Cerca de 200 mil trabalhadores que perderam o emprego entre março e a os primeiros quinze dias de abril ainda não conseguiram solicitar o seguro desemprego, segundo dados do próprio governo. Para especialistas, esse número deve ser ainda maior.
Os desempregados relatam que não conseguem acessar ou concluir o pedido pelo aplicativo e nem informações via canais remotos da Secretaria Especial de Previdência e Trabalho.
Na terça-feira, em coletiva no Palácio do Planalto, o secretário especial de Previdência e Trabalho do Ministério da Economia, Bruno Bianco, minimizou o problema. “Temos uma pequena fila, que estamos dando conta rapidamente. Essa demanda reprimida não passa de 200 mil em março e abril”, disse.
Segundo o pesquisador da área de Economia Aplicada da FGV, Daniel Duque, o número efetivo de desempregados deve superar os 200 mil estimados pelo governo para esse período e deve crescer ainda mais nos próximos meses. “Não temos dúvida de que esse dado vai aumentar. Até o fim de abril, vai haver uma elevação e, a partir de maio, um crescimento expressivo”, disse.
O represamento nos benefícios do seguro desemprego é mais um dado na incompetência do governo em atender às necessidades da população, agravadas pela pandemia do coronavírus, assim como têm sido as dificuldades dos que mais precisam receber o auxílio emergencial e outros benefícios.
Como se este problema já não pudesse ter sido antecipado com a decretação do estado de calamidade pública, em março, o governo não criou nenhuma outra solução para esta demanda e coloca a culpa no fechamento das unidades do Sine (Sistema Nacional de Emprego), administradas pelos estados e municípios, e insiste no uso de canais digitais, de que muitos desempregados não têm acesso, e que, na maioria das vezes, não funcionam.
Como conta a moradora da Rocinha, no Rio de Janeiro, Roberta Ferreira, demitida no dia 1º de abril, que não consegue solicitar o benefício.
“A rotina está sendo acordar às 6h, ligar para o número 158 às 6h59 e tentar ser atendida. Quando tento fazer meu pedido pelo app Carteira de Trabalho Digital, consta que meus dados estão divergentes”.
O drama também é relatado pela empregada doméstica Ângela da Silva Nascimento Santos, que perdeu o emprego no início de março e não consegue acessar o site para pedir o seguro. Segundo ela, o contato por telefone também não funciona, pois está sempre ocupado. “Não recebo Bolsa Família e não consegui pedir o auxílio emergencial. Estou desesperada”, diz.