
Além da multidão, delegações de 180 países, como presidentes, príncipes e lideranças, se despediram daquele que fez do papado um símbolo de dedicação e devoção aos mais necessitados
A praça de São Pedro foi completamente tomada a partir das 8h30 (horário local) para acolher o simples ataúde de madeira com o corpo de Francisco, o argentino que durante 12 anos fez do papado um símbolo de dedicação e devoção aos mais humildes. Defendeu a dignidade e os direitos dos imigrantes com voz firme contras as injustiças e, destacadamente, contra o morticínio que atinge os palestinos.
A transferência do féretro da Basílica de São Pedro para a singela tumba da Basílica Santa María la Mayor começou às 12h08, logo após a missa de corpo presente, presidida pelo Cardeal Giovanni Battista Re. De acordo com o ministro do Interior italiano, Matteo Piantedosi, a homenagem contou com delegações de 180 países do mundo inteiro e teve a participação de mais de 400 mil pessoas (250 mil na Basílica de São Pedro e proximidades, e 150 mil no caminho à pousada final).
Enquanto o ataúde circulava pelas ruas de Roma entre aplausos e lágrimas, presidentes, príncipes e representações diplomáticas expressavam suas condolências e respeito pelo homem que amplificou a voz dos que mais necessitam, fortalecendo a luta pela paz mundial e condenando a agressão aos palestinos. Uma mensagem que deixou ressoando como reflexão contra a ganância, a exploração e a prepotência dos opressores.
“UM PAPA DO POVO, COM UM CORAÇÃO ABERTO A TODOS”
O cardeal Giovanni Battista Re, de 91 anos, fez uma homilia em que descreveu o jesuíta argentino como “um papa do povo, com um coração aberto a todos”, um pastor que sabia se comunicar com “os pequenos” de forma informal e espontânea.
Giovanni foi bastante aplaudido pela multidão ao recordar a preocupação constante do pontífice com os migrantes, incluindo a missa celebrada na fronteira entre os EUA e o México e sua viagem a um campo de refugiados em Lesbos, na Grécia, de onde retirou 12 migrantes e trouxe com ele. “O fio condutor da sua missão foi também a convicção de que a Igreja é uma casa para todos, uma casa com as portas sempre abertas”, acrescentou.
Na avaliação do Cardeal, este foi um reflexo da coerência de seu projeto para reformar profundamente as estruturas do papado, colocando os sacerdotes como servidores e construtores de uma Igreja dedicada aos mais necessitados.
O jornal Notícias do Vaticano apontou que “todos realmente estavam lá hoje, da mesma forma como quando a própria Praça São Pedro se encheu apenas com a presença do Papa Francisco, durante a Covid, havia realmente todos, o mundo todo conectado por meios de comunicação”. “E sob um céu sem nuvens, o segredo simples da comunhão que une toda a raça humana, o povo de Deus, reunido num único abraço, foi revelado de forma misteriosa. Possível. De fato, verdade. Diante dos olhos de todos. Como uma trégua para um dia especial”, frisou.
Para Marco Politi, autor de quatro livros sobre Francisco, ficou evidenciado que “seu período foi de grande inovação”, onde se percebeu “a coragem que o Papa teve diante das tradições imóveis da Igreja”.
Em seu testamento, datado de 29 de junho de 2022, o Sumo Pontífice solicitou que seus restos mortais fossem sepultados na Basílica de Santa María la Mayor, a maior entre as dedicadas à Virgem Maria em Roma, porque “sempre confiei minha vida e meu ministério sacerdotal e episcopal à Mãe de Nosso Senhor”.
“Espero que minha última viagem terrena se conclua justamente neste antigo santuário mariano, onde ia rezar no início e no fim de cada Viagem Apostólica, confiando minhas intenções à Mãe Imaculada e agradecendo-lhe por seu cuidado dócil e maternal”, disse ele.
“Sentindo que se aproxima o fim da minha vida terrena e com viva esperança na vida eterna”, o papa pediu que o seu túmulo “fosse na terra; simples, sem decoração particular e com a única inscrição: Franciscus”.