Depois de quatro horas de reunião com ministros, líderes parlamentares, das organizações sociais, sindicais e empresariais, Macron declarou que a França vive um estado de “emergência econômica” e, no afã de aplacar a ira que transbordou em consecutivas manifestações no país, anunciou medidas como aumento do Salário Mínimo em 100 euros, e a retirada de impostos sobre aposentadorias de até 2.000 euros mensais.
Fazendo uma mea culpa, Macron declarou ainda que “ouviu e entendeu os manifestantes” de cuja raiva e indignação disse que “foram profundas e em muitas formas legítimas” e, prosseguiu, “posso ter lhes dado a impressão que estas não eram as minhas preocupações e que tinha outras prioridades. Sei que feri alguns de vocês com minhas palavras”.
Mas tentou balizar os manifestantes dizendo que os protestos – e não suas medidas de arrocho e favorecimento dos mais ricos – “perturbaram profundamente a nação” e levaram a “uma série de violências inaceitáveis”.
MÍNIMO
O aumento do mínimo atualmente em 1.498,47 euros, fica aquém dos 1.800 euros exigidos pela principal central sindical francesa, a CGT, apesar disso, Macron declarou que este aumento seria para “permitir ao trabalhador francês viver com dignidade”.
Se os recuos serão suficientes para esvaziar as manifestações já previstas para esta semana, e o que acontecerá no próximo sábado, se o “Ato V” dos ‘coletes amarelos”, ou um interregno, fica para ser visto. Na segunda-feira, os secundaristas mobilizaram 450 escolas no país inteiros, sendo que 50 foram ocupadas, um ritmo um pouco mais acelerado do que o de sexta-feira. Os universitários prometem ir às ruas na quinta-feira. A CGT anunciara greves e manifestações na sexta-feira. E, por enquanto, não foi revogada o convite, pelas redes sociais, para o bota fora de Macron, no sábado (15), “no Palácio Eliseu”. O líder do França Insubmissa, Jean-Luc Mélenchon, considerou as promessas de Macron, “vã” e manteve a pressão.
Os protestos dos “coletes amarelos” se repetem há quatro sábados, com multidões na França inteira, repudiando nas ruas e estradas o arrocho de Macron e seu favorecimento dos ricos. No último sábado, apesar de um aparato policial gigantesco, os confrontos se repetiram em Paris, Tolouse, Bordeaux, Lyon, Marselha e muitas outras cidades.
BLOQUEIOS
Os manifestantes bradaram a plenos pulmões “Macron Démission” [Macron Demissão], “Macron Fils à Maman” [Macron filho de Mamãe] e “Vai Cair”, empunharam bandeiras tricolores, cantaram A Marselhesa, marcharam até prefeituras e ainda fecharam estradas e praças de pedágio. Foram bloqueadas também as ligações por rodovia com a Espanha, Bélgica e Itália. Segundo o Ministério do Interior, com dados atualizados neste domingo (9), foram feitas 1.723 detenções e 1.220 ficaram sob custódia e há 135 feridos, inclusive jornalistas, atingidos por balas de borracha da tropa de choque.
Pesquisas de opinião revelam o isolamento de Macron, cuja popularidade encolheu para 23%, em contraste com o apoio aos “coletes amarelos”, que é de 2 em cada 3 franceses, segundo o Le Monde.
O “colete amarelo” – a veste fluorescente que é obrigatória a todo motorista para uso em situação de risco na estrada – tinha tudo para virar, como virou, um ícone da resistência ao arrocho que aflige os franceses. A gota d’água foi a imposição de um imposto “ecológico” sobre o diesel, fundamental nas cidades médias e áreas rurais, depois de aumento de 23%, em 12 meses.
Imposto ainda mais deletério quando o próprio Macron cortara o imposto sobre as fortunas. Ao isso se somou a ação do presidente banqueiro para agravar a reforma da aposentadoria, o corte nos serviços públicos e o arrocho, com cada vez mais mês sobrando no final do salário. Até a indignação correr as redes sociais e explodir nas ruas.