Em seu primeiro podcast, Lula informou que este dia será lançado um vigoroso programa de obras em todas as áreas por todo o território brasileiro para garantir a retomada do desenvolvimento nacional
Na estreia do programa “Conversa com o Presidente”, nesta terça-feira (13), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez uma análise do momento do Brasil na economia nesses quase seis meses de terceiro mandato e anunciou planos de investimentos.
“A partir de 2 de julho vamos lançar um grande programa de obras para o desenvolvimento nacional com obras de infraestrutura em todas as áreas. Nós encontramos 14 mil obras paradas”, disse Lula.
O presidente falou ao repórter Marcos Uchôa da falta de moradias e disse que o Minha Casa, Minha Vida precisa ser trabalhado para atender trabalhadores que têm salários entre R$ 8 e R$ 12 mil, e citou a importância da retomada da política de ganho real do salário mínimo para mover a economia.
Assista ao podcast do Lula
Conversa com o Presidente https://t.co/D1Cn7pWwI7
— Lula (@LulaOficial) June 13, 2023
“Precisamos fazer o Minha Casa, Minha Vida para a classe média. O cara que ganha R$ 10 mil, R$ 12 mil, R$ 8 mil. Esse cara também quer ter uma casa. Então, vamos ter que ter capacidade de fazer uma quantidade enorme de casa para essa gente”, defendeu.
Outra preocupação de Lula é ajudar o povo e fazer crescer o mercado interno. “Uma coisa importante é que estamos preocupados em encontrar uma saída para 72 milhões de brasileiros e brasileiras que devem e estão com o nome sujo no Serasa”, apontou o chefe do Executivo. Lula disse que “quando você está na oposição, você acha, você pensa, etc, mas, quando você está no governo, você tem que fazer”.
“As pessoas devem porque usaram o cartão de crédito para comprar comida, ou devem porque usaram o cartão de crédito para enfrentar a pandemia. E queremos ajudar essa gente. Por isso é que nós estamos criando um programa chamado Desenrola. Encontrar um jeito de livrar o nome da pessoa para ela poder voltar à normalidade do consumo”, afirmou o presidente.
Ao se referir ao salário mínimo, reajustado para R$ 1.320 reais, que pela primeira vez voltou a ter aumento acima da inflação em seis anos, Lula explicou que isso é apenas o começo de um processo de recomposição que seguirá nos próximos anos.
“Quando a gente resolveu aumentar o salário mínimo a gente disse: ‘ele vai aumentar um pouquinho agora, mas, daqui para frente, todo ano o salário vai ter aumento real”, afirmou Lula.
Ele lembrou que o objetivo da isenção de imposto para quem ganha até R$ 5 mil é melhorar a vida das pessoas e crescer o poder de compra dos brasileiros.
“Já isentamos até E$ 2.600,00. Eu espero que esta isenção do Imposto de Renda esteja na faixa de R$ 5 mil até o final do mandato”, afirmou Lula. “Quando o dinheiro começa a circular, as pessoas começam a comprar e as coisas começam a acontecer”, acrescentou.
Lula citou também outras ações de seu governo, como a redução no preço dos carros populares e, no campo do agronegócio, o Mais Alimentos, para produzir tratores e implementos agrícolas para pequeno e médio produtor rural brasileiro. Segundo o presidente, esse conjunto de ações cria um ciclo virtuoso que impulsiona a economia nacional.
“Essas medidas vão gerar o emprego, o emprego vai gerar o salário, o salário vai gerar o consumidor, o consumidor vai poder ganhar mais um salário, que vai gerar mais um emprego, mais um consumidor… E, assim, a roda gigante da economia vai funcionar, esse país vai voltar a crescer e a gente vai voltar a ter o direito de ser feliz outra vez”, defendeu o presidente.
Leia entrevista na íntegra
Marcos Uchôa — Olá, pessoal. A partir dessa terça-feira a gente vai encontrar o presidente Lula para um bate papo, uma conversa, né, leve, uma conversa solta. Ele recebeu um calhamaço de papel aí com milhões de coisa. Agora imagina: 37 ministérios, fazendo coisa, viajando pelo Brasil, viajando pelo mundo, é muita coisa para conversar, claro, a gente não pode falar tudo em um programa só. Então vamos começar leve, já com cobrança. Todo mundo comentou ontem “Ministério do Namoro”, falou e agora? Deu para comemorar alguma coisa ontem?
Presidente Lula — Eu pensei, eu pensei em criar o Ministério do Namoro mas aí teria que ser eu o ministro então.
