
“O apoio chinês é decisivo para tirar do papel rodovias, ferrovias, portos e linhas de transmissão”, disse o presidente em discurso na sessão de abertura do IV Fórum da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac)
Ao discursar nesta terça-feira (13) na sessão de abertura do IV Fórum da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), realizado em Pequim, na China, o presidente Lula ressaltou a importância e a força do Sul Global e da criação de um mundo multipolar. “Nossa vocação é ser um dos eixos de uma ordem multipolar, na qual o Sul Global esteja devidamente representado”, afirmou o presidente.
“O futuro da América Latina depende do nosso comportamento, da análise justa do que aconteceu no século XX, onde nós avançamos, e onde nós retrocedemos, para que a gente compreenda de uma vez por todas: Não há saída para nenhum país individualmente”, destacou Lula, defendendo a união dos países da região, a colaboração econômica da China e a manutenção da América Latina como uma área livre das guerras.

Lula falou dos 500 anos de história dos países da região e sentenciou: “Ou nós nos juntamos entre nós, e procuramos parceiros que queiram, junto conosco, construir um mundo compartilhado, ou a América Latina tende a continuar sendo uma região que representa a pobreza no mundo de hoje”.
“É importante que a gente compreenda. Não depende de ninguém. Não depende do presidente Xi Jinping. Não depende dos Estados Unidos. Não depende da União Europeia. Depende, pura e simplesmente, se a gente quer ser grande ou a gente quer continuar pequeno”, apontou o líder brasileiro.
O presidente Lula também ressaltou a importância da integração da China com os países sul-americanos e caribenhos para o desenvolvimento dos povos da região. “Isso fica evidente, sobretudo na área de infraestrutura. O apoio chinês é decisivo para tirar do papel rodovias, ferrovias, portos e linhas de transmissão. Mas a viabilidade econômica desses projetos depende da capacidade de coordenação de nossos países para conferir a essas iniciativas escala regional”, destacou.
“O Fórum Celac-China comemora seu décimo aniversário este ano. Ao longo dessa década, os laços entre a América Latina e o Caribe e a China se fortaleceram. A China já é o segundo maior parceiro comercial da Celac e um dos mais importantes investidores diretos na região. Recursos oriundos de instituições financeiras chinesas superam créditos oferecidos pelo Banco Mundial ou pelo BID. A parceria com a China é um elemento dinâmico para a economia regional”, frisou Lula.
O líder brasileiro lembrou, ainda, o papel que a China teve no crescimento da América do Sul e do Caribe, além da importante participação do país no desenvolvimento de vacinas e insumos durante a pandemia do Covid-19. Para ele, reforçar a articulação entre todos esses atores permitirá a todos aproveitar na plenitude o potencial dessa relação.
“Para construir um futuro compartilhado é necessário reduzir as assimetrias entre os países. É imprescindível que a colaboração entre a Celac e a China contribua para fortalecer a indústria e a inovação na região. A revolução digital não pode criar um novo abismo tecnológico entre as nações. O desenvolvimento da Inteligência Artificial não deve ser um privilégio de poucos”, disse.
“A demanda chinesa foi um dos propulsores do crescimento que experimentamos no início do século. Obtivemos avanços expressivos na redução da pobreza e da desigualdade. Foi nesse momento que finalmente olhamos para nosso entorno e nos unimos para criar a Unasul e a Celac. Só com maior articulação entre nós conseguiremos aproveitar ao máximo o potencial de cooperação sino-latino-americana e caribenha”, afirmou Lula.
Desde 2009, a China é o maior parceiro comercial do Brasil e chegou, em 2023, ao recorde de US$ 157,5 bilhões, com exportações brasileiras de US$ 104,3 bilhões, importações de US$ 53,1 bilhões e superávit para o Brasil de US$ 51,14 bilhões. As exportações brasileiras para a China foram superiores à soma das vendas do país para os Estados Unidos (US$ 36,9 bilhões) e para a União Europeia (US$ 46,3 bilhões).
Além do Brasil, a China destaca-se por ser o principal parceiro comercial de grande parte dos países da América Latina e do Caribe e, cada vez mais, um importante investidor, especialmente em infraestrutura. A robusta agenda de cooperação do Fórum Celac-China não se limita a temas econômico-comerciais e inclui cooperação em assuntos como educação, inovação, transição energética, clima, inteligência artificial, combate aos crimes internacionais, desastres naturais e segurança alimentar.
Em declaração ao lado do líder chinês, Xi Jinping (PCCh), no Grande Palácio do Povo, Lula afirmou que, historicamente, os Estados Unidos nunca fizeram com que uma economia tenha conseguido se desenvolver e “dar um salto de qualidade”. “Mesmo aqueles países que sobrevivem, e alguns têm maior população nos Estados Unidos do que no seu próprio país, não conseguiram se desenvolver”, declarou Lula. Conforme o presidente, essas nações “não conseguiram funcionar”.
Leia a íntegra do discurso do presidente Lula na abertura do IV Fórum Celac-China
Excelentíssimo Sr. Xi Jinping, Presidente da República Popular da China; excelentíssimo companheiro Gabriel Boric, Presidente da República do Chile, por meio de quem cumprimento toda a delegação chilena; meu caro Gustavo Petro, Presidente da República da Colômbia, por meio de quem cumprimento toda a delegação da Colômbia; minha querida companheira Dilma Rousseff, Presidenta do novo Banco de Desenvolvimento, mais conhecido como Banco dos BRICS; meu querido Mauro Vieira, Ministro das Relações Exteriores, por meio de quem cumprimento toda a delegação brasileira; minha querida companheira Janja; companheiros ministros, companheiros embaixadores, companheiros parlamentares, presentes nesta quarta cumbre de China-CELAC.
