“Outra vez nos endividaram, outra vez fecharam empresas, outra vez deixaram as pessoas sem trabalho, outra vez empurraram a classe média à pobreza. É o que fazem cada vez que chegam ao poder”, afirmou Alberto Fernández, principal candidato opositor nas próximas eleições presidenciais, ao dirigir-se ao atual presidente, Macri, em uma de suas intervenções no debate que também teve a participação de mais quatro candidatos.
Além de Fernández, da coligação Frente de Todos e Macri(Juntos pela Mudança), Nicolás del Caño (Frente de Esquerda), Roberto Lavagna (Consenso Federal), José Luis Espert (Unite) e Juan José Gómez Centurión (Frente NOS) participaram desse que foi o primeiro debate presidencial na Argentina, duas semanas antes da eleição marcada para 27 de outubro próximo.
“Temos que gerar consumo para que a economia volte a funcionar, ajudar a que a indústria e as exportações cresçam e acertar as medidas para fazê-lo”, disse o candidato da Frente de Todos, na discussão organizada pela Câmara Nacional Eleitoral na Universidade do Litoral (província de Santa Fe).
Fernández teve que desafiar o formato do programa que não facilitava a discussão, já que se limitava a dividir o tempo para que cada um falasse de um tema específico,e concentrou sua intervenção na crítica à política econômica do presidente Macri à atual crise social que o país sofre.
Macri, que tentou rebater as denúncias de Fernández fingindo desconhecer que sua política levou o desemprego na Argentina ao seu nível mais alto em treze anos: 10,1%, o que atinge 2.133.000 pessoas, declarou: “Hoje temos modernizado a Argentina, temos construído infraestrutura para o futuro. Temos melhorado a educação. Estamos travando uma batalha dura contra o narcotráfico. Voltamos ao mundo. Se pudemos todo isso, como não vamos poder consertar a economia?”
Fernández prosseguiu, com decisão: “Não sei em que país vive Macri. Está tudo bem? Não tem desemprego? Dos 39 bilhões de dólares que o FMI entregou houve fuga de 30 bilhões. Esses dólares não estão na produção, nem em pontes, nem em moradias, os levaram embora seus amigos, presidente. É hora que deixe de mentir”.
O candidato da Frente de Esquerda, Nicolás del Caño, também concentrou sua intervenção apontando para a devastação macrista e disse que “é impossível seguir as políticas do FMI, pagar uma dívida que é uma fraude e ainda assegurar que se está do lado das maiorias populares”.
Roberto Lavagna, economista que foi ministro de Economia durante a presidência de Eduardo Duhalde e, durante três anos, participou do governo de Néstor Kirchner, também se expressou contra a política econômica, responsabilizando Macri pelo aumento da pobreza e indigência e disse que já “basta” de frases feitas. Lavagna, que preferiu não se somar à chapa formada por Alberto Fernández e Cristina Fernández de Kirchner, que estão à frente nas pesquisas, defendeu, em sua participação no debate, políticas similares, com ênfase no crescimento econômico.
A política internacional foi outro ponto que mostrou as diferenças entre os candidatos. Neste tema, Macri defendeu indiretamente a intervenção da Venezuela, mostrando sua submissão aos Estados Unidos. “Não pode haver duplos discursos”, já que “ou se está com a ditadura ou com a democracia e isso tem questões práticas”.
Enquanto que Fernández assinalou: “A Venezuela tem problemas. Mais ainda os têm os venezuelanos que estão dentro ou os que tiveram que emigrar. Eu quero que os venezuelanos sejam os que resolvam o seu problema”.
E denunciou: “Macri está preparando a ruptura de relações para poder intervir”.
A crise do Equador também foi tratada. O candidato Del Caño saudou “os trabalhadores, camponeses e indígenas” do país sublevado e protestou contra os assassinatos de manifestantes nas mãos da repressão referindo-se aos “que morreram” pela repressão policial no levante contra as recentes medidas do presidente Lenín Moreno e se disse certo de que os equatorianos vão vencer a luta contra essa política parecida com a que pratica o atual governo argentino.
José Luis Espert (Unite) e Juan José Gómez Centurión (Frente NOS) se limitaram a fazer um arrazoado de propostas neoliberais, mas se portaram com nítido distanciamento de Macri, que está com sua popularidade em queda e 20 pontos percentuais atrás do primeiro colocado, Fernández, nas pesquisas eleitorais.
Na Argentina a legislação dá aos aspirantes à Presidência que superaram 1,5% dos votos válidos nas eleições primárias, realizadas no dia 11 de agosto, a condição de participar dos debates.
Durante as duas horas deste programa que foi exibido nacionalmente pelos principais canais de televisão, os candidatos abordaram também os direitos humanos, política de gênero, educação e saúde.
No próximo domingo, 20, os seis candidatos se enfrentarão novamente no segundo debate que agora acontecerá na cidade de Buenos Aires.