Ele negou que a dívida esteja descontrolada. “Veja, se você pegar a média dos países da OCDE, eles gastam 113% do PIB. Se você pegar os EUA, são 123% do PIB. Se você pegar a China, 83; se pegar o Japão, são 237; se você pega a França, são 112; e a Itália, 137. E o Brasil, efetivamente, 74% a 76%. Hoje está em 76%”, disse
O presidente Lula tratou de temas sensíveis em entrevista nesta quarta-feira (26) ao site de notícias UOL. Ele garantiu que não haverá desvinculação dos benefícios da Previdência do salário-mínimo. “Garanto que o salário-mínimo não será mexido enquanto eu for Presidente da República”, afirmou o presidente ao ser questionado sobre o tema.
Um dos entrevistadores foi direto ao perguntar se junto das coisas que estão sendo estudadas pelo governo, está incluída a desvinculação do salário mínimo no Benefício de Prestação Continuada e em pensão? Lula disse que não. O repórter insistiu: O senhor garante? “Garanto que o salário mínimo não será mexido enquanto eu for Presidente da República”, respondeu o presidente.
Os jornalistas Leonardo Sakamoto e Carla Araújo não chegaram a perguntar especificamente sobre o outro alvo do mercado financeiro, e de setores do próprio governo, que é o corte de verbas da Saúde e da Educação, através da derrubada dos pisos constitucionais destes setores.
PRECISA CORTAR?
“Se você quiser investir na educação, não tem jeito, Sakamoto, você tem que contratar professor, você tem que contratar funcionário, você precisa fazer laboratórios, você precisa de mais sala de aula, não tem jeito! Esse país ainda tem menos estudantes, comparado a população, ao Chile e à Argentina”, argumentou. “O problema não é que tem que cortar. O problema é saber se precisa mesmo cortar ou se temos que aumentar a arrecadação. Temos que fazer essa discussão”, prosseguiu Lula.
Logo no início da entrevista, o chefe do Executivo se chocou com a tese defendida pela área econômica de seu governo de que a dívida pública brasileira estaria fora do controle. “É engraçado porque esse tema é mais forte no Brasil do que em qualquer outro país do mundo, então, aqui no Brasil vira e mexe as capas de jornais, as manchetes das matérias são sempre assim: “O governo está gastando demais, a dívida pública é muito alta”, a dívida pública não sei das quantas e tal, o que não é verdade. Não é verdade”, disse ele.
DÍVIDA DO BRASIL É MENOR
“Veja, se você pegar a média dos países da OCDE, eles gastam 113% do PIB. Se você pegar os Estados Unidos, são 123% do PIB. Se você pegar a China, 83; se pegar o Japão, são 237; se você pega a França, são 112; e a Itália, 137. E o Brasil, efetivamente, 74% a 76%. Hoje está em 76%”, explicou o presidente. “Está muito aquém, sabe, dos gastos que os outros países fazem”, acrescentou Lula, dizendo que isso não representa que o governo vai descuidar desse assunto.
Sobre as “ameaças fiscais”, apontadas – de forma unânime – na ata do Copom, Lula se contrapôs e negou que haja essas ameaças. Ele falou sobre a diferença entre a renda familiar e a de um país. Ele defendeu o endividamento do Estado para que o país possa crescer. “Eu, se tenho 10, não posso gastar 20. Se eu tiver que gastar 20, eu tenho então que contribuir o seguinte: Esses 20 é investimento? Se ele é investimento, essa dívida que eu vou fazer, ela tem que servir como subproduto desse investimento, a produção de uma coisa que aumenta teu capital, que aumenta teu patrimônio”, argumentou.
PAÍS NECESSITA CRESCER
Questionado sobre uma frase que teria sido dita pela economista Maria da Conceição Tavares de “que não se come o PIB”, Lula respondeu falando da necessidade do crescimento do país. “Vamos voltar à fala da Maria da Conceição Tavares. Ninguém come PIB, as pessoas comem alimento. Mas a verdade é que se o PIB não crescer, você não tem o que distribuir. Esse é o dado”, afirmou o presidente.
Assista a entrevista na íntegra (reprodução do UOL
Dois outros temas foram questionados desde o início da entrevista. Os juros proibitivos praticados pelo Banco Central, inclusive com a manutenção do Brasil na posição de vice-campeão mundial de juros altos, decidida na última reunião do Conselho de Política Monetária (Copom) – e apoiada pelos diretores indicados pelo próprio presidente -, e as isenções fiscais que, segundo Lula, chegam a mais de 600 bilhões de reais.
“A pergunta que eu faço é a seguinte: O Banco Central tem necessidade de manter a taxa de juros a 10,5% quando a inflação está a 4?”, questionou Lula, ao responder sobre o tema. “O Banco Central leva em conta que as pessoas estão tendo dificuldade de fazer financiamento? Porque é o seguinte, cara, não é culpa sequer do Banco Central, é culpa da estrutura que foi criada”, argumentou.
JUROS TÊM QUE BAIXAR
“Ou seja”, prosseguiu Lula, “o cara não pode só cuidar da inflação, precisa cuidar o seguinte: o Banco Central vai ter um plano de meta de crescimento? Eu quero controlar a inflação, mas eu quero crescer? A gente vai avançar para isso? Então, eu estou com muito cuidado, eu continuo criticando a taxa de juros. Até acho que não deveria ser o presidente que criticasse”, ponderou o presidente.
Questionado quem deveria cobrar do BC, Lula disse que “teve um tempo que a gente tinha Antônio Ermínio de Moraes, José Alencar que batia muito a taxa de juros, mas é preciso que o setor produtivo, a CNI, a Fiesp, ao invés de reclamar do governo, deveriam fazer passeata contra a taxa de juros, porque são eles que estão tendo dificuldade, são eles que não conseguem crédito, não é o governo”, destacou.
“Então o que eu acho é que nós precisamos caminhar para uma taxa de juros compatível com a necessidade de crescimento desse país, que precisa voltar a crescer mais, e ao mesmo tempo nós temos que ter o cuidado de manter a inflação controlada, porque a inflação controlada significa ganho real para os pobres desse país, e cuidar do alimento”, acrescentou Lula.
PARA DESONERAR TEM QUE TER CONTRAPARTIDAS
Sobre as desonerações, o presidente manteve as suas críticas. “Agora mesmo eu vetei a tese da desoneração: 17 setores da economia brasileira, todos muito grandes, querem desonerar o pagamento da previdência, da folha, eu vetei. Eles derrubaram o veto, e agora a Suprema Corte definiu que se em 45 dias não tiver uma compensação, o veto está derrubado. Ora, como é que a gente pode falar em gasto se a gente está abrindo mão de uma quantidade enorme de recursos que os empresários têm que pagar?”, indagou.
“Quando eu vou desonerar uma empresa, eu quero saber o seguinte: Essa empresa vai manter estabilidade no emprego? Ela vai manter por quanto tempo? Porque senão o benefício é só para empresário, não é para o trabalhador e não é para sociedade brasileira. Eu fico me perguntando: Que direito o Estado tem de abrir mão de uma determinada quantia de arrecadação para favorecer o lucro do empresário?”, prosseguiu Lula.
“Se a economia tiver em crise e tiver um setor que está mais machucado, você pode utilizar a desoneração como se fosse uma comporta numa hidrelétrica. Você desonera um pouco e fecha, desonera e fecha, desonera e fecha, mas aqui no Brasil, quando a gente aprova desoneração para cinco anos, quando chega nos cinco anos, tem projeto para desonerar mais dez, quando chega mais dez, tem mais dez e fica política perene”, completou.