“Hoje nós temos um fluxo de US$ 6,8 bilhões. O primeiro-ministro disse que quer ver se, até 2030, nós chegamos a dez bilhões de dólares. Eu acho que é plenamente possível”, disse o presidente
O presidente Lula se reuniu nesta segunda-feira (25) com o primeiro-ministro do Vietnã, Pham Minh Chinh. O encontro serviu, segundo o Palácio do Planalto, “para potencializar acordos econômicos e cooperações entre Brasil e Vietnã, reforçar o interesse comum dos dois países em reformas de instituições multilaterais e projetar um novo horizonte para as relações diplomáticas entre a nação asiática e o Brasil, que completam 35 anos em 2024”.
A reunião marcou o segundo encontro entre os dois líderes em quatro meses. Lula e Minh Chinh já haviam conversado no fim de maio, em Hiroshima, no Japão, à margem da Cúpula do G7. “É um prazer rever o primeiro-ministro Pham Minh Chính, depois do nosso encontro à margem da cúpula do G7, em Hiroshima”, disse Lula.
“Eu lembro, com muito carinho, da minha visita a Hanói, em 2008. Os avanços econômicos e sociais do Vietnã, na última década, são impressionantes. A economia vietnamita cresceu a uma média de quase 6% ao ano e mais de dez milhões de pessoas, o equivalente a quase 10% da população, saindo da extrema pobreza”, acrescentou.
Lula destacou os pontos em comum que unem os dois países. “Somos dois países do Sul Global, comprometidos com a paz, com o multilateralismo, o desenvolvimento sustentável e o combate à fome e à pobreza. Desejamos maior representatividade na governança internacional. Todo mundo sabe o desempenho que o Brasil está fazendo, já há muito tempo, para que a gente possa ter uma governança global mais ativa, mais representativa e com muito mais poder decisório, sobretudo quando se trata de conflitos ou da questão climática”, afirmou o presidente.
O Vietnã é o sexto maior destino dos produtos do agronegócio brasileiro e os dois lados entendem que ainda há grande espaço para ampliação de relações comerciais tanto em proteína animal e agricultura quanto em setores como biocombustíveis, energia renovável e transição para economia de baixo carbono.
“Conversamos também sobre nossas relações comerciais, que vêm crescendo continuamente há mais de dez anos. Hoje nós temos um fluxo de seis bilhões e oitocentos milhões de dólares. O primeiro-ministro disse que quer ver se, até 2030, nós chegamos a dez bilhões de dólares. Eu acho que é plenamente possível a partir dessa reunião, com as nossas visitas entre os dois países, a gente poder crescer muito”, disse Lula.
O presidente brasileiro falou em ampliação da pauta, inclusive com produtos de maior valor agregado. “O Brasil exporta para o Vietnã praticamente o mesmo que para a França, com quem temos uma longa relação estratégica. Somos hoje um dos principais fornecedores de soja, carnes e algodão para o mercado e queremos incluir nisso produtos manufaturados de maior valor agregado”, prosseguiu o líder brasileiro.
O primeiro-ministro vietnamita alinhou-se ao Brasil ao se dizer convencido de que é preciso trabalhar pela paz no âmbito global. Ele elogiou o posicionamento brasileiro na Assembleia Geral das Nações Unidas, na última semana, em torno da necessidade de reformas dos organismos multilaterais para espelhar a geopolítica atual e defendeu uma vaga permanente para o Brasil no Conselho de Segurança da ONU.
“Apoiamos reformas das instituições multilaterais para aumentar a voz do mundo em desenvolvimento, democratizando e dando efetividade a elas”, disse o primeiro-ministro vietnamita, que ressaltou ainda ter boas expectativas quanto ao período de Presidência do Brasil no G20 e que será parceiro na cobrança de compromissos assumidos pelos países desenvolvidos nas conferências mundiais do clima.
Ele ainda ressaltou o interesse em um acordo bilateral de facilitação de investimentos e um multilateral entre a Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN) e o Mercosul, apoiado pelo Brasil durante sua Presidência do bloco continental.
Ao ressaltar a importância das relações entre os dois países, o presidente Lula parabenizou Minh Chinh pelas comemorações referentes aos 77 anos de independência do Vietnã, no último dia 2 de setembro.
Pham Minh Chinh destacou o desenvolvimento da economia brasileira e destacou que Vietnã e Brasil têm crescido em ritmo parecido. Ao agradecer a forma cordial como foi recebido, Minh Chinh convidou Lula para uma visita oficial ao Vietnã.
O presidente Lula reforçou que o Brasil tem interesse em aperfeiçoar as relações com o Vietnã também na área da defesa e no intercâmbio em ciência e tecnologia. Lembrou que o Brasil vive momento auspicioso, com oportunidades de novos investimentos na transição energética em diversos campos, como os de energia eólica, solar, biodiesel e hidrogênio verde, entre outros. Ele falou que a ministra Lucina Santos, da Ciência e Tecnologia irá ao Vietnã em novembro.
Antes de desembarcar em Brasília, Pham Minh Chinh esteve em São Paulo, onde visitou a sede da Embraer. O cargueiro KC-390 e as aeronaves Super Tucanos, produzidas no Brasil, interessariam ao país asiático. Segundo o ministro da Defesa, José Múcio, há possibilidade de o Brasil dobrar as exportações para o Vietnã no setor de Defesa. Atualmente, uma frota de 5 aeronaves Embraer 190 é utilizada no Vietnã pela Bamboo Airways, permitindo ampliar conectividade pelo país. Demonstrações com aeronaves da família E-Jets E2 também têm permitido operadores locais a conhecerem a capacidade e desempenho dos jatos para abrir novas rotas domésticas e para países vizinhos.
