – sem contar os juros – em 2024 atrapalha os objetivos do governo de promover a retomada do desenvolvimento brasileiro.
Mesmo em clima de festa, quando o presidente perguntou aos presentes ao galpão da Embrapa em Brasília, onde o ato foi realizado, se a instituição estava recebendo os recursos necessários para desenvolver suas pesquisas, o auditório respondeu unânime que não. Foi nesta hora que Lula fez a cobrança ao ministro Fernando Haddad e ao ministro da Agricultura, Carlos Fávaro.
“O Haddad veio aqui, falou bonito, mas não falou de dinheiro. Aí eu falei, ele tratou com o meu ministro da Agricultura, o Fávaro. O Fávaro é que vai falar de dinheiro. O Fávaro é quem falou, falou, falou, puxou o saco dos funcionários e também não falou de dinheiro. A única que falou de dinheiro foi a única que não assinou nenhum protocolo, que foi a companheira Luciana, ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação”, disse Lula.
Ele destacou que e Embrapa é uma instituição que é motivo de orgulho dos brasileiros na condição de um grande centro de excelência. No entanto, disse Lula “muitas vezes não consegue fazer uma pesquisa porque faltam trinta milhões, porque faltam quinze milhões, porque faltam dez milhões”. “Ou seja, é uma coisa tão absurda a gente imaginar que um centro de conhecimento como a Embrapa, deixa de fazer uma pesquisa porque falta um milhão, dois milhões, que eu diria que é irresponsabilidade de todo mundo”, observou o presidente.
Assista a solenidade de 51 anos da Embrapa
Em seu discurso, Lula citou ainda como exemplo da atuação da Embrapa a transformação ocorrida no Cerrado nas últimas décadas. “Quem é mais velho sabe que há 40 anos, há 50 anos, ninguém dava um tostão furado por uma terra no Cerrado. ‘Essa terra não presta, as árvores nem crescem, as árvores ficam tortas.’ Até que veio a Embrapa, com pesquisa, e transformou o Cerrado brasileiro numa coisa extraordinária de produção agrícola, fazendo com que o Brasil chegasse ao topo da produção, com pouca gente no mundo capaz de competir com o Brasil”, recordou o presidente.
“Se a Embrapa é importante, cabe a nós, do governo, dar à Embrapa o tamanho que ela merece”, continuou Lula. O presidente assumiu o compromisso de continuar a investir na empresa para que ela possa continuar a crescer e ajudar o país nos desafios que terá pela frente nos próximos anos. Lula recebeu de presente uma muda de pequi sem espinhos da presidenta da Embrapa, Silvia Massruhá.
A ministra Luciana Santos anunciou que sua pasta investirá mais de R$ 21 milhões no âmbito do Fundo Nacional do Desenvolvimento de Ciência e Tecnologia para a contratação de encomendas junto à Embrapa, em 2024 e 2025, no Programa de Segurança Alimentar para erradicação da fome e a inclusão socioprodutiva com foco para o desenvolvimento de pesquisas e soluções tecnológicas para a ampliar o acesso à água no semiárido brasileiro. “A Embrapa é um exemplo do que a nossa inteligência é capaz de fazer. Se hoje nosso país é referência em ciência e tecnologia para a agricultura e estamos entre os maiores produtores de alimentos do mundo muito se deve à Embrapa”, ressaltou a ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação.
Silvia Massruhá, presidente da Embrapa, apresentou números que demostram a capacidade de retorno e celebrou a retomada dos investimentos na empresa. “Nosso balanço social de 2023 mostra um lucro social de mais de R$ 85 bilhões. Para cada R$ 1 investido na Embrapa, retornam R$ 21. Contribuímos indiretamente com mais de 66 mil empregos. Graças ao novo PAC, voltamos a ter recursos para investimento em pesquisa e infraestrutura.”
A presidente da Embrapa listou alguns dos objetivos do trabalho desenvolvido pela empresa. “Derrotar a fome, garantir a segurança alimentar no nosso país e no mundo, o acesso a alimentos saudáveis e de qualidade para todos os cidadãos, a promoção da melhoria do bem-estar e de qualidade de vida, o desenvolvimento sustentável, o enfrentamento dos efeitos da mudança do clima, a redução das desigualdades no campo, fazendo com que o conhecimento e a inovação tecnológica produzidos alcance o pequeno, o médio, o grande produtor rural” destacou.
O evento contou com a presença dos ministros Fernando Haddad (Fazenda), Carlos Fávaro Agricultura e Pecuária), Luciana Santos (Ciência, Tecnologia e Inovação), Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar), Ester Dweck (Gestão e Inovação em Serviços Públicos) e Márcio Macêdo (Secretaria-Geral), além da primeira-dama, Janja da Silva. As comemorações dos 51 anos da Embrapa prosseguem até o sábado, 27 de abril, com uma extensa programação de eventos, como exposição de tecnologias, lançamentos, experiências sensoriais, palestras e mesas redondas de temas técnicos.
