
O presidente afirmou que o mercado deveria estar exigindo que o Banco Central baixasse os juros. Ele acrescentou que não governa “preocupado com o mercado”. “Quero me preocupar com o povo brasileiro. Quero saber como está o povo”, disse Lula. Já a Febraban pediu apoio a Haddad
O chamado “mercado”, que na verdade é apenas um punhado de bancos que manda e desmanda no Banco Central, está fazendo um grande estardalhaço sobre um inexistente descontrole fiscal no país. O objetivo desta orquestração toda é fortalecer os setores de dentro do governo que estão defendendo cortes nos investimentos e direitos sociais.
RISCO FISCAL INEXISTENTE
Eles buscam também, com essa campanha, respaldar a manutenção da segunda maior taxa de juros do mundo pelo presidente do BC, o bolsonarista Roberto Campos Neto, na reunião do Conselho de Política Monetária (Copom) que ocorrerá na próxima semana. Os juros do BC, estes sim, são os responsáveis pelo gigantesco gasto público do governo.
Os banqueiros e demais rentistas, donos de títulos públicos indexados pela taxa Selic, receberam só nos últimos 12 meses R$ 776 bilhões a título de juros. Mais do que Saúde, a Educação e Assistência Social somados.
A ganância dos bancos é tamanha que levou o presidente Lula a reagir, nesta quarta-feira (13), em Genebra, onde se encontra para a reunião da OIT. Ele afirmou que o mercado deveria fazer o contrário do que está fazendo na questão dos juros. “O mercado deveria estar exigindo que o Banco Central baixasse os juros”, disse o presidente, antes de embarcar com destino a Itália. Lula já havia afirmado antes que “equilíbrio fiscal se obtém com crescimento econômico e aumento da arrecadação” e não com cortes de investimentos.
PREOCUPAÇÃO COM O POVO
O chefe do Executivo deixou claro, também, durante uma conversa com jornalistas na Suíça, que não está se impressionando com a cruzada dos banqueiros e que sua preocupação é com a condição do povo brasileiro. “Eu não governo preocupado com o mercado. Quero me preocupar com o povo brasileiro. Quero saber como está o povo. Se o povo estiver bem, pode declarar”, disse o presidente.
“O Brasil vai no rumo que queremos que vá. Estou convencido disso. Não há nada que faça não acreditar que vamos ter um desempenho extraordinário no final do governo”, afirmou Lula. “Governar é como plantar algo. Você planta, precisa preparar a terra, jogar a água e ai vai colher, E estamos no processo de colheita das coisas boas que plantamos”, acrescentou.
FEBRABAN E O APOIO A HADDAD
Em conflito com o que disse o presidente da República em Genebra sobre os juros, o presidente da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Isaac Sidney, pediu apoio para o ministro Fernando Haddad em sua intenção de cortar investimentos e direitos sociais com o pretexto de “equilibrar as contas”. “É hora de estendermos a mão ao ministro, pois a agenda econômica vem perdendo tração e o fiscal não pode mais derreter”, afirmou o banqueiro.
DÉFICIT ZERO
Fixado na meta de zerar o déficit público a todo custo este ano, Fernando Haddad desgasta o governo ao sinalizar com a flexibilização – leia-se fim – dos pisos constitucionais da Saúde, Educação e com a redução dos benefícios previdenciários. Estas propostas têm provocado forte reação nas bases de apoio ao presidente Lula.
Indiferente ao estrago que está causando ao país e ao desgaste junto aos setores que apoiaram Lula na eleição, Fernando Haddad afirmou que vai mesmo apresentar ao presidente Lula propostas de alteração nos pisos constitucionais e desvinculação de benefícios previdenciários ao salário mínimo.
Isaac Sidney e presidentes de instituições financeiras privadas, por sua vez, informaram que vão se reunir com Haddad e o secretário-executivo da Fazenda, Dario Durigan, nesta sexta-feira (14), em São Paulo.