Ao tempo em que anuncia que a “Milícia Bolivariana”, constituída de civis voluntários, passou de 400 mil integrantes em abril para 1,6 milhão, o Departamento Geral de Contrainteligência Militar (Dgcim) encarcera dirigentes sindicais.
Com a prisão de mais cinco, realizada no dia 18, já são 15 os sindicalistas que dirigiam protestos contra quebras contratuais de empresas de produtos básicos situadas na região do rio Orinoco (onde fica situado o chamado Arco Mineiro, que reúne as principais riquezas minerais venezuelanas), que comandavam manifestações de trabalhadores, detidos por força militar.
Dirigentes sindicais e deputados denunciam a “militarização da vida política do país” e veem com apreensão o anúncio da ampliação de contingente da Milícia Bolivariana, sob a alegação de supostas ameaças do governo de Iván Duque, da Colômbia, que, segundo Maduro, “pessoalmente dirige a preparação de ações contra a Venezuela, denuncio isto ao mundo. Age com o apoio e o financiamento da Casa Branca” e que a essas ‘ações’ se acoplaria o futuro governo de Bolsonaro.
Com o país em colapso econômico (a Cepal anuncia que o PiB deste ano vai apresentar queda de 18%, acumulando 6 anos consecutivos de queda, além de uma inflação anual na casa dos 1.000.000%), Maduro – cujo plano de recuperação econômica, atrelada a uma fantasmagórica bitcoin acoplada ao petróleo do país não dá sinais de vida – com mais de 3 milhões de venezuelanos atravessando as fronteiras em busca de sobrevivência, após eleições em que os opositores tiveram dias contados para campanha e inscrição, Maduro tem apelado a uma unidade em torno de si contra ameaças externas.
Uma semana antes do anúncio da ampliação dos contingentes voluntários disse – sem fornecer provas – que o governo de Washington quer assassiná-lo e tem culpado as sanções externas pela crise econômica venezuelana sem paralelo em todo o continente.
Nestas condições, dirigentes sindicais de diversos setores da Venezuela, desde os mineradores de ferro do Orinoco e petroleiros, até trabalhadores em telecomunicação e universitários formaram uma aliança sindical, a Intersetorial de Trabalhadores da Venezuela, que lançou manifesto no dia 14 de novembro e levou uma multidão às ruas de Caracas no dia 28 exigindo o fim dos “salários de fome”, um mínimo capaz de adquirir uma cesta básica e contra o “Pacote Antitrabalhador de Maduro”.
Como denuncia a Intersectorial, o pacote inclui uma “escala salarial” que começa com um mínimo avaliado em R$ 125 no dia de seu lançamento, em agosto, um valor já baixo e, imediatamente corroído por uma inflação galopante, numa “pulverização dos ingenssos dos trabalhadores”, além do “desconhecimento de convenções coletivas”.
Tanto o secretário-geral do Sindicato dos Trabalhadores Ferromineros (como são chamados os mineiros do setor de ferro na Venezuela), Rubén González, como os da empresa estatal de alumínio a Venalum, José Hidalgo, Noel Gerdez, Néstor Morillo e Andrés Rojas, comandavam greves em suas empresas e estão agora presos na prisão localizada no Estado de Monagas.
Entre os que se manifestaram contra a prisão, destacamos o presidente da Federação dos Trabalhadores Universitários, Eduardo Sanchez, que chamou os trabalhadores a realizarem assembleias, se manifestarem diante do Ministério Público e nas ruas do país “até a libertação dos dirigentes sindicais”.
“Somos trabalhadores, não somos terroristas, se ao defendermos nossos direitos, seremos vítimas de armações para irmos presos, estamos dispostos a correr o risco e ao presidente dizemos: seguimos na luta; isso não se acaba”, declarou durante manifestação diante da sede da Promotoria Geral da República .
“Gonzalez foi detido quando esboçava ante o país todas as queixas dos trabalhadores”, acrescentou.
Sanchez denunciou ainda que o dirigente sindical da “empresa Ferrominera foi detido na última semana de novembro quando chegava a sua residência, na cidade de Guayana, durante a madrugada de 29 de novembro após participar da marcha intersindical do dia anterior em Caracas”.
“O companheiro passou sua primeira noite detido, jogado no chão depois de atado a uma cadeira de ferro. Agora querem julgá-lo em tribunais militares. Não se pode acusar sindicalistas de desacato ou ultraje a autoridades militares, quando nunca fizemos provocações com integrantes das Forças Armadas.”
“Também não se pode dizer que González perturbou a ordem pública por defender os direitos constitucionais dos trabalhadores. Hoje, Rubén Gonzalez e demais sindicalistas se encontram detidos em um velho cárcere conhecido na Quarta República porque para lá levavam os presos por delitos de consciência. Assim como os lutadores de então, nós não nos rendemos”, declara Sanchez.
Juan Veliz, dirigente sindical da empresa estatal de telecomunicações, Cantv, declarou que pediou ao Ministério de Relações Interiores que “explique por que este situações acontecem nas prisões do país”.
Veliz chamou os trabalhadores a “manterem as mobilizações em defesa de seus direitos” e acrescentou que não teme se o resultado das mobilizações for a prisão: “Se este é o custo, não tenho medo. Hoje o presidente que diz a favor dos trabalhadores mantém 15 novos presos políticos que são trabalhadores. Seguiremos lutando porque temos a razão, não estamos inventando nada”.