Em tentativa inglória de conter a queda do peso ante o dólar e em meio da maior mobilização de professores e estudantes universitários desde que, há um mês, começou a greve por mais verbas para a educação e maiores salários, o Banco Central da Argentina subiu, na quinta-feira, de 45 a 60% a taxa de juros, que atinge assim o nível mais alto do mundo.
A ideia de Macri e sua equipe, jogando gasolina no incêndio em que vive a economia do país vizinho, é que a divisa deixe de se desvalorizar e, assim, evitar que a inflação dispare ainda mais. A Argentina registrou inflação de 31,2% no período de 12 meses de julho do ano passado ao deste ano, segundo dados divulgados nesta quarta-feira pelo Instituto Nacional de Estatística e Censos do país (Indec). Há apenas 15 dias, o banco central argentino já tinha elevado a taxa de juros para 45%…
Enquanto isso, mais de 300 mil professores e estudantes de universidades públicas marcharam pelo centro de Buenos Aires em protesto pelos baixos salários e o ajuste do orçamento para a Educação aplicado por Macri, em um conflito que mantém suspensas as aulas há quatro semanas e para o qual não se vislumbra uma solução imediata.
A grande marcha, que também contou com a adesão de outros sindicatos, organizações sociais e partidos de oposição, começou frente ao Congresso Nacional e convergiu na Praza de Maio, frente à sede do governo, a Casa Rosada.
“Chamem a Mauricio e a Vidal [governadora de Buenos Aires]/ para que vejam / que este povo não muda de ideia / peleja e peleja pela educação” foi o canto que acompanhou a multidão que resistiu ao frio e a chuva que se manteve durante todo o dia na capital argentina.
“Na Casa Rosada há um grupo de empresários obstinados em destruir a universidade pública. E aqui há centenas de milhares obstinados em defendê-la”, afirmou Luis Tiscornia, dirigente da entidade de professores Conadu Histórica, um dos oradores do ato de encerramento da jornada de luta.
Inicialmente, a marcha culminaria no Ministério de Educação, mas diante da resistência do governo em dar resposta às reivindicações, o ponto final foi trasladado para a Praza de Maio pelos organizadores, das federações docentes (Conadu, Conadu Histórica e Fedun), das organizações estudantis (a FUA e suas federações regionais) e de trabalhadores não docentes (a Fatun).
A primeira oradora, longamente aplaudida, foi a Mãe da Praza de Maio Nora Cortiñas, depois falou Sergio Maldonado, o irmão de Santiago, morto em meio a uma operação repressiva na província de Chubut, há um ano. “Não queremos corte nem ajuste do orçamento para as universidades nem de nossos salários. Queremos que não percam da inflação. Aliás, queremos que pare a inflação, o governo não faz nada contra isso!”, disse Daniel Ricci, da Fedun, que também se solidarizou com “as reivindicações do resto dos sindicatos que estão brigando contra o arrocho que o povo está sofrendo”.
“Estão nos deixando sem nada. Um dia vão querer nos mandar embora com a desculpa de que não temos trabalho, nada a fazer, quando foram eles os que sucatearam tudo”, disse Claudio Sanmarino, trabalhador da Comissão Nacional de Energia Atômica. Sanmarino explicou que a CNEA “já não tem orçamento nem projetos” e que o trabalho que realiza está muito vinculado com a pesquisa e a educação universitárias. “Sem educação não há desenvolvimento, e é isso o que busca este governo”, frisou
“A universidade pública argentina é a única produtora de conhecimento necessário para que os argentinos tenhamos um futuro como o que a gente merece”, acrescentou, ao falar em representação da Fatun, Walter Merkins.
O governo de Maurício Macri buscou convencer o mercado e a sociedade de que já havia um entendimento com o Fundo Monetário Internacional (FMI), para conseguir um empréstimo que, segundo eles, seria a varinha mágica para atrair os já conhecidos investimentos internacionais. O Fundo, porém, respondeu rápido que só agora começará a negociação. O ministro de Fazenda, Nicolás Dujovne, confirmou que viajará a Washington para reunir-se com técnicos do organismo na próxima segunda-feira, dia 3.