Foi preciso a intervenção federal para deter os golpistas. Órgão de Inteligência, assim como o GSI e o Comando da PM-DF, estavam bichados. Agora, os “lunáticos”, como disse Dino, pensam que podem inverter a história
A informação obtida pela Folha de S. Paulo de que a Abin (Agência Brasileira de Inteligência) teria alertado com antecedência o GSI (Gabinete de Segurança Institucional) e o Ministério da Justiça sobre os atos violentos de 8 de janeiro, confirma que, tanto as equipes do GSI como boa parte do comando da PM do DF, que foram acionadas para deter os terroristas, estava comprometida com os atos golpistas.
O próprio ministro da Justiça, Flávio Dino, foi explícito ao afirmar que uma reunião havia sido feita em 6 de janeiro com a Secretaria de Segurança Pública de Brasília, responsável constitucional pelos efetivos e pela segurança da capital para garantir a segurança dos Três Poderes.
Todos sabiam que havia uma trama golpista em andamento. A reunião foi exatamente para preparar tudo contra os fascistas instigados por Bolsonaro. Dino disse que todas as providências haviam sido tomadas e que a sabotagem de Anderson Torres, que está preso até hoje, foi decisiva para que os terroristas conseguissem invadir as sedes dos Três Poderes. Aliás, até o governador de Brasília foi afastado por causa desta sabotagem orquestrada.
O Ministério da Justiça disse também que todas as medidas foram tomadas, independente dessas alegadas “informações” da Abin. Ele afirmou que nenhum dos dirigentes da nova gestão foi convidado para participar do grupo de WhatsApp gerenciado pela Abin para receber relatórios sobre os atos do dia 8 de janeiro.
O ministro da Justiça também negou ter recebido os informes da Abin. “Inventaram que eu recebi um informe da Abin, que é tão secreto que ninguém nunca leu, nem eu mesmo. Por quê? Por uma razão objetiva: eu jamais o recebi”, disse Dino em audiência na Câmara no mês passado.
As imagens divulgadas recentemente sobre a invasão do Palácio do Planalto também confirmaram que a sabotagem à favor do golpe não ocorreu só na cúpula da Polícia Militar do DF. Os golpistas estavam concentrados também no GSI. Quase toda a equipe deste órgão era ainda vinculada ao general Augusto Heleno, um instigador do golpe.
Num primeiro momento, as imagens, editadas pela emissora americana CNN, pareciam comprometer o general Gonçalves Dias, que havia sido indicado por Lula para chefiar o órgão.
No entanto, a divulgação das imagens na sua integralidade – sem nenhuma edição – mostrou que o general não apoiou os terroristas, como alegaram os bolsonaristas.
As imagens revelaram e que a sabotagem bolsonarista foi grande neste órgão. Militares ligados à gestão anterior apareceram apoiando os invasores. Não foi à toa que mais de 80 servidores do GSI já foram exonerados nos últimos dias pelo chefe interino do órgão, Ricardo Capelli. O próprio Capelli afirmou que as imagens integrais comprovaram que eram descabidas as acusações feitas ao general Gonçalves Dias.
O ministro da Justiça, Flávio Dino considerou lunática a tentativa dos bolsonaristas de tentar transformar o novo governo em culpado pela tentativa de golpe que eles mesmos tentaram impor ao país.
Foram exatamente as medidas tomadas pelo governo Lula, como a intervenção na Segurança Pública do DF, o afastamento do governador e a prisão de Anderson Torres que bloquearam a marcha golpista.
Outra medida decisiva foi a prisão de mais de mil golpistas apoiadores de Bolsonaro que estavam acampados em frente ao comando Militar do Planalto. O próprio acampamento já era um absurdo, como bem disse, recentemente, o presidente do STM, Brigadeiro Joseli Parente Camelo. Ele destacou que o governo Bolsonaro incentivou fanáticos e golpistas e que isso envolveu alguns militares das FFAA.
Há de se considerar que, além da denúncia de Flávio Dino de que as mensagens da Abin devem ter sido enviadas para outras pessoas e que ele não recebeu nada, este órgão foi um dos primeiros a serem aparelhados pelo governo Bolsonaro.
Quando o Supremo Tribunal Federal (STF) impediu que o delegado Alexandre Ramagem, amigo de Eduardo Bolsonaro, assumisse a chefia da Polícia Federal, Bolsonaro o indicou para o comando da Abin. O órgão passou a ser usado para perseguir servidores da Receita e jornalistas que criticavam o governo. Não há, portanto, nenhuma credibilidade em seus “informes” sobre o golpe.