Leia abaixo o discurso do presidente Lula na íntegra
Eu quero dizer pra vocês da alegria que eu sinto de estar nessa festa de 51 anos da Embrapa. Eu quero cumprimentar os ministros e as ministras aqui presentes, quero cumprimentar a companheira Silvia (Silvia Massruhá, presidente da Embrapa), quero cumprimentar nossa companheira indígena plantadora de café representando a comunidade indígena, quero representar os nossos convidados que estão aqui, os funcionários da Embrapa, os nossos pesquisadores e nossas pesquisadoras.
Eu vou ser muito breve porque já são uma hora da tarde. A Embrapa significa produção de alimento, produção de alimento significa acabar com a fome nesse país, eu quero dizer pra vocês que eu estou com fome e eu quero ser muito rápido pra ir comer. Mas só pra dizer pra vocês o seguinte. Eu estranhei muito quando a Silvia disse que havia 14 anos em que não vinha um presidente da República deste país visitar a Embrapa.
Eu confesso a vocês que eu não consigo entender. Eu não consigo entender como é que você tem o único e o mais importante centro de produção de conhecimento neste país na área agrícola e você passa 14 anos sem ter um presidente da República visitando isso aqui. Até pra perguntar pra presidenta da Embrapa, eu vou fazer a seguinte pergunta: “a Embrapa tem o dinheiro suficiente que as pessoas acreditam que a Embrapa tem para produzir todas as pesquisas que o Brasil precisa, que a agricultura precisa?”.
Eu notei aqui duas coisas legais. O Haddad veio aqui, falou bonito, mas não falou de dinheiro. Aí eu falei, ele tratou com o meu ministro da Agricultura, o Fávaro. O Fávaro é que vai falar de dinheiro. O Fávaro é quem falou, falou, falou, puxou o saco dos funcionários e também não falou de dinheiro. A única que falou de dinheiro foi a única que não assinou nenhum protocolo, que foi a companheira Luciana, ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação.
Eu, quando estava na presidência, nos outros mandatos meus, eu lembro que eu vim aqui uma vez, Silvia, porque teve uma denúncia falsa, ou uma matéria na imprensa falsa de uma febre, era uma nos frangos, uma gripe aviária e, na cidade de Araraquara ou de Marília, não sei quem encontrou duas galinhas e já disse um estardalhaço, que tinha gripe aviária no Brasil. Eu lembro que nós fizemos uma reunião de emergência aqui na Embrapa, nós fizemos uma reunião, inclusive com a imprensa, para eu pedir cautela à imprensa, antes de fazer uma denúncia de uma doença que causa problemas na economia brasileira e na alimentação do nosso povo, que ela pesquisasse um pesquisador, que ela entrevistasse um pesquisador para saber se tinha ou não a tal da gripe aviária. E não tinha gripe aviária.
A outra vez, era gripe suína também. Na outra vez saiu um boato de uma gripe suína que ia acabar com o rebanho de suínos no Brasil. Outra vez eu fui convidado aqui na Embrapa para a gente comer um churrasco, pela primeira vez eu conheci a picanha do porquinho, para a gente provar que a gente podia continuar comendo a carne de porco.
E agora eu estou aqui para dizer para os funcionários da Embrapa, para os nossos pesquisadores, a Embrapa é por demais importante para o nosso país. Houve um tempo que a gente tinha um ministro da Fazenda que dizia que o que faltava no Brasil era japonês. Não sei que você lembra da famosa frase de um ministro da Fazenda nos anos 70, quando ele disse que o que falta na agricultura brasileira é japonês para produzir. Esse ministro, que é uma figura muito importante no país, se esqueceu que a Embrapa tinha acabado de ser criada nos anos 70. O ministro era o Cirne Lima, o presidente era o Médici.
Porque de vez em quando a gente tem vergonha de contar a história, quando é que foi criada a Embrapa, porque ela foi criada por um militar que foi presidente num momento mais duro da política brasileira, mas que teve no seu ministério uma pessoa da qualidade do Cirne Lima e de outros pesquisadores que resolveram criar a Embrapa, que virou a mãe máxima da tecnologia brasileira no Brasil e que serve de modelo para muitos países do mundo.
Eu tive um tempo, Silvia, que eu sonhei em levar a Embrapa para o continente africano. E nós montamos um escritório da Embrapa em Gana, e lá nós mandamos dois técnicos da Embrapa, porque o nosso desejo era que a Embrapa pudesse pesquisar a savana africana, e a gente acreditava que a savana africana, com o bom manejo da terra, com a boa política de adubação, ela teria a mesma capacidade produtiva que teve o cerrado brasileiro.
