O presidente da França, Emmanuel Macron, chamou a União Europeia a reavaliar sua abordagem de política externa para a Rússia, argumentando que o curso atual não permite restaurar relações construtivas com Moscou.
“A política de sanções progressivas sobre situações congeladas não é mais uma política eficaz com a Rússia”, afirmou Macron durante uma coletiva de imprensa na terça-feira (25).
Ele assinalou que os europeus estão “em um momento de verdade em nossa relação com a Rússia, o que deve nos levar a repensar os termos da tensão que decidimos instalar”, e defendeu a realização de um “diálogo estratégico”.
Macron apontou que “hoje, [nós, os europeus] estamos no limite das políticas de sanções e, portanto, a questão do nível estratégico deve ser colocada a nós.”
Segundo ele, não devemos mais ser “simplesmente reativos” em relação à Rússia, o que implica que a União Europeia “reestruture profundamente” suas relações com Moscou, através de uma “revisão” da política do bloco europeu, que permita uma melhor compreensão dos objetivos da Rússia na Europa continental e de como a UE deveria responder a eles.
As declarações foram provocadas pela insistência de um repórter de uma tevê francesa em arrancar do presidente francês algo que melindrasse ainda mais a Rússia, sob alegação de que as sanções já aplicadas não levaram ao “questionamento do poder no local” e tiveram “escopo limitado”, se referindo a casos como Navalny e o episódio no aeroporto da capital bielorrussa.
Irritado, Macron retrucou: “Só para deixar claro para mim, que outro tipo de medidas o senhor tem em mente? Começamos um conflito armado? Cortamos completamente as relações? Vamos ainda mais longe – mas para onde?”
A primeira-ministra alemã Angela Merkel também se pronunciou sobre a necessidade de “melhorar as relações bilaterais” com Moscou e defendeu o projeto russo-alemão do gasoduto Nord Stream 2, que está perto de ser finalizado.
“Você pode ter opiniões diferentes e ainda conversar e se encontrar”, disse ela. “Diplomacia só tem chance se você conversar”, destacou.
Nos últimos meses, a ingerência dos países europeus, a reboque de Washington, nos assuntos internos russos, impondo mais sanções e expulsão mútua de diplomatas, assim como as provocações militares nas fronteiras da Rússia e acusações sem investigação e sem prova, levaram as relações entre Moscou e Bruxelas à beira do esgotamento.
No final de março, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, disse que o país efetivamente “não tem relações com a UE como organização”, porque “toda a infraestrutura dessas relações foi destruída por decisões unilaterais tomadas em Bruxelas”. Declaração feita durante a visita à China em comemoração aos 20 anos do Tratado de cooperação estratégica sino-russo.
Meses de tensão política e uma onda de novas sanções cortaram todos os vínculos entre a UE e a Rússia, disse o chefe da diplomacia russa, acrescentando que Moscou está pronto para retomar a cooperação se Bruxelas decidir que tem interesse. Alguns países europeus individuais, observou, ainda buscam laços mais estreitos com Moscou, “guiados por seus interesses nacionais”.
Em fevereiro, Lavrov havia registrado que o que deu início à deterioração das relações de Moscou com o bloco foi que, a partir do golpe de estado de 2014 em Kiev, a UE “culpou a Federação Russa por tudo o que está acontecendo” na Ucrânia após o Maidan.
Desde então, sublinhou, Bruxelas “destruiu consistentemente todos os mecanismos, sem exceção, que existiam com base em um acordo de parceria e cooperação”.
Lavrov não descartara, sequer, como último recurso, o rompimento do contato diplomático com o bloco, caso novas sanções à Rússia atingissem ‘áreas sensíveis’ da economia – havia, então, rumores sobre ‘cancelar’ a Rússia no sistema de pagamentos internacional SWIFT, que funciona sob tutela dos bancos ocidentais.
“Claro, não queremos nos isolar de viver no mundo, mas devemos estar preparados para isso. Se você quer paz, prepare-se para a guerra”, enfatizou Lavrov.
“Se e quando os europeus decidirem eliminar estas anomalias nos contatos com o seu maior vizinho, claro, estaremos prontos para construir estas relações com base na igualdade”, afirmou Lavrov, que fizera questão de destacar a “agenda muito intensa” com o Oriente – leia-se, China – “que está se tornando mais diversificada a cada ano.”