Marcos Uchôa — O Alckmin faz isso, ele pega um cargo e pega outro também, né.
Presidente Lula — Eu resolvi não criar por conta disso. Mas ontem foi um dia importante eu acho que pra quem namora e para quem é casado, espero que todo mundo tenha curtido o dia de ontem da melhor forma possível. Mas o dado é esse, Uchôa, veja, nós estamos dia primeiro de junho, seis meses depois que nós começamos a governar o país. Eu acredito que nós trabalhamos mais do que em qualquer outro momento da nossa história, porque nós encontramos o país destruído. Então era preciso reconstruir. E quem sabe, quem já reformou uma casa, quem já reformou uma garagem, quem já reformou um muro, sabe que fazer a reforma e reconstruir é muito mais difícil do que fazer uma coisa nova.
Como nós tínhamos uma quantidade enorme de políticas públicas que tinham dado certo, a gente, então, resolveu recriar essas políticas públicas para, a partir de agora, a partir do dia 2 de julho, lançar um grande programa de obras, um grande programa para o desenvolvimento nacional com a obra de infraestrutura em todas as áreas. É isso que vai acontecer no país e por isso eu estou satisfeito, sabe, com o trabalho que nós estamos fazendo.
Marcos Uchôa — Bom, 37 ministérios e muita coisa sendo feita. Agora eu queria tocar um pouquinho talvez no que toque mais as pessoas, né: o bolso. Esse órgão sensível que todos nós temos, que são várias pequenas coisas que, ao longo desses meses, a gente foi notando, né? O salário mínimo, até anotei aqui que é muita coisa, gente. Salário mínimo e aumento real, a correção da tabela do Imposto de Renda que atende a 13 milhões de pessoas, preço dos combustíveis, de gás de cozinha, em casa isso faz muita diferença. O Minha Casa, Minha Vida é uma coisa também que pra frente que também vai tocar no bolso. Antecipação do 13º dos aposentados, enfim, muita gente também. O novo Bolsa Família, que você falou que era um programa anterior. São várias coisas, mas que no final das contas você vai somando e vai melhorando a situação para as pessoas, né?
Presidente Lula — Olha, eu sempre disse, desde que eu ganhei em 2003, que governar é como você plantar uma árvore. Você plantou uma árvore frutífera, você tem que aguar, tem que ter sol e você tem que esperar os frutos aparecerem. Primeiro aparece uma flor, depois aparece um botão, depois esse fruto vai crescendo, vai ficando bom, vai ficando maduro e a gente come. Ou seja, nós estamos nessa fase de que amadureceu já. Nós já sabemos o que fazer daqui para a frente, nós sabemos que nós temos que fazer muito mais do que nós fizemos em qualquer outro mandato que nós tivemos, porque eu nós precisamos reconstruir o Brasil.
Eu chego em estado por aí, cada estado que eu chego eu pergunto se alguém lembra alguma obra de infraestrutura feita pelo governo passado. Ninguém lembra, ninguém lembra, ninguém. Em nenhum estado que eu vou ninguém lembra de obra. Então nós temos que reconstruir. Só pra você ter ideia, Uchôa, nós encontramos 14 mil obras paradas. Catorze mil. Só não área da Educação são 4 mil obras paradas. No Minha Casa, Minha Vida são milhares de casas que ficaram paradas desde o tempo do governo Dilma.
Então tudo isso é um processo de estudar para saber se a estrutura está boa pra gente reconstruir essas casas, para gente refazer a escola de tempo integral, pra gente refazer as creches, quase 3 mil creches que estavam paralisadas. Então esse trabalho é extraordinário porque o Ministério é muito bom, as pessoas são muito capazes, as pessoas estão com muita vontade, muita vontade mesmo. E eu só acho que o povo brasileiro tem que ter um pouquinho de paciência porque não vai ter fake news no nosso governo. Quando a gente resolveu aumentar o salário, muita gente disse “ele vai aumentar um pouquinho agora, mas daqui pra frente todo ano o salário mínimo vai ter aumento real”.
Quando a gente resolveu aumentar a tabela do Imposto de Renda para R$ 2.640 é porque a gente quer chegar a R$ 5 mil no final do meu mandato sem pagar imposto de renda. E assim nós vamos criando a política e vamos implementando elas. Eu, sinceramente, estou extremamente satisfeito. Eu tenho combinado viagens aqui dentro, como viagens para o exterior. Porque é preciso recuperar a capacidade do mercado interno brasileiro e o Brasil estava alijado de política internacional. Então, Uchôa, nós – e você, eu espero que acompanhe isso – nós vamos trabalhar muito, vamos trabalhar muito porque o povo brasileiro está com muita expectativa. Ele quer emprego, ele quer salário, ele quer educação de qualidade, ele quer ter área de lazer, quer ter acesso à cultura, e tudo isso está dentro do nosso planejamento para recuperar o país até 2026, entregar esse país melhor do que eu já entreguei em 2010.
