
“Por que um banco como o BRICS não pode ter uma moeda que pode financiar a relação comercial entre Brasil e China, entre Brasil e outros países do BRICS?”, indagou o presidente. Há a possibilidade de financiamento de projetos em moeda local”, acrescentou Lula.
O presidente Lula participou na quarta-feira (12) da posse da ex-presidente Dilma Rousseff na direção do Banco do BRICS – que reúne Brasil, Rússia, China, Índia e África do Sul – e defendeu um maior protagonismo dos países emergentes, entre eles Brasil e China, no cenário econômico internacional. Lula está na China para uma visita ao maior parceiro de negócios do Brasil.
“Pela primeira vez, um banco de desenvolvimento de alcance global é estabelecido sem a participação de países desenvolvidos em sua fase inicial. Livre, portanto, das amarras das condicionalidades impostas pelas instituições tradicionais às economias emergentes. E mais: com a possibilidade de financiamento de projetos em moeda local”, disse Lula.

“A criação deste Banco mostra que a união de países emergentes é capaz de gerar mudanças sociais e econômicas relevantes para o mundo. Não queremos ser melhores do que ninguém. Queremos as oportunidades para expandirmos nossas potencialidades, e garantir aos nossos povos dignidade, cidadania e qualidade de vida”, prosseguiu o presidente.
Ele defendeu, durante a cerimônia, que os países do bloco façam suas trocas comerciais com moedas alternativas ao dólar. Poderia ser utilizando as suas próprias moedas ou através de uma moeda criada pelo banco dos BRICS que possa facilitar o comércio entre os países, argumentou. “Precisamos ter uma moeda que transforme os países em uma situação um pouco mais tranquila”, disse presidente.
“Toda noite me pergunto por que todos os países estão obrigados a fazer o seu comércio lastreado no dólar. Por que não podemos fazer nosso comércio lastreado na nossa moeda? Por que que um banco como o BRICS não pode ter uma moeda que pode financiar a relação comercial entre Brasil e China, entre Brasil e outros países do BRICS?”, indagou o presidente brasileiro. “É difícil porque tem gente mal-acostumada porque todo mundo depende de uma única moeda”, afirmou Lula.
“Eu acho que o século 21 pode mexer com a nossa cabeça e pode nos ajudar, quem sabe, a fazer as coisas diferentes”, acrescentou Lula, durante a posse de Dilma Rousseff como presidente do Novo Banco do Desenvolvimento (NDB), em Xangai. Ele afirmou também que os demais países poderiam usar as próprias moedas nas relações comerciais, sem utilizar o dólar, “e os bancos centrais certamente poderiam cuidar disso”.
“Quem decidiu que é era o dólar a moeda depois que desapareceu o ouro como paridade? Por que não foi yene? Por que não foi o Real? Por que não foi o peso?”, indagou novamente o presidente. “Porque as nossas moedas eram fracas, as nossas moedas não têm valor em outros países. Então, se escolheu uma moeda sem levar em conta a necessidade que nós precisamos ter uma moeda que transforme os países em uma situação um pouco mais tranquila”, acrescentou.
O dólar se tornou o padrão do comércio internacional com o Acordo de Bretton Woods, conferência que decidiu lastrear a moeda americana ao ouro. A conferência ocorreu em 1944, um ano antes do fim da Segunda Guerra Mundial.
Até o início do anos 70 os EUA respeitaram o acordo. A partir daí, unilateralmente, foi rompida a paridade do dólar com o ouro. Desde então, o governo norte-americano passou a emitir dólares sem lastro e sem limites e a usá-lo fundamentalmente com o objetivo de impor seus interesses financeiros e comerciais em todo o planeta.
Em março, o Banco Central brasileiro anunciou que havia fechado um acordo com seu homólogo chinês para conversão direta das moedas dos dois países em operações comerciais. Até então, as instituições precisavam fazer as operações com a intermediação do dólar americano.
O presidente disse que o Banco dos Brics “tem um grande potencial transformador”, pois “liberta os países emergentes da submissão às instituições financeiras tradicionais”. Além dos quatro novos membros que ganhou no passado recente – Bangladesh, Egito, Emirados Árabes Unidos e Uruguai –, Lula disse que “vários outros” estão em vias de adesão. “E estou certo de que a chegada da presidenta Dilma contribuirá para esse processo”, afirmou.
Lula também visitou a sede da gigante de tecnologia Huawei e teve reuniões com executivos das áreas de energia sustentável e comunicações. No Twitter, o presidente disse que a empresa fez uma apresentação sobre 5G e soluções em telemedicina, educação e conectividade. Lula se reuniu ainda com o CEO da empresa de veículos elétricos BYD, Wang Chuanfu. A empresa produz ônibus elétricos e está negociando uma fábrica de automóveis elétricos na Bahia, em Camaçari.

Os Estados Unidos, derrotado pela China na corrida tecnológica, tem sancionado empresas chinesas com alegações de segurança, entre elas está a Huawei. Em fevereiro de 2020, o Departamento de Justiça dos Estados Unidos moveu uma ação judicial acusando a chinesa Huawei e quatro subsidiárias norte-americanas de conspirar e espionar dentro do país. Aliás, os EUA andaram destruindo até balões meteorológicos chineses com a alegação de espionagem. Há, na verdade, uma corrida tecnológica em que a China está tomando a dianteira.
No Brasil, alguns órgãos de imprensa um tanto subalternos avaliaram que as atividades de Lula na China representaram uma provocação aos Estados Unidos. Lula não fez mais do que defender os interesses brasileiros. Se os EUA estão em conflito com a China por conta dos avanços tecnológicos do país asiático, o Brasil, corretamente, não deve se somar aos EUA nesta guerra. Lula fez bem em seguir defendendo o que é melhor para o Brasil e para a relação sadia e soberana entre todos os países.