O peso dos serviços públicos sobre o salário mínimo na Argentina se multiplicou por quatro desde a chegada de Mauricio Macri ao governo. Estimativas realizadas pelo Observatório de Políticas Públicas da Universidade de Avellaneda (Undav), na Grande Buenos Aires, revelam que essas tarifas representam 23,5% do total do piso legal dos salários que hoje equivale a cerca de 350 dólares. Antes da mudança presidencial essa relação atingia apenas 6%. Segundo reportagem do jornal Página 12, a Argentina passou a ocupar o terceiro lugar entre os países sul-americanos com maior incidência das tarifas sobre os salários mínimos.
“A Argentina se posicionava como o país da região com as tarifas dos serviços públicos mais acessíveis. Porém a política econômica aplicada desde dezembro de 2015 levou os valores para níveis similares aos dos países com tarifas mais caras”, adverte o informe. O posicionamento é encabeçado pela Venezuela onde, segundo as estimativas do observatório, as tarifas representam 36,5% do salário mínimo. A segunda posição é ocupada pelo Chile, onde os serviços públicos gastam até 24,9% do piso salarial. A terceira é para a Argentina e no quarto lugar ficou o Brasil onde os serviços básicos consomem 20,6%. As estimativas realizadas pelos investigadores da Undav consideraram os serviços residenciais de eletricidade, gás natural e água.
“De criticar o gasto em subsídios econômicos que melhorava a qualidade de vida das pessoas, passou-se a considerar natural o pagamento de juros que faz o Estado ao capital financeiro que, para o orçamento de 2019, superará os 560 bilhões de pesos”, expressam os pesquisadores, advertindo que “o endividamento que gerou a crescente carga de juros não modificou as condições nem a capacidade produtiva do país, mas financiou a fuga de divisas”.
Os economistas do Observatório de Políticas Públicas estimaram que os aumentos registrados ao longo dos últimos três anos atingiram 2.057% no gás natural, 1.491% na energia elétrica e quase 1.000% para o serviço de água potável. Em matéria de transporte, foram observados aumentos de 677% em pedágios, 375% no bilhete do trem, 332% nos ônibus de curta distancia e 177% na passagem de metrô.
“As empresas obtiveram taxas de lucro suculentas neste período, o que mostra a problemática de manter uma política de dolarização das tarifas de energia para os usuários, sejam residências ou empresas.
Em última instância o que acaba deteriorando-se são as condições do mercado interno que deve suportar maiores custos para pagar de sobremaneira um recurso que a Argentina tem à disposição”, afirma o documento.
O Instituto Nacional de Estatística e Censos da Argentina, INDEC, informou na terça-feira, 16, que a participação do salário sobre o total da economia diminuiu de 48,1% no segundo trimestre de 2017 para 45,2% no mesmo período deste ano. Ao mesmo tempo, a porção do ingresso nacional que se apropriam os empresários subiu de 43,6% para 45,9%. Os assalariados mais prejudicados foram os da indústria manufatureira, administração pública e ensino público, enquanto que os setores empresáriais mais beneficiados foram a mineração, os bancos, imobiliárias e serviços públicos privados.