Marcos Uchôa — De certa maneira, tudo isso que você está falando está um pouco encapsulado e englobado nessa viagem pra Pernambuco. Essa viagem para Pernambuco você fez uma visita a uma fábrica, incrível. Uma fábrica num lugar que era zona da mata que, o trabalho brutal que é cortar cana, sol a sol.
Presidente Lula — Aquele era um lugar de corte de cana.
Marcos Uchôa — O corte de cana acho que, talvez, é um dos trabalhos mais difíceis que tem para o ser humano. E eram seis meses de trabalho, seis meses sem trabalho, por causa da safra. E depois teve a Farmácia Popular, depois teve a questão do Instituto Federal. Educação e Saúde, que são os pilares, as coisas mais básicas, e emprego, né. Essa questão, eu acho que foi muito emocionante ver numa fábrica a quantidade de pessoas ali, carteira assinada, uniforme, o trabalho de qualidade. Eu acho que essa coisa da volta das indústrias também é uma preocupação muito grande sua.
Presidente Lula — Olha, eu não sei se você percebeu que eu nós fizemos uma redução no preço dos carros populares. Porque veja, você tem indústria automobilística produzindo carro, o povo não tem dinheiro, não pode comprar, o povo tá endividado. E uma coisa importante, Uchôa, é que nós estamos preocupados em encontrar uma saída para 72 milhões de brasileiros e brasileiras que devem. Devem qualquer coisa e estão com o nome sujo no Serasa. Ou devem porque usaram o cartão de crédito para comprar comida, ou devem porque usaram o cartão de crédito para enfrentar a pandemia. E nós queremos ajudar esta gente.
Por isso é que nós estamos criando um programa chamado Desenrola, que nós queremos desenrolar, porque ele não foi desenrolado, que vai ficar enrolado por nós. Porque nós prometemos durante a campanha e nós vamos garantir isso pro povo. Encontrar um jeito de livrar o nome da pessoa pra ela poder voltar à normalidade do consumo. Então veja, nós reduzimos um pouco o preço do carro. Você viu, estava vendo a notícia hoje que já vai acabar o programa.
Nós queremos fazer programa Mais Alimento para produzir de trator e implementos agrícolas para pequeno e médio produtor rural brasileiro. E assim as coisas vão acontecendo, vão acontecendo, vai gerar emprego, o emprego vai gerar o salário, o salário vai gerar um consumidor, o consumidor vai poder ganhar mais um salário, que vai gerar mais um emprego, mais um consumidor. E assim a roda gigante da economia vai funcionar, esse pais vai voltar a crescer e a gente vai voltar a ter o direito de ser feliz outra vez.
Marcos Uchôa — Ô, presidente, pensa bem, esses primeiros meses foi muito rápido. Essa inflação desse mês que foi a mais baixa dos últimos tempos. O crescimento desse primeiro trimestre foi altíssimo, quer dizer, o dólar baixando, a bolsa subindo, quer dizer, você esperava que desse tão certo tão rápido?
Presidente Lula — Não se trata de esperar. Você está lembrado que durante a campanha eu dizia três palavras mágicas: credibilidade, estabilidade e previsibilidade. A credibilidade é o governo tem que ter junto à sociedade, ou seja, quando o Governo falar uma coisa o empresariado tem que acreditar, o povo tem que acreditar e ela tem que acontecer. A estabilidade é a estabilidade política, a estabilidade social, porque sem essa estabilidade a gente não consegue governar. Se você não tiver segurança jurídica, não tiver segurança social de que as pessoas estão tranquilas acreditando, as coisas não dão certo.
E a outra é a previsibilidade, ou seja, é muito importante que a gente tenha a consciência que o trabalhador, desde o trabalhador mais humilde, ele tem que ter uma previsibilidade do que vai acontecer com ele durante o ano inteiro. Se ele vai ficar empregado, se ele vai ficar desempregado, se vai melhorar suas condições de trabalho. E o empresário tem que ter também essa previsibilidade para saber o seguinte: vai mudar a regra do jogo, a regra do jogo vai continuar do jeito que está, vou continuar investindo e vou investir e vou ter lucro, vou investir mais devo ter mais lucro.
