Lula garante que, enquanto for presidente, “não tem privatização” dos Correios

Uma das milhares de agências da empresa (Foto: Agência Brasil)

O assunto surgiu em sua entrevista coletiva e diante dos rumores de venda da empresa, que está solicitando R$ 12 bilhões ao Tesouro para enfrentar a atual crise financeira

Os arautos da proposta de privatização dos Correios podem tirar o cavalinho da chuva, pelo menos durante o atual governo: o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em sua entrevista coletiva de ontem (18), garantiu que, enquanto for presidente, “não tem privatização”.

O tema da privatização dos Correios veio à baila, novamente, diante do movimento grevista deflagrado pelos trabalhadores da empresa diante do forte burburinho, alimentado pelo chamado mercado – aquele que só pensa em lucro -, da sua privatização.

Na entrevista concedida à imprensa no Palácio do Planalto, Lula lamentou a crise que atinge os Correios e chegou a especular sobre a causa dos problemas que atingem a estatal. Segundo ele, não é a “taxa das blusinhas” (essa que é cobrada na contratação dos serviços de entrega de produtos em geral), mas “deve ser gestão”.

“Não podemos ter uma empresa pública dando prejuízo. Não precisa ser a ‘rainha do lucro’, mas também não pode ser a ‘rainha do prejuízo’”, afirmou Lula.

Nesta semana, trabalhadores dos Correios de São Paulo e de outros estados aprovaram greve por tempo indeterminado. A paralisação foi motivada pela falta de negociação por parte dos Correios e pelas “ameaças de retirada de direitos e da precarização das condições de trabalho,” defende o sindicato da categoria.

Em contrapartida, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou nessa terça-feira (16) que a proposta de empréstimo para socorrer os Correios chegou à pasta e está sendo estudada pelo Tesouro Nacional. De acordo com ele, o valor pode chegar a aproximadamente R$ 12 bilhões.

A proposta de privatização dos Correios se arrasta há muitos anos, alimentada, como sempre, pelos grupos privados, notadamente internacionais, que já abocanharam parte dos serviços que antes eram prestados exclusivamente pela empresa pública.

Além disso, na grande mídia não tem faltado editoriais baseados na surrada narrativa da privatização. Recentemente, a Folha de S. Paulo chegou a afirmar que “a solução para os Correios é privatizar ou fechar”, ignorando o caráter público da empresa e sua função social ao longo do tempo.

Como informou, recentemente, em artigo, nosso colega de redação, Marcos Verlaine, “os Correios não são apenas empresa: são infraestrutura de Estado, tão estratégica quanto energia ou transporte. Com mais de 10,5 mil agências espalhadas pelos 5.570 municípios do Brasil, a estatal chega onde o mercado não chega — nos distritos rurais, nas comunidades amazônicas, nos sertões e nas periferias urbanas”.

O prejuízo registrado pela empresa está associado, principalmente, a passivos trabalhistas acumulados e congelamento tarifário em serviços de baixo custo, o que não tirou dos Correios a condição de uma das maiores operadoras logísticas da América Latina, processando milhões de encomendas todos os dias e chegando a lugares que as corporações privadas do setor não chegam, por tratar-se de serviços que não gera lucro.

Essa função social, no entanto, parece ter se tornado secundária para o próprio governo, que, agora, busca salvar os Correios injetando recursos do Tesouro e apostando uma gestão mais eficiente. Foi a missão que o presidente Lula entregou à nova diretoria, bem como à ministra Esther Dweck, da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos.

É o que, na análise do governo, pode ser feito, no momento, para tentar salvar os Correios como empresa pública.

O fato, entretanto, é que atual situação dramática vivida pela empresa do ponto de vista financeiro é resultante de um conjunto de decisões ou de omissões de sucessivos governos ao longo de décadas, permitindo, por exemplo, que esse mercado, que tem tudo a ver com integração e soberania nacionais, foi aberto a conglomerados econômicos internacionais, que se apresentam como “mercados livres ou pagos”, que se sustentam com uma estrutura de funcionamento de baixa utilização de capital humano, precarizado em seus custos, e com uma rede terceirizada de entregas também de baixo custo.

Portanto, concorrer com essas corporações privadas passou a ser um desafio inalcançável para uma empresa pública que tem nos seus trabalhadores sua principal riqueza, fator, agora, que tem que estar associado a inovações tecnológicas para competir com o setor privado.

Mas, enfim, recorrendo ao Verlaine, novamente, os Correios, nos lugares mais longínquos, “não não entregam apenas cartas: levam documentos, remédios, livros, vacinas e, em muitos casos, dignidade”.

Nada disso, entretanto, sensibiliza os pregadores da privatização, pois, na sua lógica, só é possível existir enquanto empresa pública aquela que consegue exibir lucros em suas operações.

“O discurso da Folha não é técnico — é ideológico. É o velho projeto neoliberal de reduzir o Estado, enfraquecer o público e ampliar o domínio do mercado”, enfatizou Verlaine em seu artigo, o que, no caso dos Correios, é a repetição de uma postura adotada em todos os momentos em que estatais e empresas públicas brasileiras ficaram na alça de mira da privatização.

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