O volume de comércio entre Brasil e Vietnã chegou a US$ 6,4 bilhões em 2022. Desse total, as exportações brasileiras somaram US$ 3,4 bilhões. Nesse período, o Brasil importou pouco menos de US$ 3 bilhões em mercadorias vietnamitas. Os produtos mais vendidos pelo Brasil ao país asiático foram: farelo de soja (com 25% do total exportado), soja em grãos (17%), algodão (16%) e milho (14%). Já as importações de produtos vindos do Vietnã foram principalmente de equipamentos de telecomunicação (29%), válvulas e transístores (25%), calçados (6%) e pneus (5,5%).
Leia o discurso de Lula na íntegra
Eu quero cumprimentar os ministros e as ministras brasileiras que estão comigo. Quero cumprimentar o primeiro-ministro Phạm Minh Chính, primeiro-ministro do Vietnã. Quero cumprimentar o Geraldo Alckmin, vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio. Quero cumprimentar a embaixadora Maria Laura da Rocha, ministra-substituta das Relações Exteriores, por intermédio de quem cumprimento todos os ministros aqui presentes. Quero cumprimentar o Bui Thanh Son, ministro dos Negócios Estrangeiros do Vietnã, por intermédio de quem cumprimento todos os ministros do Vietnã.
Meus amigos e minhas amigas,
É um prazer rever o primeiro-ministro Pham Minh Chính, depois do nosso encontro à margem da cúpula do G7, em Hiroshima. Eu lembro, com muito carinho, da minha visita a Hanói, em 2008. Os avanços econômicos e sociais do Vietnã, na última década, são impressionantes. A economia vietnamita cresceu a uma média de quase 6% ao ano e mais de dez milhões de pessoas, o equivalente a quase 10% da população, saindo da extrema pobreza.
Somos dois países do Sul Global, comprometidos com a paz, com o multilateralismo, o desenvolvimento sustentável e o combate à fome e à pobreza. Desejamos maior representatividade na governança internacional. Todo mundo sabe o desempenho que o Brasil está fazendo, já há muito tempo, para que a gente possa ter uma governança global mais ativa, mais representativa e com muito mais poder decisório, sobretudo quando se trata de conflitos ou da questão climática.
Quero agradecer o apoio público, reiterado, do Vietnã a um pleito do Brasil por um assentamento no Conselho de Segurança da ONU.
Queremos e precisamos aprofundar nossa cooperação bilateral em diversas áreas, como agricultura, educação, defesa, cultura, que foram objeto de acordos assinados hoje.
Na área da agricultura, assinamos um plano de ação que vai nos permitir avançar na abertura do mercado vietnamita para novos produtos agropecuários brasileiros.
É importante lembrar, primeiro-ministro, que, aqui no Brasil, eu costumo dizer que comércio exterior é uma via de duas mãos. A gente compra e a gente vende. A gente vende e a gente compra. Que é preciso a gente ter uma balança comercial equilibrada para que não haja, sempre, a supremacia de um país sobre o outro.
Na área da educação, firmamos um acordo que vai possibilitar a mobilidade de estudantes entre os nossos países. Mais de 18 mil estudantes, de 71 países, já participaram dos programas de graduação e pós-graduação para estrangeiros do Governo Federal.
Na área da defesa, adotamos um memorando de entendimento que é um primeiro passo para um futuro acordo, que abrirá caminho para a exportação de produtos de defesa, como aeronaves.
Também queremos cooperar na área de ciência, tecnologia e inovação. A ministra Luciana Santos irá ao Vietnã, em novembro, para fazer a primeira reunião da Comissão Conjunta de Ciência e Tecnologia.
Há, portanto, um potencial extraordinário para iniciativas conjuntas em inteligência e startups.
Conversamos também sobre nossas relações comerciais, que vêm crescendo continuamente há mais de dez anos. Hoje nós temos um fluxo de seis bilhões e oitocentos milhões de dólares.
O primeiro-ministro disse que quer ver se, até 2030, nós chegamos a dez bilhões de dólares. Eu acho que é plenamente possível a partir dessa reunião, com as nossas visitas entre os dois países, a gente poder crescer muito.
O Brasil exporta para o Vietnã praticamente o mesmo que para a França, com quem temos uma longa relação estratégica.
Somos hoje um dos principais fornecedores de soja, carnes e algodão para o mercado e queremos incluir nisso produtos manufaturados de maior valor agregado.
O Vietnã é o sexto maior mercado de produtos do agronegócio brasileiro.
Queremos expandir esse fluxo e, também, diversificá-lo, com mais produtos de alto valor agregado.
Discutimos também o interesse do Vietnã de celebrar um acordo comercial com o Mercosul.
Vou levar o tema a nossos parceiros do Mercosul, aproveitando a presidência brasileira.
Tenho certeza que é possível avançar. É do nosso interesse aproximar o Mercosul da ASEAN. Os países do Sudeste Asiático correspondem a quase 6,5% do PIB mundial em paridade de poder de compra.
As exportações brasileiras para o conjunto de países do Sudeste Asiático já somam metade do que exportamos para a União Europeia.
Somos parceiros de diálogo da ASEAN e o ministro Mauro Vieira deve ir à Indonésia em breve para discutir um plano de ação para a cooperação entre o Brasil e esse bloco.
Em 2024, comemoramos 35 anos do estabelecimento das relações diplomáticas entre o Brasil e o Vietnã.
Eu aceitei o gentil convite do primeiro-ministro Chính para ir a Hanói celebrar essa ocasião.
Muito obrigado.