O tucano Fernando Henrique Cardoso depôs, na segunda-feira (11), como testemunha de defesa de Luiz Inácio Lula da Silva no processo que investiga a reforma do sítio de Atibaia, no interior de São Paulo. Mas não ajudou muito como esperava a defesa de Lula. Procurou guardar distância do petista nas suas respostas. Ele foi ouvido pelo juiz Sérgio Moro, por meio de videoconferência realizada em fórum da Justiça Federal.
A audiência durou cerca de meia hora e, na saída, FHC afirmou que foi “prazeroso” e que se sentiu confortável em responder às perguntas. Ele foi questionado pela defesa do petista e o juiz sobre suas palestras e a prestação de contas de seu Instituto.
Moro questionou o ex-presidente sobre como era pago pelas palestras e outros trabalhos. “Isso é feito através de um agente que faz o contrato e eu usualmente não conheço os donos ou representantes da empresa. Vou conhecer eles na hora”, disse.
O juiz também quis saber se alguma empresa já tinha reformado alguma propriedade que Fernando Henrique utilizava, fazendo pagamento por fora. “Nunca, jamais, nada disso, nem por fora, nem participaram de nenhum momento de reforma. Eu não tenho muita coisa a reformar, só minha cabeça mesmo”, disse o ex-presidente.
Sobre as palestras, FHC declarou que algumas são de graça e que algumas ele cobra um certo valor. “Palestras são atividade pessoal, profissional, sempre falei de graça. Quando descobri que podiam até pagar para dizer o que eu digo de graça, claro, fiquei satisfeito”, disse. Indagado pela defesa de Lula sobre palestras pagas por empreiteiras, o ex-presidente falou que não se recorda de ter sido contratado por essas empresas.
Lula é investigado por ter recebido 27 milhões de reais de empreiteiras envolvidas no petrolão por meio da sua empresa de palestras, a LILS Palestras e Eventos Ltda.
Também chamado a depor como testemunha de Lula, o escritor Fernando Morais, que escreve uma biografia dele, chegou a ser interrompido por Moro. Para o magistrado, ele estava usando o momento para fazer propaganda pró-Lula.
Morais falava que numa viagem a Londres ouviu de Bono, cantor do U2, que Lula era uma espécie de Nelson Mandela, porque teria o poder de unir todas as raças. Nesse momento, ele foi interrompido pelo juiz. Moro pediu objetividade do depoente nas respostas e disse que ele não estava lá para fazer propaganda do réu.
“Estamos falando da reputação do acusado”, alegou o advogado de Lula. “O senhor pode divulgar questões meritórias fora do processo”, rebateu o juiz. O advogado insinuou que o juiz estaria incomodado com os fatos narrados. “Não me incomoda, só acho que o processo não deve ser usado para esse tipo de propaganda”, refutou Moro.
Os depoimentos ocorreram no âmbito da ação penal em que Lula é réu por receber propinas de R$ 1 milhão da OAS, Odebrecht e Schahin. O valor é referente a reformas custeadas pelas empreiteiras no Sítio Santa Bárbara, em Atibaia.
O petista, que está preso na sede da Polícia Federal em Curitiba, no Paraná, porque foi condenado em segunda instância em processo que envolve um triplex no Guarujá, foi denunciado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Ele nega as acusações e diz não ser o dono do imóvel, que está no nome do filho do ex-prefeito de Campinas, Fernando Bittar, e Jonas Suassuna. Para o Ministério Público Federal, no entanto, Jonas é apenas laranja de Lula. Segundo a denúncia, Jonas era um “dono” que não usufruia do sítio, ficava em hotel quando Lula estava no sítio.
WALTER FÉLIX