Lula visita acampamento e critica desmonte das políticas pró-indígenas

O ex-presidente no acampamento indígena Terra Livre. Foto: Reprodução - Youtube
“Por que a gente não pode criar um ministério para discutir questões indígenas?”, indagou o ex-presidente à plateia em evento de pré-campanha

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) falou, nesta terça-feira (12), sobre a possibilidade de criar um ministério para tratar das questões e reivindicações indígenas caso seja eleito presidente da República na eleição deste ano.

O petista visitou o acampamento Terra Livre, em Brasília. Além do discurso, ele ouviu as reivindicações dos indígenas, como a demarcação de terras no país.

“E agora vocês me deram uma ideia. Se a gente criou o Ministério da Igualdade Racial, se a gente criou o dos Direitos Humanos, se a gente criou o Ministério da Pesca, por que a gente não pode criar um ministério para discutir questões indígenas?”, indagou o ex-presidente à plateia.

A plateia aplaudiu o ex-presidente e gritou diversas vezes o nome de Lula.

Atualmente, o órgão do governo federal responsável pelas políticas para indígenas é a Funai (Fundação Nacional do Índio), vinculada ao Ministério da Justiça.

A Funai é o órgão indigenista oficial do Estado brasileiro. Foi criado pela Lei 5.371, de 5 de dezembro de 1967. A missão da instituição é coordenar e executar as políticas indigenistas do governo federal, protegendo e promovendo os direitos dos povos indígenas.

12 ANOS DEPOIS

“Eu queria assumir um compromisso com vocês. Eu estou disposto a voltar a governar esse país 12 anos depois que deixei a Presidência. Em 12 anos a gente aprende muito, a gente sabe o que a gente fez, o que a gente não fez, e o que poderíamos ter feito”, disse Lula.

“E quero dizer para vocês que não é possível governar esse país apenas dentro de uma sala no Palácio do Planalto”, completou.

E continuou: “Se a gente quiser fazer uma política correta para os povos indígenas nesse país, temos que ter coragem de visitar onde vocês moram e conhecer a vida que vocês vivem.”

Na fala dele, o ex-presidente reconheceu que os governos do PT (Partido dos Trabalhadores) não fizeram tudo o que deveriam ter feito.

“Mas, certamente, ninguém fez mais do que nós fizemos nas nossas relações com os povos indígenas. E praticamente tudo que nós fizemos foi desmontado”, acrescentou.

INDÍGENAS EM MINISTÉRIOS

Pouco antes do discurso de Lula, a coordenadora da Abip (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil), Sonia Guajajara, afirmou que os indígenas também têm capacidade de assumir o comando de ministérios.

Ativista indígena, ela é pré-candidata a deputada federal pelo PSOL e foi candidata a vice-presidente em 2018 pelo partido, na chapa encabeçada por Guilherme Boulos, que vai ser candidato a uma cadeira na Câmara dos Deputados.

“Nós precisamos retomar a democracia. Nós queremos mais. Queremos assumir também ministérios. Queremos ministérios. Somos capazes de assumir todas as políticas públicas neste país”, afirmou a líder indígena.

POVOS INDÍGENAS

Os povos indígenas são os habitantes originários do território brasileiro e estavam presentes no país antes da chegada dos europeus, no início do século 16.

Segundo Marta Azevedo, ex-presidente da Funai e integrante do Conselho de Gestão Estratégia do Programa Rio Negro do ISA, estima-se que existam hoje cerca de 1,3 milhão de indígenas no Brasil.

Segundo dados publicados pela Funai, a população indígena em 1500 era de aproximadamente 3 milhões de habitantes divididos entre 1.000 povos diferentes, sendo que aproximadamente 2 milhões estavam estabelecidos no litoral do país e 1 milhão no interior.

De acordo com o censo do IBGE (2010), existem 305 grupos étnicos no Brasil. Dentre esses, há dois troncos principais: Macro-Jê, que incluem os grupos Boróro, Guató, Jê, Karajá, Krenák, Maxakali, Ofayé, Rikbaktsa e Yatê.

MENOS DE 1% DA POPULAÇÃO

Os índios brasileiros formam hoje contingente que representa cerca de 0,47% da população brasileira.

De acordo com o censo do IBGE (2010), há cerca de 896,9 mil indígenas no país, sendo que deste total cerca de 60% vivem em terras indígenas oficialmente reconhecidas pelo governo federal.

Deste número, 324.834 moram nas cidades e 572.083, em áreas rurais. A região Norte é a que possui a maior população indígena do País.

10 PRINCIPAIS TRIBOS INDÍGENAS NO BRASIL

Segundo dados do ISA (Instituto Socioambiental), as tribos que mais se destacam pelo número de habitantes são:

1. Guarani: originários do tronco da família linguística tupi-guarani, os guaranis somam cerca de 85 mil habitantes. Eles vivem em diversos Estados do Brasil e estão divididos em três grupos: kaiowá, mbya e ñadevaesse.

2. Ticuna: pertencente à família linguística ticuna, apresenta cerca de 50 mil habitantes — que estão na Amazônia, sobretudo às margens do rio Solimões. Eles são considerados o maior grupo indígena que vive na região.

3. Caingangue: proveniente do tronco da família linguística macro-jê, os caingangues reúnem cerca de 45 mil pessoas. Estão em quatro Estados do Brasil: São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

4. Macuxi: da família linguística Karib, os macuxis encontram-se, em grande parte, no Estado de Roraima. Cerca de 30 mil indígenas vivem em aldeias e pequenas habitações isoladas pelo estado.

5. Guajajara: oriundos do tronco da família tupi-guarani, os 27 mil guajajaras existentes moram no Estado do Maranhão.

6. Terena: da família linguística aruak, há cerca de 26 mil pessoas dessa etnia no território brasileiro. Encontram-se nos Estados do Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e São Paulo.

7. Yanomami: da família linguística yanomami, esse grupo reúne cerca de 26 mil pessoas nos Estados do Amazonas e Roraima.

8. Xavante: originários do tronco da família linguística macro-jê, os xavantes têm população de 18 mil habitantes, que estão concentrados em reservas indígenas no Estado do Mato Grosso.

9. Potiguara: pertencem ao tronco da família linguística tupi-guarani. Os potiguaras somam cerca de 18 mil pessoas nos Estados da Paraíba, Ceará, Pernambuco e Rio Grande do Norte.

10. Pataxó: da família linguística pataxó, esse grupo reúne cerca de 12 mil pessoas nos Estados da Bahia e Minas Gerais.

M. V.

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