Edimilson Oliveira da Silva, ex-sargento da Polícia Militar (PM) conhecido como Macalé, teria contratado o miliciano Ronnie Lessa para executar a vereadora Marielle Franco. No entanto, Macalé, peça-chave para esclarecer o mandante do crime, foi executado em 2021, em uma emboscada.
De acordo com informações prestadas pelo ex-PM Élcio Queiroz, que está preso desde 2019 por envolvimento no caso, em colaboração com a Polícia Federal (PF) e o Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ), Macalé seria o intermediário do crime, além de ter participado de todas as ações de vigilância contra a vereadora.
Tanto Élcio Queiroz quanto Ronnie Lessa estão presos desde 2019 pelos assassinatos de Marielle Franco e de seu motorista, Anderson Gomes, e ambos irão a jurí popular pelos crimes.
Macalé foi assassinado em 2021, na Avenida Santa Cruz, em Bangu, Zona Oeste do Rio de Janeiro. O crime foi capturado em um vídeo que mostra Macalé carregando duas gaiolas quando foi surpreendido por disparos vindos de um carro cinza escuro. Ele morreu no local.
O jornalista Sergio Ramalho, que possui conhecimento sobre o inquérito do caso Marielle, afirmou que Macalé era mais um dos “olheiros” utilizados pelos milicianos envolvidos no planejamento da execução de Marielle para vigiá-la. Ainda de acordo com o jornalista, desde o início das investigações, cerca de seis pessoas, incluindo Macalé, foram assassinadas, levantando suspeitas sobre tentativas de eliminar evidências.
“Edimilson Macalé esteve presente em todas [as vigilâncias]; inclusive foi através do Edimilson que trouxe… Vamos dizer, esse trabalho pra eles; essa missão pra eles foi através do Macalé, que chegou até o Ronnie”, contou Élcio, na delação.
MILICIANOS
Além de Macalé, Élcio Queiroz relatou a participação de outros seis milicianos no assassinato da vereadora Marielle Franco.
Queiroz cita: Denis Lessa — irmão de Ronnie Lessa, acusado de atirar na vereadora—, Edilson Barbosa, conhecido como Orelha, o ex-PM Maurício da Conceição dos Santos Júnior, chamado de Mauricinho, e o ex-PM Jomar Duarte Bittencourt Junior , o jomarzinho, João Paulo Viana dos Santos Soares, com o apelido de Gato do Mato, e sua esposa, Alessandra da Silva Farizote.
A PF chegou a intimar parte deles para depor, mas só Denis e Orelha compareceram. As intimações ocorreram âmbito da operação com o Ministério Público, que prendeu o ex-bombeiro Maxwell Simões Corrêa, conhecido como Suel.
Orelha teria sido o responsável por sumir com o carro usado no dia do crime. Élcio afirmou à polícia que pediu para sua esposa avisar Edilson, o Orelha, para trocar de telefone com o início das investigações.
“Ele entrou no carro e na mesma hora o Ronnie começou a conversar com ele, tentando justificar “pô cara, isso aí é pra fazer um favor pra mim, porque esse carro tá saindo muito na mídia e não tem nada a ver comigo, é um carro parecido”. Aí o Orelha disse que não queria saber de nada, estava apavorado, e o Ronnie tentando se justificar com ele, que o carro não tem nada a ver com aquele fato”, Élcio sobre o dia seguinte do crime.
A investigação também apontou o policial militar Maurício da Conceição dos Santos Júnior e Jomar Duarte Bittencourt Junior, filho de um delgado da PF, como suspeitos de terem vazado a Ronnie informações sobre a operação que o prenderia. O ex-PM foi preso em março de 2019 na operação da Polícia Civil que recebeu o nome de Lume.
Segundo os promotores, Mauricinho e Jomarzinho teriam avisado a Ronnie sobre a operação, o que fez o ex-PM tentar fugir para Angra dos Reis, na Região dos Lagos. No entanto, o suspeito do assassinato de Marielle foi capturado pelos agentes antes que conseguisse ter sucesso na fuga.
O Ministério Público disse que Maurício e Jomar também avisaram a Maxwell sobre a ação da Polícia Civil, embora o ex-bombeiro não fosse alvo. Os dois foram intimados a depor pela Polícia Federal, mas não compareceram
Denis Lessa teria pedido um táxi para deixar o irmão Ronnie e Élcio na Barra da Tijuca. Ele também teria ficado com uma bolsa preta usada por Ronnie durante o assassinato.
“Ronnie começou a falar com o irmão se estava tudo bem, não me lembro o que ele falou, e depois ele pediu para o irmão arrumar um táxi. […] Peguei a bolsa que estava no carro e ele entregou para o Denis”. Disse Élcio.
Gato do Mato e sua esposa Alessandra foram citados na delação como pessoas de confiança de Lessa. A investigação aponta que eles estariam com a arma usada no assassinato antes do crime e entregaram para Lessa. O casal foi intimado a depor na segunda-feira, mas não se apresentou.