O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), informou que o ministro da Economia, Paulo Guedes, “tem proibido a equipe econômica de conversar comigo” e que agora as conversas com o governo acontecem através do ministro da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos.
“Eu não tenho conversado com o ministro Paulo Guedes, ele tem proibido a equipe econômica de conversar comigo. Ontem, a gente tinha um almoço com o Esteves [Colnago] e com o secretário do Tesouro para tratar do Plano Mansueto, e os secretários foram proibidos de ir à reunião”, afirmou Maia, na quinta-feira (3), em entrevista à GloboNews.
“Foi encerrada a interlocução”, enfatizou.
“Então, decidi que a relação da presidência da Câmara será com o ministro Ramos, e o ministro Ramos conversa com a equipe econômica, para não criar constrangimento mais para ninguém”, continuou.
“Mas isso não vai atrapalhar os nossos trabalhos, de forma nenhuma”, garantiu.
A própria permanência de Paulo Guedes no governo Bolsonaro está sendo questionada. Além da birra contra Rodrigo Maia, o ministro está com a sua relação com o Senado abalada desde que acusou os senadores de estarem cometendo um “crime contra o país” por terem derrubado o veto de Jair Bolsonaro que impede o reajuste no salário dos servidores da área da saúde até 2021. O veto foi mantido pela Câmara.
Os senadores aprovaram a convocação de Paulo Guedes para prestar esclarecimentos sobre sua fala.
Dentro do governo Bolsonaro, Guedes está tentando arranjar briga com os ministros e secretários que defendem o investimento público como forma de evitar uma catástrofe maior na economia.
Paulo Guedes acredita que mesmo diante de uma pandemia, o Estado deve arrochar. Para defender que o teto de gastos – Emenda Constitucional 95 – deve continuar engessando a economia, chegou a insinuar impeachment de Bolsonaro.
“Os conselheiros do presidente que estão aconselhando a pular a cerca e furar teto [de gastos] vão levar o presidente para uma zona sombria, uma zona de impeachment, de irresponsabilidade fiscal. O presidente sabe disso, o presidente tem nos apoiado”, disse.
“Não haverá apoio do Ministério da Economia a ministros fura-teto. Se tiver ministro fura-teto, eu vou brigar com o ministro fura-teto”, insistiu.
Durante agosto, Guedes viu parte de sua equipe se desintegrar. Foram cinco indicados por ele que deixaram seus cargos.
Mansueto Almeida deixou o comando do Tesouro Nacional, Rubem Novaes deixou a presidência do Banco do Brasil e Caio Megale abandonou a diretoria de programas do Ministério da Economia.
Mais tarde, os secretários de Desestatização e Privatização, Salim Mattar, e o de Desburocratização, Gestão e Governo Digital, Paulo Uebel, também abandonaram o barco.
Segundo Guedes, “houve uma debandada. Salim falou: ‘A privatização não está andando, prefiro sair’. Uebel disse: ‘A reforma administrativa não está sendo enviada, prefiro sair’. Esse é o fato, essa é a verdade”.
DESMONTE
O presidente da Câmara disse que Jair Bolsonaro está “desmontando” toda a política de preservação ambiental que vinha sendo construída desde a década de 1990.
“Infelizmente o presidente Bolsonaro (…) ganha a eleição com uma outra narrativa, com um outro discurso, e vai ao longo do ano de 2019 no Ministério do Meio Ambiente desorganizando ou desmontando tudo aquilo que foi construído ao longo de muitos anos, desde a década de 90”, disse.
Durante live realizada pelo Estadão, Maia avaliou que a política de Jair Bolsonaro, que tem permitido os maiores índices de desmatamento e queimadas da Amazônia e Pantanal, “certamente teve um impacto muito grande na nossa imagem no mundo e, mais que isso, teve impacto nas decisões de investimentos no país”.
“E nós, sem dúvida, precisamos sim atrair capital externo”, continuou.
Segundo Maia, “do ponto de vista da Câmara, estamos tentando construir consensos para mostrar a importância da preservação do meio ambiente para que o país recupere a capacidade de atração de investimentos num ambiente seguro, com duas âncoras importantes: a fiscal e a ambiental”. “Sem essas duas âncoras, nada será relevante”.
“Uma agenda na contramão disso [causa] um impacto suicida no crescimento econômico, desenvolvimento do nosso país, pela retração dos investimentos que já começaram a acontecer e vão se aprofundar no futuro”, concluiu.