Se a gente garantir isso tá resolvido o problema. É por isso que eu encontrei com a diretora do FMI, em Hiroshima. Eu disse para ela “eu vou te avisar uma coisa: a previsão do FMI sobre o crescimento do Brasil está equivocada. Quando chegar no final do ano que vem, eu vou encontrar com a senhora no G20 e vou lhe provar que a economia brasileira cresceu muito mais do que aquilo que o FMI está dizendo agora”.
Ela deu uma risada e falou: “tomara que você esteja certo”. E é verdade. Porque veja, quando o dinheiro começa a circular, quando o dinheiro começa a circular, as pessoas começam a comprar e as coisas começam a acontecer. E nós ainda temos que fazer muitas coisas.
Quando você falou de casa, nós precisamos fazer não apenas o Minha Casa, Minha Vida para as mais pobres, vamos fazer o Minha Casa, Minha Vida para a classe média. O cara que ganha R$ 10 mil, R$ 12 mil, R$ 8 mil, esse cara também quer ter uma casa. E esse cara quer ter uma casa melhor. Então nós vamos ter que ter capacidade de fazer uma quantidade enorme de casa pra essa gente. Então nós vamos ter que pensar em todos os segmentos da sociedade pra gente poder fazer com que as pessoas se sintam contempladas pelo governo.
Marcos Uchôa — Essa parte das viagens internacionais e semana que vem o senhor vai para encontrar o Papa e depois, lá na França, o Macron e outros líderes também, tem sido muito importante também para justamente recuperar, não simplesmente o prestígio e o tamanho do Brasil lá fora, mas economicamente. Trazer, abrir de novo o país porque muita coisa tem a ver com relação pessoal. Essa coisa de confiança, os encontros com os empresários que o senhor tem feito também.
Presidente Lula — Olha, ontem veio aqui a presidenta da Comissão da União Europeia. Ela é uma figura muito importante na relação comercial. E ela veio conversar comigo sobre o acordo do Mercosul e União Europeia. E eu disse pra ela que nós temos um problema que nós não aceitamos colocar compras governamentais no acordo, porque senão a gente mata a pequena e média empresa brasileira. O ela disse para mim: “presidente, o que é importante é vocês colocaram no papel que vocês querem”. Nós colocamos no papel e vamos ver se até o final do ano faz acordo.
Eu quero fazer um acordo, e se Deus quiser quero fazer até final do ano. Eu estou indo à Itália visitar o Papa. Mas sabe quantos anos faz que não vem um governante italiano ao Brasil? Muitos anos, muitas décadas.
Nós temos 30 milhões de italianos e descendentes de italianos aqui no Brasil. Eu acho que o Brasil é o maior país italiano fora da Itália. Então, o cara não vem aqui por que? Ou porque ele não é convidado ou porque ele não se sente bem vindo aqui. Então eu vou tomar a iniciativa. Eu quero não apenas encontrar com o Papa, mas eu quero encontrar com o presidente da Itália e depois eu vou participar de um debate econômico em Paris, em que eu vou fazer o encerramento de um Encontro Econômico.
Depois o Alckmin vai na Celac [Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos], que é em Bruxelas, numa reunião da América Latina com a União Europeia. Eu vou pedir pro Alckmin ir para mim poder fazer mais uma viagem aqui dentro do Brasil.
Marcos Uchôa — Essas viagens aqui do Brasil. Sexta-feira tem essa Ferrovia Norte-Sul, que é super importante, um projeto tão antigo. Se falava há tanto tempo e é o último trecho agora que vai ser inaugurado. Essa relação com o agronegócio, é muito importante. O agronegócio, obviamente, é um esteio da nossa economia. E essa coisa está se voltando a se aproximar porque, lá atrás, no seu governo se investiu muito no agronegócio.
Presidente Lula — Uchôa, deixa te falar uma coisa e falar para as pessoas que estão assistindo aqui. Eu nunca tive problema com o agronegócio. Eu nunca tive. Eu governei durante oito anos esse país. Eles sabem tudo o que nós fizemos por eles. Eles sabem que nós temos muita responsabilidade com o salto de qualidade que deu a agricultura brasileira por causa do financiamento que eu nós fazíamos, financiamento de máquina. No nosso tempo, essas máquinas colheitadeira, grande, que parece um robô, essa máquina era financiado com 2% de juros ao ano. Hoje eles estão pagando 14 ou 18% de juros ao ano.
Então eles sabem que, do ponto de vista econômico, eles não tem problema conosco. Do ponto de vista de financiamento. O problema pode ser ideológico. Se é ideológico, paciência, paciência que a gente vai estar em campos opostos. Eu fiz questão de dizer na feira de Pernambuco o seguinte: “não há incompatibilidade entre o pequeno e médio produtor e o grande produtor”. Não há incompatibilidade. Isso está na cabeça de quem não quer pensar direito.
