“Se algum elemento individualmente teve sua participação, ele vai responder como cidadão”, afirmou o ministro da Defesa. Lula levou o presidente da Fiesp, Josué Gomes, e outros cinco empresários do setor de defesa à reunião para discutir com os militares investimentos no setor
O ministro da Defesa, José Múcio, afirmou, logo após a reunião de Lula com os comandantes militares das três forças, realizada manhã desta sexta-feira (20), que não houve envolvimento direto das Forças Armadas na tentativa de golpe dos bolsonaristas.
“Agora, se algum elemento individualmente teve sua participação, ele vai responder como cidadão”, afirmou o ministro.
Múcio deu uma pequena entrevista aos jornalistas assim que a reunião do presidente Lula (PT) com os comandantes das Forças Armadas terminou. Os demais participantes do encontro não deram declarações. Ele disse que as possíveis punições aos golpistas não foram discutidas por se tratar de um assunto da Justiça. “Estamos aguardando comprovações para que providências sejam — e serão — tomadas”, garantiu.
Ele informou, também, que os comandantes das Forças Armadas concordam com punições a militares que tenham participado dos atos. Múcio explicou, ainda, que os militares estão “atrás ou aguardando” as comprovações de eventuais violações de regras da carreira militar para a tomada de providências.
Na última quarta-feira (18), em entrevista a Natuza Nery, da GloboNews, o presidente Lula defendeu punições a militares que tenham envolvimento com os ataques golpistas em Brasília.
“O soldado, o coronel, o sargento, o tenente, o general, ele tem direito de voto, ele tem direito de escolher quem ele quiser para votar. Agora, como ele é um cargo de carreira, ele defende o estado brasileiro. Ele não é Exército do Lula, ele não é do Bolsonaro, não foi do Collor, não foi do Fernando Henrique Cardoso”, afirmou o presidente.
Múcio foi questionado sobre a declaração do presidente e disse que o Ministério da Defesa “acolhe” o posicionamento do presidente da República. “Os militares estão cientes e concordam que nós vamos tomar as providências. Evidentemente que, no calor da emoção, nós precisamos ter cuidado para que essas acusações sejam justas, para que as penas sejam justas. Mas tudo será providenciado em seu tempo”, acrescentou.
Esta avaliação do ministro da Defesa, de que a tentativa de golpe de Bolsonaro e de suas hordas fascistas fracassou e que as Forças Armadas, como instituição, não se deixaram envolver nas armações golpistas criminosas urdidas nos porões do Planalto, coincide com outras avaliações feitas por diversos setores da sociedade, de que, no fundamental, o país inteiro, inclusive as Forças Armadas, uniu-se, isolou e derrotou os fascistas.
A ação conjunta da Polícia Militar do Distrito Federal, já sob o comando do interventor federal, indicado pelo ministro da Justiça Flávio Dino, e o Exército, no dia seguinte ao vandalismo dos terroristas, desativando o acampamento em frente ao QG e prendendo cerca de 1.200 pessoas, é uma demonstração clara disso e também da derrota do golpismo.
Mesmo que tenha havido diferenças de opinião de qual seria o melhor momento para prender os terroristas no acampamento, o que acabou acontecendo foi uma ação conjunta das forças de segurança do DF e do Exército contra os golpistas. Essa atitude do Exército deixou furiosas as hordas fascistas que apostavam tudo em seu envolvimento na ação para derrubar Lula.
Puxada pelo próprio Lula, cresce no país a visão de que é necessário punir exemplarmente os elementos envolvidos nos atentados terroristas para que episódios lamentáveis como aqueles que foram vistos no dia 8 de janeiro na sede dos Três Poderes não se repitam nunca mais no país.
Há uma preocupação também, por parte do presidente, de se virar logo essa página obscura vivida pelo país para que se possa cuidar da retomada do crescimento econômico e da melhoria da vida do povo brasileiro. Dentro desta linha do presidente, ganha força a discussão sobre os investimentos públicos necessários na indústria da defesa.
Lula está dando grande importância aos recursos para que as Forças Armadas possam cumprir adequadamente a sua função constitucional de defesa das fronteiras e da soberania do país. Por isso, a intenção, já anunciada por Lula, se confirmou neste primeiro encontro, ou seja, foram discutidos centralmente nesta ocasião os projetos de “investimentos na indústria de defesa do Brasil’.
O ministro da Defesa também afirmou aos jornalistas que um novo episódio como o que ocorreu na Praça dos Três Poderes, que atingiu o Palácio do Planalto, o Congresso Nacional e o STF (Supremo Tribunal Federal), não vai voltar a acontecer no Brasil, porque as Forças Armadas “vão se antecipar”.
A afirmação está sendo vista como uma reavaliação da visão anterior do ministro – um tanto defensiva – de como melhor enfrentar as ameaças e artimanhas dos golpistas e dos infiltrados bolsonaristas nas forças de Segurança, inclusive nas Forças Armadas.
O próprio ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa, apontou na terça-feira (17), depois de também se reunir com os comandantes, que a principal pautas dessas reuniões seriam os debates sobre a necessária “modernização das Forças Armadas”, com investimento do governo federal em ciência e tecnologia militar.
Não foi por outro motivo que o presidente Lula convidou o presidente da Fiesp (Federação das Indústrias de São Paulo), Josué Gomes, e mais cinco empresários do setor da indústria de defesa, para participarem da reunião. O presidente da Fiesp e os empresários do setor estão atualmente discutindo novos projetos de investimento da indústria de defesa do país.
‘Se os senhores me perguntarem, como me perguntou, se nós tratamos sobre o dia 8 [de janeiro], nós não tratamos. Isso está com a Justiça. Nós tratamos da capacidade de geração de emprego que o Brasil tem na indústria de defesa. E teve a presença do presidente da Fiesp, Josué, e de outros cinco empresários todos propondo soluções para que nós coloquemos recursos na indústria de defesa brasileira”, afirmou Mucio.
Além do presidente da República e do presidente da Fiesp, Josué Gomes, participaram da reunião com os comandantes militares outros cinco empresários ligados à indústria de defesa do país. Juntos, estavam o ministro da Defesa, José Mucio, o vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, e o ministro chefe da Casa Civil, Rui Costa.