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“Meu primeiro encontro com João das Neves foi há 50 anos, em 1968”, afirma o maestro, compositor e diretor artístico do CPC-UMES, Marcus Vinícius, sobre sua convivência com o dramaturgo.
“Havia chegado no Rio e entrei em contato com os que faziam o Grupo Opinião. Eu era vizinho do teatro e sempre estava passando por lá. Encontrei diversas vezes com João nas assembleias da classe artística e assim foi se aprofundando a minha convivência com João e o pessoal do Opinião.
“Logo veio o primeiro trabalho que participei com ele, em 1970, o show Opção. Ele era o diretor do show que fiz, cantando junto com Sergio Ricardo e Sidney Miller. Neste show, a cada semana tínhamos um convidado, como Paulinho da Viola, Beth Carvalho, Luiz Eça.
“Eram atos de resistência, com grande parte dos artistas já no exílio.
“Ao longo de seus trabalhos, João das Neves se revelou um grande diretor de espetáculos musicais. Dirigiu Chico Buarque, entre tantos outros. De muitas formas, ele foi se tornando uma pessoa relevante nas artes cênicas do país.
“Voltei a me reencontrar com ele quando João retornava de um trabalho em Berlim Oriental, de peças radiofônicas. Ele trouxe elementos para fazer um seminário sobre esse gênero e eu participei desse seminário.
“Passou-se muito tempo, já em 2014, houve um grande reencontro, quando ele foi convidado para dirigir a encenação de “Os Azeredo mais os Benevides”, uma iniciativa do Centro Popular de Cultura da UMES, um grande resgate da obra de Vianinha, que seria encenada pelo CPC-UNE, e que fora abortada quando se instalou a noite do golpe de 1964.
“Foi muito gratificante esse trabalho, no qual eu produzi as músicas, mantendo a única original, que abre a peça, Chegança, de Edu Lobo. Fui fazendo a partir de discussões com ele sobre os momentos de entrada das músicas e ele aprovou as propostas que eu trouxe. Era muito observador. Discutia com interesse os momentos em que devíamos inserir trechos de domínio público do nosso cancioneiro popular.
“De modo que ele manifestou mais uma vez essa aptidão para o espetáculo musical, como já havia feito no trabalho muito especial com Paulo César Pinheiro, ‘Besouro Cordão de Ouro’, em torno da vida de uma lenda da capoeira.
“Pudemos ver esse vigor e essa percepção criativa na reedição da peça ‘Arena Conta Zumbi’, que fora dirigida por Augusto Boal e voltou a ser encenada em São Paulo, a pedido de Cecília, a viúva de Boal.
Desde aquele seu famoso trabalho, ‘O Último Carro’, até estas direções mais recentes, sempre vemos um tino cênico e musical, que só temos a enfatizar para dizer que João das Neves ficará como um dos destaques da dramaturgia brasileira”.