Sob o pretexto de controlar a inflação e baixar o preço do dólar, o governo de Maurício Macri aprofunda a destruição da economia argentina elevando os juros para 40%, hoje os mais altos do mundo. Macri anunciou também o corte no investimento público em mais de 1,5 bilhão de dólares.
Essas medidas de arrocho agravam a situação já tensa pelo desemprego alto, a diminuição dos salários, os aumentos cavalares das tarifas dos serviços públicos e tornam mais inatingíveis os créditos para a produção, radicalizando a desnacionalização da economia.
Com uma inflação que em 2017 chegou a 24,6% e que, segundo os próprios cálculos do governo, terminaria este ano em 15%, enquanto o Fundo Monetário Internacional diagnosticou 19%; e com o peso desvalorizando-se mais de 10% no mês passado, Macri, nas últimas duas semanas, aumentou 3 vezes os juros. O Banco Central anunciou em 27 de abril que incrementaria a taxa de 27,25% até 30,25%. Na quinta-feira, dia 3, a elevou para 33,25% . E apenas um dia depois, anunciou um novo movimento até 40%. (O que, considerada a inflação projetada, significaria um juro real de 25% ao ano).
Segundo dados oficiais, este ano, até o 30 de abril de 2018, cerca de 47 bilhões de dólares fugiram do circuito econômico argentino. Além de outros muitos que o Banco Central vendeu esta semana, e que seguirá vendendo, porque o governo mantém os principais preços dolarizados e, com a subida do valor do dólar (desvalorizando o peso), há um impacto direto sobre o custo de vida da população e o custo de operação das empresas verdadeiramente produtivas e não de fachada.
O chefe da bancada da Frente para a Vitória – Partido Justicialista, deputado Agustín Rossi, advertiu que a combinação de altas taxas de juros com o anúncio de reduzir o investimento em obras públicas implica que em 2018 “vamos ter recessão econômica ainda mais profunda e alta inflação. Com juros de 40% não há possibilidade de gerar crescimento porque todo mundo vai para a especulação financeira”. E destacou que a oposição busca impedir a aplicação dessas medidas no parlamento.
O coordenador do curso de Economia da Universidade de Moreno, Alejandro Robba, também condena o rumo que o governo toma: “O modelo que pretendem é exclusivamente agroexportador, porém nem isso vão conseguir. Esse setor, se não modificam o tipo de câmbio ou não lhe diminuem impostos também vai protestar dentro de meses”, disse, acrescentando que “os dólares que tanto prezam não vão ao setor produtivo mas ao financeiro, à especulação, que é o único que cresce. Esse filme já o vimos pelo menos duas vezes e acabou com milhares de argentinos na rua”.
Além disso, “há mais de 220 bilhões de dólares de argentinos em contas offshore, cifra que equivale a quase 40% do PIB argentino. Em 2016 a evasão de impostos de empresas multinacionais no país foi de 21,406 bilhões de dólares, uma cifra equivalente a 70% do orçamento total da província de Buenos Aires para o ano 2018”, denunciou o jornalista Tomás Lukin, em artigo no jornal Página 12 de segunda-feira, dia 7. Tudo isso facilitado com a liberalidade macrista abrindo a porteira para a remessa de divisas para o exterior.
Ele informou que o próprio Nicolás Dujovne, ministro de Fazenda de Macri, “que mantém milhões de dólares no exterior e recentemente lavou outra quantidade, admitiu que não pode negar que o aumento das taxas deve afetar a atividade econômica e insistiu em confirmar a avaliação do governo de 15% de inflação para este ano, apesar de que consultoras privadas locais e do exterior falarem que esta chegará a algo entre 19 e 25 pontos percentuais, embora há a possibilidade de que aumente, dadas as medidas adotadas”.
Na sexta-feira, 4, milhares de pessoas se manifestaram pelo centro de Buenos Aires contra os aumentos abusivos – os chamados tarifaços – nos serviços públicos impostos pelo governo. “Devem achar que o povo aguenta qualquer coisa que eles façam”, criticou um dos dirigentes da CGT, Juan Carlos Schmid, que advertiu que os protestos “vão se aprofundar” nos próximos dias.
SUSANA SANTOS