Porque quem é mais velho sabe que, há 40 anos atrás, há 50 anos, ninguém dava um tostão furado por uma terra no cerrado. “Ah, essa terra não presta, as árvores nem crescem, as árvores ficam tortas”. Até que veio a Embrapa com pesquisa e transformou o cerrado brasileiro numa coisa extraordinária de produção agrícola, fazendo com que o Brasil chegasse ao topo da produção, com pouca gente no mundo capaz de competir com o Brasil. Então eu tentei isso, mas depois que eu deixei a presidência, eu acho que foi um pouco desativado, a Embrapa saiu e voltou, fecharam o escritório em Gana, e eu acho que eu estou pensando nisso outra vez.
Eu estou pensando que um país que adquirir a tecnologia, Jorge Viana, você que é presidente da Apex e que tem contribuído muito com as reuniões que eu faço nos países do exterior, levando empresários, eu acho que na próxima reunião nossa a gente tem que incluir a Embrapa nas minhas viagens internacionais para que a gente possa divulgar o centro de excelência que a gente tem nesse país, e que muitas vezes não consegue fazer uma pesquisa porque faltam trinta milhões, porque faltam quinze milhões, porque faltam dez milhões. Ou seja, é uma coisa tão absurda a gente imaginar que um centro de conhecimento como a Embrapa, deixa de fazer uma pesquisa porque falta um milhão, dois milhões, que eu diria que é irresponsabilidade de todo mundo.
Eu queria, Silvia, que você não tivesse vergonha. Vocês têm que aproveitar porque eu tenho mais dois anos e oito meses de governo, e eu quero que vocês saibam que nós, eu quero que vocês saibam que não é bondade minha, não, é reconhecimento do que a Embrapa significa para esse país. O que a gente precisa calcular é que cada centavo que a gente coloca na Embrapa retorna para esse país milhares de reais que se transformam em dólares, e que faz a gente ser o maior exportador de carne, de soja, de milho, do que quiser. Daqui a pouco a gente está exportando… Jogadores de futebol nós já somos campeões do mundo. É por isso que o tipo do Corinthians tá ruim, tá ruim porque vendeu todo mundo e ficou sem ninguém.
Então, Silvia, quando você me visitou a primeira vez, eu disse pra você apresentar um programa de Embrapa. Você tem essa Embrapa 50+. Eu vou assumir um compromisso aqui com você, com o Fávaro e com o Paulo Teixeira, que também tem mais representação no campo do que o Fávaro, porque o Fávaro é só os grandões, mas ele são os pequenininhos. Que vocês três se juntassem e que a gente fizesse uma reunião para a gente discutir quais são as necessidades da Embrapa nesse próximo período para que a gente possa atender e a Embrapa fazer jus a forma que ela tem.
No mais, gente, eu queria dizer pra vocês que a Embrapa é motivo de orgulho. É muito importante você chegar em qualquer país do mundo e você ter uma empresa da qualidade da Embrapa, que o Haddad disse a verdade. Possivelmente a Embrapa é a empresa de maior respeitabilidade do Brasil sem que a gente faça divulgação da Embrapa que a gente tem que fazer. Nós precisamos utilizar a Embrapa como se fosse a coisa mais extraordinária que os nossos olhos enxergam quando a gente quer falar da qualidade do Brasil. Então, se a Embrapa é importante, cabe a nós do governo, aos ministros, dar à Embrapa o tamanho que ela merece.
Silvia, eu quero dizer que eu fico muito orgulhoso de ter uma mulher na presidência da Embrapa. É extremamente importante que a gente vá tendo cada vez mais as mulheres ocupando cada vez mais espaço, cada vez mais espaço, cada vez mais espaço, até que a gente chegue a um dia ter que ficar se reunindo para pedir uma cota para os homens participarem da política, para pedir uma cota para os homens serem técnicos da Embrapa.
Eu espero que vocês e que você, sobretudo, Silvia, coloque em prática tudo aquilo que você sonhou. Uma coisa que você não pode esquecer nunca é o seguinte. Quando você foi convidada para a Embrapa, eu tenho certeza que aquela noite você não dormiu, e eu tenho certeza que você ficou pensando: “Eu vou ser presidente da Embrapa, eu vou fazer isso, vou fazer aquilo”. Você pensou um milhão de coisas. Você já está há um ano e pouco, você sabe o que você fez e o que você não fez. Então, nunca esqueça das coisas que você acreditava que era possível fazer. Coloque isso no papel, marque uma reunião com os dois ministros da área agrícola e vamos conversar para que você possa realizar o seu sonho e o sonho da Embrapa.
Muito obrigado e parabéns para a Embrapa.