Porque, na verdade, o Brasil precisa dos dois. Os dois são complementares, os dois ajudam o Brasil. Um produz mais para exportar e também produz para o mercado interno porque nós comemos soja através do frango, nós comemos milho através do porco que nós comemos. Então nós temos que levar em conta que também é muito importante não só para exportação, mas para o mercado interno. Mas a pequena e média agricultura é a que cria aquela galinha caipira que você gosta, aquele porquinho que você gosta, aquela frutinha que você gosta. O feijão. Então nós precisamos ajudar os dois. E eles têm que viver em paz porque cada um ajuda o outro.
O que é interessante é que eu fui na Bahia visitar uma feira, visitei máquinas importantes, mas só tinha um lugar que estava vendendo alimento, que era a barraca da pequena agricultura. Então eu acho que se as pessoas tiverem essa compreensão, e graças a Deus, o ministro Paulo Teixeira tem essa compreensão, e o Ministério do Fávaro tem essa compreensão.
E eu acho que a gente vai caminhando, vai caminhando, vai caminhando. Nós vamos anunciar o Plano Safra agora tanto para a agricultura familiar, quanto pro agronegócio e eles vão perceber que da parte do governo não há nenhuma objeção a eles. O que nós queremos é que todos produzam, cresçam e que o Brasil cresça junto.
Marcos Uchôa — Porque a agricultura familiar emprega muita gente. Porque quando a gente vê essas máquinas desse agronegócio também não é tanto emprego assim porque é muito tecnológico. E essa questão do emprego é importante porque a pessoa tem que ficar no campo, até para ficar lá querendo levar aquela vida do interior sem precisar pra cidade para uma um emprego.
Presidente Lula — Uchôa, nós temos aproximadamente 4 milhões e 600 mil propriedades com menos de 100 hectares. Essas propriedades geram bastante oportunidades de trabalho. Porque ninguém consegue produzir 50 hectares sozinho, 30 hectares sozinho, 100 hectares sozinho. Então é preciso que as pessoas tenham gente que trabalhe. Isso é importante porque o trabalho que dá dignidade à pessoa. O cidadão trabalha no final do mês leva para casa o seu salário para sustentar sua família. É isso que nós queremos, é isso que ele quer. Então nós vamos fortalecer a pequena e média propriedade. Nós vamos fortalecer o agronegócio, nós vamos continuar fazendo reforma agrária porque aonde precisar assentar gente nós vamos assentar. E é uma coisa importante. Nós estamos no governo.
Eu disse pro Paulo Teixeira esses dias: “Ô, Paulo, não precisa mais invadir terra”. Ora, se quem faz o levantamento da terra improdutiva é o Incra, o Incra comunica o governo quais são as propriedades improdutivas que existe em cada estado brasileiro e a partir daí nós vamos discutir a ocupação dessa terra. É simples. Não precisa ter barulho, não precisa ter guerra. O que precisa ter é competência e capacidade de articulação. Então falei para o Paulo Teixeira: “Paulo, eu quero que o Incra me dê a totalidade de terras ociosas que ele acha que tem no Brasil”. É em torno disso que a gente vai discutir com a Contag [Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares], com sem-terra, com a Fetraf [Federação dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar] para que a gente possa fazer os assentamentos necessários com muita tranquilidade.
Eu lembro que na campanha de 2003 nós fizemos uma pesquisa se o povo queria a reforma agrária ampla ou radical sob o controle dos trabalhadores. Eu dizia isso no comício, eu falava bravo. Uma vez uma mulher falou assim: “Ô, Lula, porque você não fala mais calmo. Você gritando assim você me assusta”. Aí o Duda Mendonça fez uma pesquisa. Você sabe o que deu na pesquisa? O povo queria a reforma agrária tranquila e pacífica. Então é essa reforma agrária que nós vamos fazer no país.
Marcos Uchôa — Usando o Incra e usando os canais competentes. Ninguém precisa forçar barra.
Presidente Lula — E colocando os trabalhadores que querem trabalhar para trabalhar. Não tem problema, não tem porque haver luta, não tem porque haver guerra. O que tem que haver é compreensão de que o Brasil precisa ter segurança alimentar e por isso o Brasil precisa produzir muito para que a gente tenha, inclusive, o estoque regulador.
