O presidente argentino, Mauricio Macri, comemorou na segunda-feira a vitória de sua aliança Cambiemos na capital, na província de Buenos Aires e em outras 11 províncias nas eleições legislativas de domingo (21) e anunciou mais reformas, ‘tarifaços’ e endividamento, apesar de ter contraído em menos de dois anos a dívida mais alta na história do país, e também justificou o aumento dos combustíveis que rege desde as primeiras horas da última segunda-feira.
A ex-presidente e senadora eleita pela província de Buenos Aires, Cristina Fernández de Kirchner, que encabeça agora a maior força contrária ao governo de Macri, assinalou que a Unidade Cidadã (UC) emerge como a oposição mais firme e, embora admita que esta vez não foi suficiente para ganhar, advertiu que hoje não se acaba nada, hoje começa tudo para construir uma ampla aliança antioficialista alternativa.
Ao falar nas últimas horas de domingo ante centenas de militantes no clube Arsenal de Sarandí, município de Avellaneda, a ex-presidente refletiu que a recentemente criada UC – que nas eleições primárias de agosto passado ganhou por pouco mais de um ponto da Aliança Cambiemos na província de Buenos Aires –, desta vez não conseguiu, mas aumentou outros três pontos nas legislativas e lembrou que foram capazes de crescer, “a pesar de que temos nos enfrentado com uma enorme e inédita concentração de poder desde a recuperação da democracia”.
Afirmou que, porém, “o resto das forças opositoras não têm resistido ao avanço do oficialismo, enquanto nós temos crescido”, e chamou à unidade e à conciliação. Dos 3 milhões 229 mil 194 votos obtidos nas primárias abertas, agora atingiram 3 milhões 442 mil e 769, ou seja, 213 mil 575 votos mais, na maior província do país, destacando o ataque permanente e ameaçador dos meios de comunicação ligados ao governo.
Por sua vez, Macri expôs: “Enquanto a Argentina tiver déficit fiscal continuará tendo que se endividar. Temos um compromisso central que é reduzir a pobreza e o primeiro caminho é baixar a inflação. Se a gente não vai financiar o déficit com inflação, temos que financiar com dívida.”
Em coletiva de imprensa na Casa Rosada, ante a pergunta sobre uma possível reforma trabalhista, Macri advertiu que a Argentina entrou numa etapa de reformismo permanente e que não tem que ter medo das reformas.
Consultado sobre o aumento de 10% do preço dos combustíveis, que entrou em vigor na segunda-feira, depois de vários aumentos anteriores, Macri assegurou: “Justo agora no mundo o combustível aumentou, mas eu acredito que voltará a diminuir.”
O presidente também disse que insistirá para que todas as forças políticas acertem antes de 2019 uma reforma da previdência para ter um sistema do século XXI. Há elementos que apontam sobre o interesse em retornar ao sistema privado de aposentadorias.
A oposição em geral advertiu que resistirá a essas medidas e ainda abordará o tema da soberania, algo do qual este governo não quer falar.
Nestas eleições legislativas, Cambiemos ganhou na capital, Buenos Aires, e em 12 províncias. O peronismo, entre eles vários aliados do kirchenrismo, ganhou em 11 províncias. As surpresas foram: Salta, onde o governador peronista muito ambíguo Juan Manuel Urtubey, que se anotava para as eleições presidenciais, perdeu para Cambiemos, força da qual esteve sempre muito próximo; e La Rioja, onde perdeu o ex-presidente Carlos Menem, que ainda assim como segunda força irá ao Senado.
Em geral, a estas horas pode se dizer que os perdedores maiores nestas eleições são tanto a Frente Renovadora, que dirige Sergio Massa em aliança com outros partidos, com o nome de PAIS, que tirou um terceiro lugar distante e só pode manter uma província: Misiones. E ainda Florencio Randazzo, que foi ministro do Interior e do Transporte durante o governo de Fernández de Kirchner, junto ao ex-chefe de gabinete e senador da Frente para a Vitória, Juan Manuel Abal Medina, que formaram Cumplir, com um setor do Movimento Evita e que pode ter-se unido à UC; não conseguiu muito mais de cinco pontos e foi precedido pela Frente de Esquerda e dos Trabalhadores (FIT).
A FIT conseguiu um bom resultado nas urnas com um milhão e 300 mil votos em todo o país, impondo dois deputados nacionais na província de Buenos Aires. Na capital, o mesmo FIT conquistou três cadeiras sobre uma que já possui na Legislatura portenha.
Em Jujuy, a FIT teve a histórica votação de 18,30% dos votos para chegar ao terceiro lugar.
Mas o que o governo de Macri não tem podido deter é o crescente repúdio pela forma negativa em que tem tratado o caso de Santiago Maldonado, do qual não se responsabiliza, como se viu nestas horas em que continua o brutal encobrimento.
STELLA CALLONI – Correspondente do Jornal La Jornada