Depois de uma sequência de apagões nunca vista antes no país, o ministro da Energia da Venezuela, Luis Motta Dominguez, foi demitido, nesta segunda-feira, pelo presidente Maduro.
Dominguez era um dos ferrenhos defensores da versão de “sabotagem” adotada por Maduro e propalada pelo ministro da Comunicação, Jorge Rodriguez, para explicar os blecautes em série que acabaram de estabelecer um caos no país.
O novo ministro designado por Maduro é Igor Gavidia, um engenheiro elétrico formado em 1983 pela Universidade Central da Venezuela. Ele também exercerá a função de presidente da Corpoelec, estatal do setor.
A demissão de Dominguez, deixa no ar a pergunta acerca da razão para tal pois, se a tese por ele advogada da “sabotagem” como única causa para os apagões sucessivos e generalizados fosse verdadeira, porque destituí-lo em meio a um caos causado pela ação hostil dos Estados Unidos, como tem apontado, desde o primeiro momento, Maduro?
Fosse verdadeira a causa apontada pelo governo para os apagões, o ministro agora demitido seria, assim como todos os venezuelanos, a vítima e não o responsável pelas danosas falhas.
Dominguez, que esteve à frente da pasta de Energia nos últimos quatro anos, foi acusado por Rafael Ramírez e Hector Navarro, ex-ministros do setor durante o governo de Hugo Chávez, de “inépcia e indolência” que levaram a geração, transformação e transmissão de energia a sofrerem por falta de manutenção, o que é obrigatório para o satisfatório funcionamento do sistema como um todo.
Tanto Ramírez quanto Navarro tiveram a coragem de se contrapor, com dados e análises acerca das sucessivas ocorrências de apagões que deixaram todo o país às escuras, à tese, cercada de mistério, por falta de comprovações, da dita “sabotagem”. Um descalabro de tal monta que fez com que tanto no trabalho como nas escolas, as atividades fossem suspensas ou tivessem o número de horas reduzidas.
O bombeamento de água foi muito afetado, deixando milhões de venezuelanos sem acesso a água potável em suas torneiras por dias. O transporte público, em particular o metrô de Caracas, ficou paralisado, com funcionamento intermitente, desde o dia 7 de março, quando o primeiro dos mega-apagões teve início.
Isso, em uma economia já em franco declínio, com uma moeda desvalorizando-se em velocidade que lembra a vista durante a crise da segunda década do século passado na Alemanha e com a escassez de produtos básicos, em uma deterioração que já levou 3 milhões de venezuelanos a cruzarem a fronteira por dias melhores.
Além disso, Gavidia não parece o mais indicado para atacar o problema do setor elétrico venezuelano, uma vez que já trabalhava muito próximo a Dominguez e, mesmo quando atuou no período de Hugo Chávez, era quem mais advogava pelo racionamento, para a “estabilização da distribuição de energia” e não pelo investimento como alavanca para o crescimento do suprimento de energia elétrica ao país, motor central de qualquer projeto nacional-desenvolvimentista.
Foi em meio aos planos de Gavidia, que Chávez passou por um dos seus momentos menos eloquentes, ao propor aos venezuelanos 3 minutos para tomarem banho e relatar como ele mesmo o fazia.
Ramírez e Navarro, assim como diversos dos líderes que serviram ao país durante o período de governo de Chávez, advogam a saída de Maduro, a reformulação do Conselho Nacional Eleitoral, e a convocação de eleições para todos os níveis de governo e parlamento em um amplo movimento denominado de Aliança pelo Referendo Consultivo, mecanismo que permite a convocação das eleições gerais a partir da vontade popular de mudanças.
NATHANIEL BRAIA