A gente agora repartiu a Conab com a agricultura familiar e agricultura empresarial, porque é preciso que a gente tenha um estoque regulador. Um país precisa de um estoque regulador. Se tiver uma crise de alimentos no mundo nós temos que ter a garantia de que não vai faltar o arroz e nem o feijão pro nosso povo. Daí porque a gente tem que incentivar o plantio e ainda pro pequeno nós precisamos criar uma coisa chamada preço mínimo para que a gente garanta que o cidadão, ao plantar, e quando ele colher se tiver baixo preço ele não perca. Que ele receba pelo menos do que ele investiu. E aí o Brasil vai voltar a ficar tranquila outra vez.
Marcos Uchôa — Nessas viagens do interior, eu queria uma coisa mais pessoal do senhor, presidente. Lá atrás, 20 anos atrás, exatamente, quando começou 2003. E você começava a viajar pelo Brasil como presidente e não como candidato. E essas viagens de agora o quê que, às vezes, você se vê comparando o lá atrás e o agora.
Presidente Lula — Uchôa, eu viajo o Brasil, na verdade desde 1975, depois eu comecei a viajar por conta das greves, e depois por conta da criação do PT. O que mais me emociona hoje é que eu encontro mulheres com criança no colo que me procuram com uma foto mostrando uma criança no meu colo. A criança no meu colo é ela que agora é mãe e ela pede para tirar fotografias com o filho, a filha dela para guardar de lembrança. Então existe uma história criada nesse país ao longo de tantos e tantos anos, porque não tem ninguém neste país que viaja o Brasil o tanto que eu viajo ou que já viajou o Brasil tanto que eu viajo, então isso criou uma história, criou uma coisa que eu fico muito orgulhoso porque às vezes eu choro, às vezes eu encontro pessoas.
Você viu que naquele dia eu falei da caneta quando eu tomei posse. Foi da caneta que eu ganhei 89. Pois bem, apareceu o cara da caneta, o cara da caneta ligou para cá pra falar “fui o que dei a caneta”. E eu fiquei muito emocionado porque estas coisas acontecem muito comigo e eu encontro muita gente agora que ajudou a fundar o PT, que ajudou a fundar a CUT, que fez greve em São Bernardo, que trabalhou na Volkswagen, na Mercedes, que trabalhava em São Paulo, e toda essa gente que eu encontro pela rua me dá uma, me dá um frisson de emoção porque eu acho que eu estou ficando um pouco mais experiente, não mais velho, mais experiente, e a gente vai ficando com o emocional mais forte, mais forte. Eu me emociono com muito mais facilidade.
Mas o que é importante é o seguinte: está nascendo uma juventude que quer um Brasil melhor do que aquele que eu queria quando eu tinha 18 anos de idade. O mundo evoluiu, as pessoas mudaram e nós não podemos permitir que as coisas ruins tomem conta da humanidade. Nós precisamos acabar com a fake news, por isso eu queria aproveitar, Uchôa, e fazer um apelo: eu já fiz em Recife aos estudantes no Instituto Federal de Paulista, é importante que todas as pessoas que tem idade para se inscrever para o Enem se inscrevam até o dia 16, porque o Enem estava muito desativado, o Enem esteve um pouco desmoralizado e nós precisamos recuperar a força do Enem, porque o Enem foi a coisa mais extraordinária! Nós chegamos a ter 16 milhões de pessoas inscritas. Então é importante que todo mundo que queira fazer universidade se inscreva no Enem até o dia 16 de junho, para que você possa ter a oportunidade de entrar numa universidade, fazer um curso e virar doutora ou doutor.
Marcos Uchôa — Sim, esse sonho de ser doutor é uma coisa né, é uma coisa que é muito nossa né, é o casa própria, dar casa para a mãe, e essa coisa do estudo né, e eu me lembro que você falou uma coisa da tua experiência própria de família mesmo, dessa coisa de o que que mudou para a tua vida o fato de você ter tido uma oportunidade que a tua família, teus irmãos não tiveram.
Presidente Lula — Uchôa, eu sempre conto a minha história porque ela é o exemplo mais o fácil das pessoas entenderem. Eu, por conta de uma profissão, eu ganhei mais do que o salário mínimo, fui o primeiro a ter um carro, uma geladeira, uma televisão, e depois eu virei dirigente sindical e presidente da República. Quando você não tem profissão, você não tem emprego, ninguém te quer, você chega na porta de uma fábrica, falam “o que você sabe fazer”? “Nada”, então você não serve. Então é importante estudar, eu sei que é cansativo com que tem 16, 17, 18, 19, 20 anos, você pensa que o mundo nunca vai acabar, você pensa que a vida nunca vai terminar e você só quer namorar, só quer zoar, só quer ir para a balada, não.
