O motivo principal para a exoneração do general Júlio César de Arruda, além de outros, foi a recusa em demitir o tenente-coronel Mauro Cid, ajudante de ordens de Bolsonaro, nomeado no fim do governo anterior para cuidar do estratégico 1º Batalhão de Ações de Comandos (BAC), que fica em Goiânia
O presidente Lula escolheu o general Tomás Miguel Ribeiro Paiva, atual comandante militar do Sudeste, para o comando do Exército em substituição general Júlio César de Arruda.
O general Júlio César de Arruda assumiu o Comando do Exército em caráter provisório antes da posse de Lula, em uma articulação feita com a participação do ministro da Defesa, José Múcio.
No sábado (21), o Alto Comando do Exército se reuniu para discutir as mudanças na Força.
Auxiliares de Lula apontam que a troca foi feita porque “Arruda não demonstrou disposição de tomar providências” necessárias defendidas pelo presidente.
A principal delas é que o presidente pediu a demissão do ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, o tenente-coronel Mauro Cid, que foi nomeado no fim do governo anterior para cuidar do 1º Batalhão de Ações de Comandos (BAC), que fica em Goiânia. É uma unidade responsável por operações especiais, de alto risco, e tem permissão para atuar em Brasília em situações de emergência.
Íntimo de Bolsonaro, Mauro Cid é investigado por operar um esquema de Caixa 2 dentro do Planalto durante a última gestão, o que motivou o pedido de exoneração do comando do 1º BAC. Ver Investigação aponta esquema de Caixa 2 no Planalto sob Jair.
O 1º BAC é estratégico em caso de ataques terroristas.
O general Arruda, entretanto, recusou-se a demitir Mauro Cid e isso foi o estopim para a sua demissão do comando do Exército.
Arruda também não ordenou a remoção dos acampamentos de bolsonaristas em frente aos quartéis, principalmente o QG de Brasília, que foi base para os terroristas. Na fala do ministro da Justiça, Flávio Dino, o acampamento virou uma “incubadora de terroristas”.
O ministro da Defesa, José Múcio, explicou que a demissão do comandante se deu por conta da quebra de confiança.
“Evidentemente que, depois desses últimos episódios, a questão dos acampamentos, a questão do 8 de janeiro, as relações, principalmente, com o comando do Exército, sofreram uma fratura no nível de confiança”, afirmou, em entrevista coletiva. “E nós achávamos que precisávamos estancar isso logo de início, para que pudéssemos superar esse episódio”.
PAIVA
O general Tomás Miguel Ribeiro Paiva fez um discurso para a tropa, na quarta-feira (18), denunciando um “terremoto” na política que “está tentando matar a nossa coesão, hierarquia, está tentando matar a nossa hierarquia disciplinar e matar o nosso profissionalismo”.
O general Paiva também disse que militares não podem aderir a correntes políticas.
“Isso não significa que o cara não seja um cidadão, que o cara não possa expressar seu direito de ter uma opinião. Ele pode ter, mas não pode manifestar. Ele pode ouvir muita coisa, muita gente falando para ele fazer isso ou aquilo, mas ele fará o que é correto, mesmo que o correto seja impopular”.
“Ser militar é ser profissional, respeitar a hierarquia e a disciplina. É ser coeso, íntegro, ter espírito de corpo e defender a pátria. É ser uma instituição de Estado, apolítica e apartidária”, continuou.
Tomás Miguel Ribeiro Paiva tem 62 anos e era o comandante militar do sudeste desde 2021, sendo membro do Alto Comando do Exército desde 2019. Paiva entrou no Exército em 1975 através da Escola Preparatória de Cadetes do Exército, em Campinas (SP).
O general já foi comandante do Batalhão da Guarda Presidencial e ajudante de ordens da Presidência no governo Fernando Henrique Cardoso. Tomás Ribeiro Paiva também teve atuação na missão do Exército no Haiti, liderada pela Organização das Nações Unidas (ONU).
ENTREVISTA
Durante a semana, o presidente Lula falou em entrevista que os militares que quiserem entrar na política terão que “tirar a farda”.
“As pessoas estão aí para cumprir suas funções, e não para fazer política. Quem quiser fazer política, que tire a farda, renuncie a seu cargo, crie um partido político e vá fazer política”, disse.
Depois do ataque terrorista de bolsonaristas em Brasília, Lula disse que via indícios de participação de agentes públicos.
“Estou convencido de que a porta do Palácio do Planalto foi aberta para essa gente entrar porque não vi a porta de entrada quebrada”, apontou.
Na sexta-feira (20), Lula se reuniu com os comandantes para discutir, entre outros temas, a modernização tecnológica das Forças Armadas e o investimento por parte do governo federal para o desenvolvimento da indústria de defesa.
O presidente convidou para o encontro o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Josué Gomes, e mais cinco empresários do setor da indústria de defesa.
Lula indicou seu vice-presidente e ministro da Indústria, Geraldo Alckmin, para coordenar as políticas para a indústria de defesa. Alckmin estava na reunião.
O ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, informou que Lula se compromissou, no encontro com as FFAA, em estruturar um “um plano de Defesa, investir na indústria de Defesa do país, gerar emprego, tecnologia, voltar a investir na Defesa, retomando planos estratégicos do país”.
Relacionada: