“Para não ter inflação é preciso o povo ganhar pouco. É preciso?”, questionou o presidente. “Será que essa pessoa não tem respeito? O cidadão, jovem, bem-sucedido na vida, diz o seguinte: ‘esse negócio do aumento do salário mínimo e a massa salarial crescendo pode gerar inflação’”
O presidente Lula (PT) criticou duramente, nesta sexta-feira (26), a declaração do presidente do Banco Central de que o crescimento da massa salarial é prejudicial ao país. “O cidadão, jovem, bem-sucedido na vida, diz o seguinte: ‘esse negócio do aumento do salário mínimo e a massa salarial crescendo pode gerar inflação’”, afirmou Lula, dizendo não acreditar no que viu.
Lula deu as declarações durante evento com anúncio de novas obras do PAC, no Palácio do Planalto. O presidente concluiu que, segundo Campos Neto, “para não ter inflação é preciso o povo ganhar pouco. É preciso?”, questionou o presidente. “Será que essa pessoa não tem respeito? Será que as pessoas pensam que alguém ganha um salário mínimo porque quer ganhar um salário mínimo? Será que alguém pensa que é pobre porque quer ser pobre? Não”, acrescentou.
O presidente da República se referia a uma entrevista de Roberto Campos Neto à CNN Brasil, em abril deste ano, que passou a circular nas redes sociais nos últimos dias. Naquela ocasião, o presidente do Banco Central disse que estava preocupado com um eventual impacto de pressão inflacionária à frente com a sinalização do pleno emprego.
As críticas de Lula ao presidente do Banco Central ocorrem a menos de uma semana da reunião do Copom, que na próxima semana decidirá sobre a Selic, taxa básica de juros da economia, atualmente em 10,5%. Na última reunião, o Copom interrompeu a queda das taxas de juros mantendo a o Brasil como o país com a segunda maior taxa de juros reais do mundo.
Setores empresariais elevaram o tom nesta semana contra os juros. O diretor de Desenvolvimento Industrial da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Rafael Lucchesi, defendeu nesta terça-feira (23) no evento “A indústria no Brasil hoje e amanhã”, que as taxas de juros sejam reduzidas.
“Hoje nós temos uma janela de oportunidade, mas essa janela de oportunidade ela é curta, ela é estreita, se nós ficarmos pensando apenas em equilíbrio fiscal e alocando os recursos para essa ciranda financeira, seguramente nós vamos estar condenando o futuro”, alertou empresário
O presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Josué Gomes da Silva, também foi na mesma direção. “A taxa de juros real ao longo desses 30 anos é 10 vezes maior do que a taxa de inflação. No Brasil viver de renda se tornou o bom negócio. Produzir é um péssimo negócio”, criticou o empresário no setor têxtil.
“O custo de capital absolutamente é incompatível com a atividade produtiva, especialmente de um setor que é mais intensivo em capital, seja no que se refere aos investimentos em bens de capital, em edificações e instalações, seja no que se refere ao uso de capital de trabalho, já que são os setores muito mais longos e, portanto, muito mais intensivos em capital de trabalho”, completou.
O empresário Mário Bernardini, conselheiro do Conselho Superior de Economia (Cosec) da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), afirmou que “o financiamento para a indústria é insuficiente e caro”.
“Se o sistema produtivo é um organismo, eu devo fazer uma comparação. Eu diria que o financiamento é a seiva que alimenta esse organismo. É o sangue, que nós não temos. Os vampiros tomaram, a indústria não. Então, quando você me perguntou e o financiamento?. A resposta é esta, pouco e caro”, criticou.
“Entre as causas que tornam o crédito caro no Brasil, Mario Bernardini aponta a alta taxa de juros da economia (Selic) do Banco Central, nos atuais 10,5% ao ano”, prosseguiu Bernardini.
“Você tem um custo de captação caro que é dado pela Selic. O governo faz a concorrência com todo mundo. Ele paga a 10,5%. Então, se eu quiser dinheiro, eu tenho que partir daí, ninguém vai me dar a menos, porque está perdendo dinheiro”, criticou. “Os bancos, consistentemente, no Brasil, você pegar os últimos 20 anos, pegar a curva de inflação e a curva de spread bancário, você tem um diferencial de 10 pontos percentuais”, completou o empresário.