O aparecimento, nos sites e blogs lulistas, de um texto com o título “Wikileaks: EUA criou curso para treinar Moro e juristas”, é um sintoma agudo da decadência moral – e da indigência mental – a que chegou o entorno de Lula.
O conteúdo desse texto é uma repetição total de outro, de dois anos atrás, já devidamente desmoralizado. Ao que parece, resta, aos apoiadores de Lula, plagiar a si mesmos. Triste – e muito chato – fim de feira: repetir mentiras que não colaram há dois anos.
Lembremos algumas coisas.
Em 2016, escrevemos um pequeno artigo, aqui no HP, sobre uma nota, aparecida nos blogs lulistas, intitulada “Wikileaks revela treinamento de Moro nos EUA”. Segundo essa nota, um documento secreto americano, aparecido no Wikileaks, confirmava um vídeo de uma filósofa da USP (?!), que acusara o juiz de ter sido “treinado pela CIA, FBI”.
Tudo muito estranho – pois já naquela época (e até agora) a atividade de Moro era julgar ladrões do dinheiro público, sobretudo os ladrões que assaltaram a Petrobrás. Desde quando a CIA, o FBI, ou a casta financeira dos EUA, estiveram interessados em defender a Petrobrás?
E desde quando filósofas com mente colonizada, de repente, descobrem que o juiz Moro é um perigoso agente, ao mesmo tempo, da CIA e do FBI?
O documento divulgado pelo Wikileaks – o mesmíssimo da “notícia” atual – é uma mensagem da embaixada dos EUA em Brasília para a Secretaria de Estado e outras embaixadas na América Latina, a respeito de uma conferência, no Rio de Janeiro, com autoridades judiciais e policiais latino-americanas e norte-americanas, sobre “Crimes e ilícitos financeiros”.
Não é um documento secreto, como se pode ler no cabeçalho (“unclassified, for official use only“).
O encontro no Rio, de 4 a 9 de outubro de 2009, teve caráter oficial – ou seja, contou com a autorização do governo, presidido, na época, por um cidadão de nome Luís Inácio Lula da Silva.
Por isso, a delegação brasileira foi chefiada por um ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ) e era composta de “juízes federais e promotores de cada um dos 26 estados brasileiros e do Distrito Federal, e mais de 50 policiais federais. A participação em nível estadual [foi composta por] 30 promotores, juízes e agentes da lei”, além de representantes do México, Costa Rica, Panamá, Argentina, Uruguai e Paraguai.
Não era um encontro clandestino – e o interesse dos norte-americanos era discutir o “combate ao terrorismo”, defendendo uma “lei antiterrorista”, nos termos da que foi assinada, em 2016, pela senhora Dilma Rousseff (Lei nº 13.260).
Há dois brasileiros citados nominalmente na mensagem da embaixada norte-americana: o ministro Gilson Dipp, do STJ, “que forneceu uma visão geral da história legislativa e política brasileira sobre lavagem de dinheiro e atividades ilícitas”, e o juiz federal Sérgio Moro, que “discutiu os 15 problemas mais comuns que ele vê em casos de lavagem de dinheiro nos tribunais brasileiros”.
Moro, em 2009, já era considerado uma autoridade no combate a crimes financeiros e à lavagem de dinheiro, depois do caso Banestado e da consequente Operação Farol da Colina. Apesar de Lula ter frustrado as investigações – ao nomear ministro um dos principais acusados, Henrique Meirelles, dando a ele foro privilegiado – houve 97 condenados no caso Banestado.
Notemos que Gilson Dipp e Sérgio Moro têm posições opostas em relação à Operação Lava Jato. Dipp é, inclusive, autor de um parecer ao STF, em 2015, contratado pelo advogado dos réus da Galvão Engenharia, pela anulação da “colaboração premiada” do doleiro Alberto Yousseff – o que, se fosse aceito, anularia a própria Operação Lava Jato.
Portanto, de acordo com a tese lulista, os americanos devem ter treinado Gilson Dipp para ser contra a Lava Jato e treinado Sérgio Moro para ser a favor da Lava Jato…
Na verdade, Moro era conferencista nesse encontro, promovido por um projeto do Departamento de Estado dos EUA, o Bridges Project (Projeto Pontes).
Podemos gostar ou não da participação de Moro e de outros brasileiros nesse evento. O que não podemos é mentir sobre essa participação.
Já dissemos mais de uma vez que é repugnante como Lula e seus sequazes – tanto os tolos, como os interesseiros (e também os tolos interesseiros) – não acham que é um problema terem se transformado em ladrões, ou em apologistas de um ladrão do dinheiro do povo.
O problema, para eles, é o juiz Moro – e não pelo que ele possa ter feito de errado, mas justamente pelo que fez (e faz) de certo: agir como um juiz e mandar ladrões para a cadeia. O juiz Moro, portanto, é visto como um apavorante fantasma, que os impede de roubar impunemente.
Por isso, contra Moro, basta olhar alguns blogs lulistas, vale tudo, no mais vulgar estilo nazista.
C.L.