O juiz Javier Cosentino, sem nenhuma comunicação prévia, ordenou invadir, em Buenos Aires, a Casa da Associação das Mães da Praça de Maio presidida por Hebe de Bonafini, para supostamente fazer um inventário dos bens que poderiam ter, no lugar, as líderes dos direitos humanos.
A ação policial aconteceu na quarta-feira, 31 de janeiro, em pleno recesso judiciário na Argentina. Mas elas ficaram dentro do local já que, na noite de domingo, circularam rumores sobre a ação. Hebe, do alto de seus combativos 89 anos, lhes advertiu que se quisessem entrar teriam que quebrar tudo, com elas dentro. Afirmou em coletiva de imprensa que “querem nos pôr de joelhos e não vamos permitir essa barbaridade. Tentam destruir a história numa ação ilegal e violando as garantias constitucionais”.
Esses setores do Judiciário alinhados com o governo de Mauricio Macri, desrespeitando seus próprios meios de ação, chegaram sem avisar a Bonafini nem aos advogados sobre essa invasão que, conhecendo o prestígio das Mães, inclusive previa que se existisse risco para a preservação da documentação que ali se guarda, deveriam fechar o local, restringindo o acesso às áreas onde se localizassem esses documentos.
Ao conhecer essa situação centenas de pessoas, dirigentes políticos, representantes de movimentos sociais, organismos humanitários e entidades juvenis chegaram na manhã da quarta e rodearam solidariamente a sede das Mães.
Bonafini assinalou que na sede das Mães tudo é propriedade da Associação respondendo ao juiz Cosentino, que declarou que devia ser investigada a entidade pelos problemas financeiros da Fundação Mães da Praça de Maio, provocados pelo corte de todos os programas de ajuda que o governo de Cristina Kirchner fornecia a essa referência na luta pela justiça e pela memória das vítimas da ditadura que infelicitou a Argentina entre os anos 1976-1983.
Na avidez de realizar a invasão foi ordenada a suspensão do recesso Judicial – que acontece durante todo mês de janeiro – quando só faltavam três dias para que este começasse a funcionar normalmente. Hebe Bonafini frisou que foi um ato de provocação, considerando que é uma das tantas medidas utilizadas pelo governo do presidente Mauricio Macri, quando quer desviar a atenção ante a situação crítica que vive o país, em meio a uma onda de demissões, e em momentos em que se anuncia uma suposta redução do Estado cujas estruturas ele mesmo incrementou em 25% nos dois últimos anos.