E alerta os parlamentares que o governo está procurando cooptar: “Eu quero saber em que Orçamento para o ano de 2021, com todo problema do teto de gastos, que eles poderão cumprir, se vitoriosos, essa promessa (da liberação das emendas)”
Bolsonaro admitiu interferir no processo de eleição da Mesa da Câmara após uma reunião com deputados do PSL na quarta-feira (27), em conversa com apoiadores na saída da residência oficial do Palácio da Alvorada.
“Viemos fazer uma reunião com 30 parlamentares do PSL e vamos, se Deus quiser, participar, influir na presidência da Câmara com esses parlamentares, de modo que possamos ter um relacionamento pacífico e produtivo para o nosso Brasil”, afirmou Bolsonaro, que apoia Arthur Lira (PP-AL) para a presidência da Câmara.
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), reagiu à fala de Bolsonaro em entrevista coletiva na tarde da quarta-feira (27). Maia apoia e é articulador do bloco democrático que sustenta a candidatura de Baleia Rossi, do MDB de São Paulo.
“É um alerta aos deputados e deputadas que a intenção do presidente é transformar o Parlamento num anexo do Palácio do Planalto, o que enfraquece o mandato de cada deputado e cada deputada e, principalmente, o protagonismo da Câmara dos Deputados nos debates com a sociedade”, declarou Maia, em resposta.
Maia já teve uma conversa áspera com o ministro da Secretaria de Governo, general Luiz Eduardo Ramos, por conta dessa nefasta interferência e disse que se excedeu com o ministro.
“Eu já mandei o recado pedindo desculpas pelo meu excesso. Mas acredito que essa interferência do governo no Parlamento é uma interferência que terá sequelas de qualquer lado, porque a execução do Orçamento precisa ter o mínimo de organização e compromisso republicano, democrático”, advertiu.
Maia alertou que o governo não tem maioria no Congresso e quer formar maioria apenas para o processo eleitoral.
“A forma como o governo quer formar maioria não vai dar certo, porque essas promessas não serão cumpridas em hipótese alguma. Não há espaço fiscal”, criticou Maia.
“Todos estão legitimados para exercer suas funções, nenhum parlamentar pode ser prejudicado por ser a favor ou contra o governo”, prosseguiu.
“Pela conta que eu fiz e pelo Orçamento que nós teremos para 2021, pelo que eu já vi que o governo está prometendo junto com seu candidato, vai dar pelo menos uns R$ 20 bilhões de emendas extraorçamentárias”, disse.
“Eu quero saber em que Orçamento para o ano de 2021, com todo problema do teto de gastos, que eles poderão cumprir, se vitoriosos, essa promessa. A cada dia que passa, as pessoas vão vendo que vão acabar sendo enganadas nesse ‘toma lá, dá cá’”, alertou, indicando o que o governo prometeu aos deputados do PSL para apoiarem o candidato apoiado por Bolsonaro para a presidência da Câmara.
“Vai ser muito difícil tudo que eles prometeram eles conseguiram encaixar dentro do Orçamento primário”, avaliou.
O presidente da Câmara minimizou um possível apoio de deputados do seu partido, o DEM, ao candidato Arthur Lira.
Segundo Maia, “existem divergências, como certamente existem em todos os partidos, mesmo nos partidos da base, onde os deputados divergem, mas não falam, com medo de represálias, de pressão, de ameaças”.
Ele comentou também sobre a reunião de Lira com a bancada do PSL na tarde da quarta-feira. O PSL estava no bloco que apoia o candidato de Maia, Baleia Rossi, mas após lista assinada por deputados alinhados a Bolsonaro aderiu ao bloco de Lira.
De acordo com Rodrigo Maia, caso mais algum partido entre para seu bloco, dará o direito de escolher primeiro um cargo na mesa diretora. “E quem no nosso bloco faria a primeira escolha se não for o PSL, é o PT. Então se o PT escolher a primeira vice, na tese de o PSL ficar no bloco do governo, caberá ao PT a primeira escolha”, disse.
“É o que eu acho que pode acontecer se o PSL mantiver a posição de hoje em relação aos blocos”, arrematou o presidente da Câmara.
Na entrevista, Maia, mais uma vez, manifestou contrariedade com a decisão da Mesa que decidiu pela eleição presencial, sem flexibilizar para os parlamentares que se encontram no grupo de risco. Ele disse que vai tentar garantir o máximo distanciamento possível entre os parlamentares, servidores e imprensa na hora da votação.
A eleição para a nova mesa da Câmara acontecerá no dia 1º de fevereiro.
Com informações da Agência Câmara de Notícias