
O presidente Lula exigiu explicações dos diretores da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Luiz Fernando Corrêa, e da Polícia Federal (PF), Andrei Rodrigues, sobre revelações de que a Abin teria realizado uma operação de espionagem contra autoridades paraguaias. A informação foi divulgada pelo jornal Folha de S. Paulo nesta quinta-feira (17).
A operação teria sido iniciada ainda no governo Bolsonaro. Ela ocorreu no contexto das negociações bilaterais sobre a divisão dos lucros da Usina de Itaipu. O governo inicialmente informou que assim que soube da operação suspendeu-a. No entanto, fontes da Abin afirmaram que a atual direção do órgão tinha conhecimento da ação e teria mantido a espionagem.
Andrei Rodrigues apresentou ao presidente Lula evidências de que Alessandro Moretti, ex-número dois da Abin, teria autorizado a continuidade da ação — com o aval de Corrêa. Os dados constam do depoimento de um servidor da própria Abin, prestado à PF no inquérito que investiga o suposto uso político da agência durante o governo anterior. A investigação, que tramita sob sigilo no Supremo Tribunal Federal, também apura o vazamento da operação à imprensa.
A reunião foi realizada em clima tenso e evidenciou a disputa interna entre a PF e a Abin dentro do governo. Corrêa e Rodrigues são considerados rivais, com atritos recorrentes desde o início da atual gestão. O principal foco da discórdia é a apuração da chamada “Abin paralela”, um esquema de espionagem interna que operaria à margem das diretrizes institucionais da agência.
O episódio ocorre em um momento delicado nas relações diplomáticas do Brasil com o Paraguai no Mercosul. O Paraguai é um parceiro estratégico na integração energética e comercial com o Brasil, especialmente no contexto da binacional Itaipu. Se os indícios de espionagem em território estrangeiro forem confirmados, o país poderá enfrentar retaliações diplomáticas do país vizinho.
O diretor-geral da Abin prestou depoimento durante cinco horas nesta quinta-feira (17) à PF na investigação que apura o caso. A Polícia Federal pediu esclarecimentos a Corrêa sobre suspeitas de que sua gestão teria atuado para obstruir as investigações a respeito do uso ilegal de ferramentas de espionagem durante o governo de Jair Bolsonaro (PL).
A PF também quis saber se Corrêa deu aval e tinha conhecimento de ações de espionagem executadas pela Abin contra autoridades do governo do Paraguai.