“O presidente do Banco Central tem que explicar por que 13,5%, e por que qualquer perspectiva de voltar a aumentar se nós não temos inflação de demanda”, questionou o presidente, em entrevista à Rede TV
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva cobrou, em entrevista nesta quinta-feira (2) à Rede TV, a redução das taxas de juros definidas pelo Banco Central. “Veja, eu estou muito respeitoso com o Banco Central. Eu tive uma conversa com o presidente do Banco Central, e eu estou muito respeitoso porque eu vivi oito anos com o presidente do Banco Central, Meirelles, e a gente tinha uma política de controlar a inflação, mas a gente também tinha no BNDES dinheiro para investir, para a gente contrapor o aumento dos juros”, disse o presidente.
INFLAÇÃO NÃO É DE DEMANDA
“O que acontece é o seguinte”, prosseguiu: “o presidente do Banco Central tem que explicar por que 13,5%, e por que qualquer perspectiva de voltar a aumentar se nós não temos inflação de demanda. Porque quando você aumenta os juros, a verdade é que você está numa subida de preço muito grande, porque as pessoas estão comprando muito, as pessoas estão comprando muito, as pessoas estão comprando em excesso, você tem que frear, aí você aumenta a taxa de juros, mas não é isso que está acontecendo no Brasil, não é isso”, enfatizou Lula.
Assista a entrevista na íntegra
Ele insistiu na urgência da retomada do crescimento. “O Brasil precisa voltar a crescer. Então, eu acho que a sociedade brasileira, eu vou dizer, olhando bem na câmera, acho que a sociedade brasileira, eu vou fazer uma reunião com alguns empresários, pretendo fazer uma reunião com alguns bancos, junto com os empresários, para a gente discutir com muita seriedade a taxa de juros nesse Brasil. Não existe nenhuma razão para taxa de juros estar em 13,75%. Nenhuma razão, nenhuma razão”, afirmou.
“Então é o seguinte”, disse Lula, “nós vamos começar a cobrar. Nós vamos começar a cobrar. Eu lembro do doutor Ermírio de Moraes, quando era vivo, ele passava todo dia cobrando a taxa, diminuir juros. O Zé Alencar?”, lembrou Lula, referindo-se ao seu vice-presidente José Alencar que não deixou em paz o Banco Central que mantinha taxas de juros elevadas. “O meu vice, todo dia cobrava. Então, eu vou voltar a cobrar. Eu vou voltar a cobrar, porque é o seguinte: esse cidadão do Banco Central foi eleito por quem?”, indagou.
META DE INFLAÇÃO IRREAL
“O que está na pauta é a questão da taxa de juros”, assinalou o presidente. “Nós fizemos uma meta de 4,5% com menos 2 e mais 2. Eu estou dizendo que o Brasil não precisava disso. Ora, este país, com 4% de inflação, com a economia crescendo, esse país vai embora, esse país cresce. É que o presidente do Banco Central nunca viveu a inflação que eu vivi de 80% ao mês. Nunca viveu”, disse Lula.
“Então ele quer chegar à inflação padrão europeu, e não, nós temos que chegar à inflação padrão Brasil. Uma inflação de 4,5% no Brasil, de 4%, é de bom tamanho se a economia crescer. Você, com 4% de inflação, com 4,5, com a economia crescendo, é uma coisa extraordinária. Agora, você faz uma meta que é ilusória, você não a cumpre e, por conta disso você fica prejudicado”, acrescentou.
“Não cumpriram, e fica prejudicando o crescimento do país”, afirmou Lula. “Isso é normal? Em nome de quem?”, indagou. “Vamos perguntar para o Presidente da Câmara, para o Presidente do Senado se eles estão felizes com a atuação do Banco Central, porque eu acho que eles imaginavam que fazer do Banco Central autônomo, a economia voltar a crescer, o juro ia abaixar e tudo ia ser maravilhoso, e não é”, denunciou Lula.
AMPLIAÇÃO DO CRÉDITO
“Não é”, prosseguiu o presidente, “porque durante todo esse mandato, o BNDES, ao invés de servir para emprestar dinheiro para os empresários crescerem, para a pequena e média empresa crescerem, o BNDES resolveu devolver 360 bilhões para o Tesouro. Ou seja, é uma inversão de valores. O BNDES é um banco de desenvolvimento social que ele foi criado para emprestar dinheiro para o crescimento do Brasil”.
Lula defendeu a ampliação do crédito no país. “Pode emprestar tanto para o Estado, que tem capacidade de endividamento, como pode emprestar para os empresários, mas sobretudo para pequenos e médios empresários, para a chamada microeconomia, ou seja, nós somos um país capitalista em que não tem capital circulando. É preciso colocar o dinheiro para circular, e com juros a 13,5% não é possível”, argumentou.
Ao comentar a crise na Americanas, Lula alfinetou. “Aí não é pedalada, é motociata. Acho que a gente quando é pequeno, a gente aprende : “Nada como um dia após o outro”. Esse Lemman era vendido como suprassumo do empresário bem-sucedido no planeta Terra. Ele era o cara que financiava jovens para estudar em Harvard, para formar um novo governo. Ele era o cara que falava contra a corrupção todo dia e, depois, ele comete uma fraude que pode chegar a 40 bilhões de reais?”, indagou o presidente.
MERCADO NÃO DIZ NADA SOBRE AMERICANAS
“E agora, me parece que está chegando na Ambev também”, disse Lula. “Ou seja, é o seguinte, vai acontecer o que aconteceu com Eike Batista, ou seja, as pessoas vendem uma ideia que eles não são na verdade. E o que eu fico chateado é o seguinte, é que qualquer palavra que você fale na área social, qualquer palavra que você fale: “vou aumentar o salário mínimo dez centavos, nós vamos recorrigir o Imposto de Renda, nós precisamos melhorar os pobres”, o mercado fica nervoso, o mercado fica muito irritado”, denunciou.
“E agora um deles joga fora 40 bilhões de dólares de uma empresa que parecia ser a empresa mais saudável do planeta e esse mercado não fala nada. Ele fica em silêncio. Sabe, por que tanto amor pelos grandes e tanto desinteresse pelos menores?”, criticou o presidente.
“Então, nós vamos levar muita fé na economia e eu vou te dizer uma coisa no primeiro dia do mês de fevereiro: Nós vamos recuperar a economia deste país. Nós vamos fazer ajustes no Imposto de Renda, nós vamos aprovar a política tributária que eu tenho certeza que no Congresso a maioria quer votar, e nós vamos fazer essa economia voltar a crescer e gerar empregos com carteira profissional assinada, que é o que interessa para o trabalhador”, prometeu Lula.
SÉRGIO CRUZ
Boa presidente Lula: menos juros, mais empregos.