Dediquem tempo para estudar, porque esses 4 ou 5 anos que você estudar vai te dar garantia por resto da vida cara. Faça isso, faça isso, quem tá pedindo é alguém que já teve 16 anos, que já teve 18, que já teve 20, que já teve 25 anos, que já gostou de balada, que saía quinta-feira de casa e voltava só no domingo à noite, e minha mãe me esperando. Então, não jogue fora esse tempo precioso da sua juventude, namore quanto você quiser vá pra balada que você quiser, mas dedica um tempo para você estudar porque é isto que vai garantir o teu futuro e da tua família.
Marcos Uchôa — Quando você vê esses jovens no Instituto Federal de Paulista — era uma garotada que estava ali à frente à tua frente e possivelmente eram os filhos daqueles que você viu 20 anos atrás né. Você vê já uma cara de esperança?
Presidente Lula — Eu vejo, eu vejo, e eu tento sempre que possível falar muito de esperança porque nessa idade a gente não tem problema, nessa idade não tem coisa ruim. Eu quando tinha 20 anos de idade, dava enchentes no lugar que eu morava, entrava um metro e meio de água dentro de casa e você acha que eu ficava chorando? Não. A gente, eu e meus irmãos, tirava minha mãe de dentro, levantava o que tinha que levantar, eu pegava uma câmara de pneu de caminhão, amarrava uma corda e um companheiro meu, sabe, ia comigo ele segurando a corda e eu de casa em cada vendo se tinha gente para tirar, se alguém precisava ajuda. Aí terminava aquilo e eu ia pro salão onde estava todo mundo dormindo no chão e a gente ficava fazendo festa até o dia amanhecer.
Então com 20 anos de idade, com 16, com 17, com 18, não há tempo para desanimar, não há tempo mesmo. O mundo pode ser feito de alegria, o mundo pode ser feito de muita alegria, e esta alegria está dentro de você, é só você colocar ela pra fora. Um menino de 20 anos ou uma menina não tem como acordar cedo, acordar nervoso, acordar sem perspectiva de vida.
Eu que tenho 70 anos de idade ainda tenho sonhos, ainda tenho sonhos e quero realizá-los. Eu sonho que esse país vai melhorar, eu sonho que a juventude vai melhorar de vida, que vai estudar, que vai ter emprego. Eu sonho que as coisas vão melhorar pra todo mundo. Então, por favor, não parem de sonhar, não parem de acreditar. E a gente tem que sonhar grande porque se a gente sonha pequeno o que a gente vai construir é pequeno e eu sonho sempre coisas grandes porque assim eu estou motivado a construir as coisas que eu sonhei.
Marcos Uchôa — Talvez, vejo no senhor no sentimento de urgência, o sentimento de impaciência, de que as coisas se resolvam melhor e muito rápido né. Você já estava com isso o que se sente assim quando se fala “ai eu quero nesse mandato fazer mais do que eu fiz nos outros dois”?
Presidente Lula — O problema, o problema é que o mandato é muito curto. Em um país em que você tem todas as dificuldades legais para fazer uma obra qualquer, para fazer um investimento qualquer, que você tem fiscalização, que você tem Tribunal de Contas, que você tem impeditivos, que você tem o Congresso, que muitas coisas tem que passar pelo Congresso, é normal. Às vezes, em um mandato de quatro anos às vezes você não consegue aprovar um projeto importante.
Se a gente for lembrar do Obama, o Obama quase que não aprovou nenhum projeto nos Estados Unidos. Então eu tenho pressa, eu tenho pressa, e essa pressa eu costumo passar para meus ministros, eu costumo passar, e cada um que eu converso, e quinta-feira vou ter uma reunião com os ministérios para cobrar pressa. Não há tempo a perder, não há tempo para conversa fiada não. Nós temos que levantar de manhã trabalhando, parar de trabalhar o mais tarde possível da noite e no dia seguinte levantar cedo outra vez.
O povo está precisando ver o Brasil andar de cabeça erguida, e nós fomos eleitos para isso. É isso eu passo para os meus ministros e minhas ministras. Nada de ter medo de cara feia, nada de ficar colocando “ah, mas tem dificuldade”, a dificuldade existe pra gente vencer, sabe, quando a gente é oposição aí você fala “eu acho, eu penso, eu acredito” mas quando você governa você não acha, não pensa, não acredita, você faz ou não faz, e nós temos que fazer. É isso, simples assim, nós temos que fazer. O tempo do acha era o tempo da eleição, o tempo do acredita era no tempo da eleição. Agora não, agora é fazer, se tem uma coisa difícil e tem, desenrole e faça porque é assim que a gente governa um país.
