Depois de Bolsonaro compará-lo a uma “namorada” com problemas (“Você nunca teve uma namorada e, quando ela quis ir embora, o que você fez? Não pediu para ela voltar? Você não conversou?”), o deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara dos Deputados, declarou:
“Eu não preciso almoçar, não preciso do café e não preciso voltar a namorar. Ele [Bolsonaro] precisa ter mais tempo pra cuidar da Previdência e menos tempo cuidando do Twitter, porque, se não, a reforma não vai andar.
“Se o presidente não falar comigo até o fim do mandato, não tem problema. Não preciso falar com ele. O problema é que ele precisa conseguir várias namoradas no Congresso, são os outros 307 votos que ele precisa conseguir [para aprovar a reforma da Previdência]”.
Bolsonaro declarara que os ataques de seu filho, Carlos, que puxou o cordão bolsonarista contra Maia na Internet, não eram motivo para que o deputado Maia deixasse as articulações do ataque à Previdência (v. Maia reage a agressões bolsonaristas e deixa articulação da reforma da Previdência).
“Ele [Bolsonaro] está transferindo para a presidência da Câmara e do Senado uma responsabilidade que é dele. Então, ele fica só com o bônus e eu fico com o ônus de ganhar ou perder. Se ganhar, ganhei com eles. Se perder, perdi sozinho”, disse o deputado Maia, em entrevista ao jornal “O Estado de S. Paulo”
“Não fui só eu que fui criticado. Todo mundo que de alguma forma fez alguma crítica ao governo, recebe os maiores ‘elogios’ da rede dos Bolsonaro. Isso é ruim, porque você não respeitar, e não receber com reflexão uma crítica, não é um sinal de espírito democrático correto”.
Enquanto isso, no Chile, em reunião com algumas carcomidíssimas múmias pinochetistas, Bolsonaro declarou, com seu costumeiro estilo Tico e Teco, que “os atritos que acontecem no momento mesmo estando calado fora do Brasil acontecem na política lá dentro porque alguns não querem largar a velha política”.
Foi intensamente aplaudido pelas múmias chilenas, todas fascinadas com a “nova política” de Bolsonaro.
“Até perdoo o Rodrigo Maia pela situação pessoal que ele está vivendo“, disse Bolsonaro, referindo-se, como seu filho já fizera, à prisão de Moreira Franco, esposo da sogra do deputado, pela Operação Lava Jato.
“Quando você tem um problema desse”, disse Maia, sobre a prisão de Temer e Moreira Franco, “ele [Bolsonaro] vincula logo à política, ao desgaste do Parlamento. Isso é ruim. As instituições precisam funcionar. Uns gostam da decisão, outros não. Mas ela precisa ser respeitada e aquele que se sentir prejudicado por uma decisão da Justiça tem o poder de recorrer”.
Segundo o deputado Maia, “o Brasil precisa sair do Twitter e ir para a vida real. Ninguém consegue emprego, vaga na escola, creche, hospital por causa do Twitter. Precisamos que o País volte a ter projeto. Qual é o projeto do governo Bolsonaro, fora a Previdência? Fora o projeto do ministro Moro? Não se sabe. O governo é um deserto de ideias”.
De ideias e de homens – e de mulheres.
Queixou-se o deputado de que “o governo pode me delegar a responsabilidade de construir uma base para o governo. Hoje, o governo não tem base. Não sou eu que vou organizar a base. O presidente da Câmara sozinho, em uma matéria como a reforma da Previdência, não tem capacidade de conseguir 308 votos. Acho que quanto mais eles tentam trazer para mim a responsabilidade do governo, mais está piorando a relação do governo com o Parlamento”.
Segundo o presidente da Câmara, Bolsonaro “precisa colocar em prática a nova política” (que, aliás, ninguém sabe o que é, porque não é nada, apenas um slogan publicitário, isto é, propaganda enganosa para os especialmente otários).
Por fim, disse Maia, “eles [Bolsonaro & trupe] construíram nos últimos anos o ‘nós contra eles’. Nós, liberais, contra os comunistas. O discurso de Bolsonaro foi esse. Para eles, essa disputa do mal contra o bem, do sim contra o não, do quente contra o frio é o que alimenta a relação com parte da sociedade. Só que agora eles venceram as eleições. E, em um país democrático, não é essa ruptura proposta que vai resolver o problema. O Brasil não ganha nada trabalhando nos extremos”.
C.L.
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