
O presidente brasileiro fez a afirmação ao receber o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, em Brasília
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi lacônico diante das ameaças de Donald Trump ao bloco de países que integram o BRICS: “Não aceitamos nenhuma reclamação contra a reunião do BRICS”. E acrescentou: “Não concordamos quando, ontem, o presidente dos Estados Unidos insinuou que vai taxar os países que negociarem com o BRICS.”
O atual inquilino da Casa Branca, que se considera um imperador do mundo, não tem poupado palavras para ameaçar nações soberanas, inclusive parceiros tradicionais dos EUA.
No caso, atacou diretamente os países que integram o BRICS, num claro incômodo com essa articulação multilateral que já se consolidou e avançou, inclusive, no debate sobre a desdolarização do comércio mundial.
Disse e postou Trump em suas redes sociais:
“Qualquer país que se alinhe com as políticas antiamericanas do Brics terá de pagar uma tarifa adicional de 10%. Não haverá exceções a essa política. Obrigado por sua atenção a esse assunto!”
O presidente brasileiro, além rechaçar as declarações de Trump, elogiou o papel do Banco do BRICS para as economias emergentes.
“O NDB [na sigla em inglês] surgiu para dar a certeza de que é possível ter um sistema financeiro que tenha uma política de financiamento e não tenha como objetivo principal austeridade para aqueles que pedem empréstimo”, disse, ao fazer uma referência à ex-presidente Dilma Roussef, que, atualmente, preside o organismo e estava presente no evento que ocorreu no Rio de Janeiro.
Lula, mais uma vez, destacou papel do bloco e condenou as políticas tarifárias tresloucadas de Trump.
“Como membros do G20 e do BRICS, atuamos em mesa do multilateralismo e em prol de uma governança global mais inclusiva. O primeiro-ministro Modi afirmou corretamente, na cúpula do BRICS, que é impossível rodar um software do século 21 em velhas máquinas de escrever do século 20”, disse.
Durante o encontro de cúpula do BRICS, o presidente brasileiro já havia criticado Trump, acusando-o, indiretamente, de querer ser “imperador”.
“Nós não queremos imperador, somos países soberanos. Se ele acha que ele pode taxar, os países têm direito de taxar também. Acho muito equivocado e irresponsável um presidente ficar ameaçando os outros em redes digitais”, pontuou.
O BRICS adotou um posicionamento claro contra essas tarifas unilaterais adotadas pelos EUA, que buscam criar um clima de anarquia no comércio internacional, na tentativa frenética de resolver seus graves problemas internos.
“A proliferação de ações restritivas ao comércio, seja na forma de aumento indiscriminado de tarifas e de medidas não tarifárias, seja na forma de protecionismo sob o disfarce de objetivos ambientais, ameaça reduzir ainda mais o comércio global”, diz o documento do bloco.
RELAÇÕES COM A ÍNDIA SE APROFUNDAM
O presidente Lula aproveitou o encontro do BRICS para aprofundar as relações com alguns dos principais países que integram o bloco.
Foi o caso do primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, convidado pelo mandatário brasileiro para um encontro em Brasília, no mesmo formato que aconteceu com presidente chinês, Xi Jinping, após o encontro do G20 no ano passado, também transcorrido no Brasil.
Além da importância da Índia no BRICS (foi uma das nações que participou da criação do bloco), o país tem hoje o segundo maior mercado do mundo, com um elevado potencial de crescimento, especialmente, nas relações com o Brasil.
“Dois países superlativos como a Índia e o Brasil não podem permanecer distantes”, disse Lula, antes dos dois chefes de Estado se encontrarem para assinar seis acordos bilaterais nas áreas de ciência e tecnologia, agricultura e combate ao terrorismo internacional.
O comércio bilateral entre Brasil e Índia foi de US$ 12 bilhões em 2024, o que manteve a Índia como 10º maior parceiro comercial do Brasil. As exportações foram de US$ 5,26 bilhões (13º destino brasileiro), e as importações, de US$ 6,8 bilhões (sexta maior origem de importações).