Maduro reconhece “fracasso nos modelos produtivos” que adotou

Apesar do reconhecimento tardio do fracasso, Maduro não aponta quais foram os erros nem traz alternativas

“Fracassamos em todos os modelos produtivos que tentamos até agora e a responsabilidade é nossa, minha, tua”, disse o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, em sua intervenção no IV Congresso do Partido Socialista Unido da Venezuela, PSUV.

O tardio reconhecimento do fracasso feito por Maduro – que, de forma patente, lavava as mãos diante a desastrada política governamental que provocou a crise que o país vive, jogando a responsabilidade sobre o conjunto do paartido – não se desdobrou em propostas alternativas para superar a crise.

A plenária estava sob a tensão de um apagão que deixou mais de 80% de Caracas às escuras, na segunda-feira, e que iniciou na hora em que Diosdado Cabello, o primeiro vice-presidente do partido, postulava Maduro para a reeleição como presidente do PSUV. A explicação de “sabotagem elétrica” ensaiada pelo governo não colou. Ángel Navas, presidente da Federação de Trabalhadores do Setor Elétrico (Fetraelec), afirmou que a falta de manutenção, e não a ‘sabotagem’, foi a causa do apagão. E na terça-feira, 31, novamente a capital ficou, durante algumas horas, sem energia. A partir das 9:00 da manhã, os moradores da Grande Caracas saíram assustados dos prédios, dos vagões do metrô, das escolas e a situação de toda a cidade ficou caótica até o meio-dia.

Seus planos para a recuperação econômica se baseiam em “chegar a 6 milhões de barris diários em 2025 ou antes”. Isso, frente a uma produção atual que caiu de 3.2 milhões de barris diários em 2008 para 1.5 milhões em 2018. Proposta de difícil viabilização, vez que a estatal Petróleos de Venezuela – responsável por 96% das divisas do país através da exportação do óleo – além dos problemas de manutenção que a levaram a essa queda na produção, sofre sanções do governo dos EUA.
O setor agrícola abastece hoje apenas 25% do consumo nacional, quando 10 anos atrás contribuía com 75% , segundo a Federação Nacional de Agricultores. Já a indústria funciona a 30% de sua capacidade, conforme declarou a Confederação Venezuelana de Industriais, Conindustria. “A importação desenfreada que favorece uma casta importadora-financeira provoca um severo processo de desindustrialização , além de demolir os recursos dos trabalhadores e levar a um processo de miséria extrema”, assinalou o economista Manuel Sutherland, diretor do Centro de Pesquisa e Formação Operária (CIFO).

No final do congresso, Diosdado Cabello ratificou “por aclamação” o presidente, Nicolás Maduro, como máximo responsável da agremiação. E não só isso, nessa decisão sem debate, nem espaço para outra proposta, outorgou a Maduro “todas as faculdades, poderes e autoridade necessária para que tome as decisões no sentido de nomear a direção nacional do PSUV, assim como qualquer outra em matéria organizativa que seja necessária para o fortalecimento do partido”. Essas medidas, segundo diz Cabello, seriam para “garantir que o PSUV nos próximos quatro anos esteja a altura das circunstâncias”.

SUSANA SANTOS

Compartilhe

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *