ISO SENDACZ (*)
Há nas redes sociais, e mesmo em vetustos meios editoriais, uma plêiade de demagogos juniores, plenos e seniores para afirmar que o Brasil começou a consertar o estrago de vários anos, graças aos quadros “tecnicamente” escolhidos e a “razoável integridade” dos membros do governo.
Não estamos falando principalmente das predições de “mercado”, cuja função primaz não é ajudar no planejamento público, mas ao contrário aumentar os ganhos dos patrões dos gurus, que prometiam dólar e gasolina a cinco reais, valores que batem à porta dos que nela acreditaram ou não.
O andar da carruagem neoliberal que vem de anos provavelmente levaria a um cenário desses, exatamente por que as receitas essenciais continuam as mesmas.
Vejamos, hoje, dois dos múltiplos aspectos da realidade brasileira:
A charge do final do ano passado era alvo de acusação tanto de “pessimismo” como até de “inveja” por o novo governo estar botando o país nos eixos, em que pese a dificuldade de se consertar tudo o que se estragou em pouco tempo.
2019 teve um crescimento do Produto Interno Bruto de 1,1%. Isso significa que as dificuldades aumentaram. Na virada do século o crescimento populacional do Brasil era de quase 1,5%. Quem nasceu então estaria agora entrando no mercado de trabalho. Em tempos de processamento de dados em nuvem e ligações com vídeo gratuitas para qualquer lugar do país, era de se esperar mais produtividade. Mas o PIB não cresceu sequer proporcionalmente ao aumento da força de trabalho.
Alguns dirão que parte dos trabalhadores aposentaram-se. É verdade mas, como regra, o benefício da melhor idade foi adiado por cinco anos.
Por um instante, deixemos de lado os 7% médios de crescimento na era Vargas e imaginemos apenas o que “aqueles comunistas” da União Soviética fizeram nos tempos da segunda guerra: 3% de aumento da produção.
Uma querela adicional de R$ 140, 150 bilhões. Com doze milhões de desempregados, daria uma cota individual média de R$ 12 mil por ano. Um salário mínimo por mês! Para não falar da subocupação de dezenas de milhões de trabalhadores…
A inauguração de uma estrada inconclusa há décadas também foi “prova” da ampla capacidade e boas intenções oficiais de fazer o certo pelo país. Relevemos, aqui, o fato de a obra ser de gerações de brasileiros.
As melhores expectativas de formação bruta de capital fixo em 2019, medida pela taxa de investimentos, não atingem 17%. Em que pese o avanço em relação à posse de Bolsonaro em 2,1%, o governo entrega em seu primeiro ano resultados semelhantes ao final do governo de Dilma Roussef.
A taxa de investimentos chinesa tem caído nos últimos anos, mas mantém-se acima de 40% do PIB, duas vezes maior que a dos EUA e três vezes a nossa. Esse é um parâmetro de comparação para os dias de hoje. As consequências? Enquanto os chineses se livram da pobreza extrema cada vez menos gente vive condignamente do trabalho na ultraliberalidade econômica vigente por aqui.
Nossos agradecimentos à rara sensibilidade dos chargistas que ilustraram a nossa matéria de hoje.
(*) Engenheiro Mecânico, Especialista aposentado do Banco Central, diretor do Sindicato Nacional dos Funcionários do Banco Central, do Instituto Cultural Israelita Brasileiro e membro da direção estadual paulista do Partido Comunista do Brasil. De São Paulo, mora em Santos.