O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou, na quarta-feira (1º), que “Bolsonaro é o grande problema que estamos vivendo hoje” e que “o governo neste instante mais atrapalha do que ajuda”.
O ex-presidente disse que está “convencido que Bolsonaro não tem estrutura psicológica de continuar governando o país”. “Acho que ele é um desequilibrado, não fala coisa com coisa, está preocupado em atender ao público fanático dele, mas não em dar uma resposta concreta que o povo está precisando. O povo está precisando de uma orientação e receber o dinheiro aprovado pelo Congresso”, continuou.
Lula criticou Bolsonaro por não ter dado orientações à população sobre como agir na pandemia do novo coronavírus em seu pronunciamento na noite da terça-feira (31).
“O presidente utiliza não sei quanto tempo na TV e não tem uma orientação para as pessoas”, declarou, em entrevista virtual a blogs e veículos de imprensa. Para Lula, falta “voz de comando” da Presidência nesta crise.
O petista considera que Bolsonaro fala da boca para fora quando diz que sua preocupação é com os pobres e cobrou que ele faça os recursos da União chegarem até os trabalhadores, para que possam sobreviver no recolhimento social imposto pelo novo coronavírus.
“Tentar defender os mais pobres, o camelô, o cara do Uber, do pequeno comércio… Além de estar defendendo esses caras da língua pra fora. As medidas concretas beneficiaram os banqueiros, porque ele liberou R$ 200 bilhões para os banqueiros”, disse Lula.
“E para as pessoas pobres que estão precisando dos R$ 600, a gente ouviu o [Paulo] Guedes [ministro da Economia] dizer que só vai ser dia 16 de abril”, acrescentou.
Para Lula, não há problema em descumprir as regras fiscais e que Guedes deve liberar ajuda aos mais carentes já, pois eles não aguentarão 15 dias.
Lula disse que “nossa obsessão agora tem que ser vencer o coronavírus”, uma mobilização que Bolsonaro, na avaliação do petista, não tem capacidade alguma de liderar.
O ex-presidente da República afirmou que “chegamos ao ponto do [João] Doria [governador de São Paulo] ter que mandar a PM invadir fábrica para pegar máscara. Quem está fazendo o trabalho mais sério são os governadores e prefeitos” nessa crise.
Doria ordenou à Polícia Militar que buscasse 500 mil máscaras para profissionais de saúde na empresa 3M.
O governador tucano publicou a mensagem de Lula em seu perfil e comentou que “temos muitas diferenças. Mas agora não é hora de expor discordâncias. O vírus não escolhe ideologia nem partidos. O momento é de foco, serenidade e trabalho para ajudar a salvar o Brasil e os brasileiros”.
Lula também elogiou as iniciativas dos parlamentares e da sociedade civil contra a pandemia. “Há uma preocupação da sociedade em dar resposta àquilo que o governo não consegue fazer. Estamos percebendo que governo não se preparou para uma crise desse dessa magnitude.”
“Ele [Bolsonaro] que cumpra com seu papel de ser coordenador e libere o dinheiro logo, porque o povo está precisando do recurso”, exigiu, explicando que só o Estado forte pode combater o vírus.
“Eu estou convencido de que Bolsonaro, ou ele muda, ou ele não tem condição de continuar”, frisou, ressaltando que o presidente “no fundo sabe que está enfraquecido aos olhos da sociedade”.
No entanto, Lula é cauteloso ao falar sobre impeachment para Bolsonaro. Na opinião dele, para defender o impeachment, é preciso crime de responsabilidade e contou que pediu à presidente do PT, Gleisi Hoffmann, e ao ex-ministro da Justiça, Eugênio Aragão, que fizessem um estudo para verificar se Bolsonaro já cometeu crime de responsabilidade. “Se tiver [crime de responsabilidade], temos que pressionar a Câmara”, apontou.
Sobre o manifesto de ex-presidenciáveis e líderes dos partidos que pede a renúncia de Bolsonaro, assinado por Fernando Haddad (PT), Flávio Dino (PC do B), Ciro Gomes (PDT) e Guilherme Boulos (PSOL), Lula assinalou que é um começo para que o “Fora, Bolsonaro” passe a ser uma palavra de ordem petista.
“Da renúncia para o impeachment, é um pouco. Da renúncia para o ‘fora, Bolsonaro’, é um pouco. Na hora que tiver manifestação de rua, o ‘fora, Bolsonaro’ ganha força”, disse. Segundo ele, “não era necessário” que também tivesse assinado o manifesto.
“O importante agora é afastar o Bolsonaro”, disse ele para o site UOL.
“Esse homem não respeita a ciência, os pesquisadores, não respeita nada. Para ele, a orientação científica para combater a epidemia vale muito pouco. O maior problema da crise é a falta de gerenciamento, tem que ter um comando centralizado. Ele tinha que conversar com os governadores e prefeitos, os partidos no Congresso, o movimento social, mas Bolsonaro não ouve ninguém, só os filhos e aquele guru dele lá da Virgínia (EUA) [o astrólogo Olavo de Carvalho]. A oposição vai ter que encontrar um caminho para ver o que fazer com o Bolsonaro porque ele hoje é um perigo, não só para o Brasil, mas para o mundo”, destacou na mesma entrevista.
Lula também afirmou que está disposto a conversar com Ciro, “que é uma figura importante e deve ser levado em conta”.
Lula se recusa a conversar com os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e Michel Temer (MDB).
O petista criticou o ex-juiz e ministro da Justiça, Sergio Moro. “Moro é a pessoa mais falsa que o país já produziu. Como ministro, não diz a que veio e não está preparado para isso”.
Ele ainda criticou a imprensa em geral e afirmou que, na Presidência, deveria ter consolidado a imprensa democrática no país.