Agradeço o convite para participar desta reunião, que coroa o trabalho da presidência hondurenha e marca um início auspicioso para a presidência colombiana.
Como muitos lembraram hoje, o Foro CELAC-China comemora seu décimo aniversário este ano. Ao longo dessa década, os laços entre a América Latina e o Caribe e a China se fortaleceram. A China já é o segundo maior parceiro comercial da CELAC e um dos mais importantes investidores diretos na região. Recursos oriundos de instituições financeiras chinesas superam créditos oferecidos pelo Banco Mundial ou pelo BID. A parceria com a China é um elemento dinâmico para a economia regional.
A demanda chinesa foi um dos propulsores do crescimento que experimentamos no início do século. Obtivemos avanços expressivos na redução da pobreza e da desigualdade. Foi, nesse momento, que finalmente olhamos para nosso entorno e nos unimos para criar a UNASUL e a CELAC.
Durante a pandemia da Covid-19, vacinas e insumos chineses nos ajudaram a proteger nossas populações. Só, com maior articulação entre nós, conseguiremos aproveitar ao máximo o potencial de cooperação sino-latino-americana e caribenha.
Isso fica evidente sobretudo na área de infraestrutura. O apoio chinês é decisivo para tirar do papel rodovias, ferrovias, portos e linhas de transmissão. Mas a viabilidade econômica desses projetos depende da capacidade de coordenação de nossos países para conferir a essas iniciativas escala regional.
A desarticulação da UNASUL, que procuramos reverter, deixou uma enorme lacuna no planejamento conjunto. Não precisamos apenas de corredores de exportação, mas de rotas que sejam vetores de desenvolvimento e união. Por séculos, recursos extraídos da América Latina e do Caribe enriqueceram outras partes do mundo. Temos a chance de fazer diferente.
O ciclo das commodities dos últimos anos contribuiu para elevar a posição da região na economia global. Mas situações de crise mostram que a prosperidade de longo prazo requer trocas equilibradas e economias diversificadas.
Sempre existiram distorções no comércio internacional, especialmente no intercâmbio de produtos agrícolas, cujo tratamento nunca avançou de forma satisfatória na OMC. A imposição de tarifas arbitrárias só agrava essa situação.
Para construir um futuro compartilhado, é necessário reduzir as assimetrias entre os países. É imprescindível que a colaboração entre a CELAC e a China contribua para fortalecer a indústria e a inovação na região.
A revolução digital não pode criar um novo abismo tecnológico entre nações. O desenvolvimento da Inteligência Artificial não deve ser um privilégio de poucos. Uma transição justa para uma economia de baixo carbono também exige amplo acesso a tecnologias de energia limpa.
A América Latina e o Caribe e a China podem mostrar ao mundo que é possível conter a mudança do clima sem abdicar do crescimento econômico e da justiça social. A COP30, na Amazônia, no estado do Pará, na cidade de Belém, no coração da Amazônia, almeja ser um ponto de virada na implementação dos compromissos climáticos, estabelecendo a confiança em soluções coletivas.
A solução para a crise do multilateralismo não é abandoná-lo, mas sim aperfeiçoá-lo.
A América Latina e o Caribe podem contribuir elegendo a primeira mulher Secretária-Geral da ONU e honrando, assim, o legado da Conferência de Pequim sobre os direitos das mulheres.
A governança global já não espelha a diversidade que habita a Terra. Esse anacronismo tem impedido que se cumpra o propósito de evitar o flagelo da guerra, inscrito na Carta das Nações Unidas.
Nossa região não deseja ser palco de disputas hegemônicas. Há mais de uma década, a CELAC declarou a América Latina e o Caribe como zona de paz. Não queremos repetir a história e encenar uma nova guerra fria.
Nossa vocação é ser um dos eixos de uma ordem multipolar, na qual o Sul Global esteja devidamente representado. O Fórum CELAC-China foi o primeiro mecanismo de interlocução externa da América Latina e do Caribe com um país em desenvolvimento. Eu espero que sigamos trilhando novos caminhos, com o mesmo pioneirismo, pelos próximos dez anos.
Meus amigos e minhas amigas, ao terminar a minha fala, eu queria fazer um alerta a todos os companheiros da América Latina. O futuro da América Latina depende do nosso comportamento, da análise justa do que aconteceu no século XX, onde nós avançamos, e onde nós retrocedemos, para que a gente compreenda de uma vez por todas: Não há saída para nenhum país individualmente.
Nós temos 500 anos de histórias que provam isso. Ou nós nos juntamos entre nós, e procuramos parceiros que queiram, junto conosco, construir um mundo compartilhado, ou a América Latina tende a continuar sendo uma região que representa a pobreza no mundo de hoje.
É importante que a gente compreenda. Não depende de ninguém. Não depende do presidente Xi Jinping. Não depende dos Estados Unidos. Não depende da União Europeia. Depende, pura e simplesmente, se a gente quer ser grande ou a gente quer continuar pequeno.
Um abraço.