Marcos Uchôa — Eu acho que estamos muito bem para terminar essa entrevista com esse final porque esse final é muito otimista e é muito positivo. Uma coisinha mais leve para terminar: A seleção brasileira vai jogar aí dois jogos, e essa seleção brasileira pensando daqui à Copa do Mundo — já 24 anos a gente sem ganhar. Guiné, Senegal são os amistosos e sem técnico. Faltava o Ministério da Seleção Brasileira?
Presidente Lula — Eu acho que é triste isso, eu acho que é triste, a gente tem uma seleção que é considerada a melhor seleção do mundo, e a gente não tem técnico. O que é mais grave é que eu acho que a gente hoje não consegue formar uma grande seleção porque a gente não tem um jogador da qualidade que a gente teve em 70, todos os homens formados, todo mundo calejado, a gente não tinha só a meninada, a gente tinha homens jogando na seleção, a começar pelo Pelé com 30 anos de idade. Eu lamento, eu estou mais triste pelo Corinthians, o Corinthians tá caindo aos pedaços, eu assisti ao jogo do Corinthians eu tenho vontade de deitar no sofá e não levantar durante muito tempo de vergonha, o time não está jogando bem, não está jogando bem. O meu Vasco também não está jogando bem, eu sou vascaíno e brigo muito com a Janja que ela é flamenguista, mas eu acho que não está bem.
O futebol brasileiro não está bem, a gente já não é mais o melhor futebol do mundo. Hoje a gente virou um país exportador de jovens jogadores que ficam experientes do exterior — a gente vende eles com 17 e compra eles com 34. Essa é a lógica do futebol brasileiro. Então eu lamento que a nossa seleção ainda não esteja preparada para disputar grandes eventos. Esses dias eu ouvi que a seleção sub-20 brasileira, com jogadores experientes, perdeu para Israel, não tem explicação.
Marcos Uchôa — Presidente, vamos encerrar aqui, mas eu gostaria que o senhor falasse uma coisa. Essa foi a primeira das conversas que a gente vai ter, vão ter muitas aí agora ainda para frente, e é importante a gente falar com as pessoas que estão na cidade, que estão indo trabalhar agora, que já estão no trabalho, as pessoas que estão em casa ainda cuidando dos filhos, uma mensagem sobre essa importância da gente falar com as pessoas diretamente.
Presidente Lula — Ora, eu gosto de falar, eu gosto de falar, eu gosto de programa de rádio, eu gosto de programa de televisão, eu gosto de falar porque quando a gente fala a gente passa uma mensagem e se a gente passar a mensagem correta a gente convence a pessoa a pessoa fazer uma coisa boa. Eu, você e milhões de pessoas decentes neste país estamos numa guerra contra a fake news. Nós precisamos derrotar o ódio, e nós precisamos valorizar a fraternidade, a solidariedade, valorizar o amor. Então, eu acho que nós estamos numa fase de muito trabalho.
Eu, da minha parte, Uchôa, eu quero que você saiba o seguinte: toda terça-feira estarei pronto para discutir o assunto que você entender que deve ser discutido, você é o jornalista, você pensa o assunto e você chega: “vou checar esse cara e eu vou ver se esse cara está preparado, vou ver se esse cara sabe das coisas”, porque eu acho que o povo vai gostar, o povo vai gostar, a gente pode ter começar com 10 pessoas vendo a gente, daqui a pouco vai ter 20, e daqui a pouco vai ter 30, daqui a pouco vai ter 50 e daqui a pouco a gente está falando pro Brasil inteiro.
E é isso, estou muito feliz de você estar aqui, muito feliz de trabalhar com a figura extraordinária como você, não apenas como profissional mas como homem, como ser humano. E eu acho que a nossa Secom [Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República] ela acertou muito quando te contratou.
Marcos Uchôa — Obrigado, presidente, eu queria agradecer todo mundo que está ouvindo a gente. E gente, como as coisas mudaram né, antes tinha que ouvir ao vivo mas depois você também vai encontrar isso também no YouTube, vai poder ouvir mais tarde, as pessoas que estão em casa, estão no carro, estão trabalhando, estão ouvindo a gente agora e vão poder ouvir depois também. Foi um prazer realmente estar aqui presidente, vai ser um prazer enorme realmente repetir encontros toda terça-feira. Grande abraço para todo mundo e um bom dia para todo mundo.
Presidente Lula — Um abraço, gente, até a próxima terça-feira, se Deus quiser. Abraço, Uchôa.