
“A desnutrição está aumentando na Faixa de Gaza”, afirmou a diretora executiva do Fundo das Nações Unidas para a Infância, Catherine Russel, denunciando que pelo menos 10 cozinhas de organizações de socorro não governamentais (ONGs) fecharam nas últimas semanas por falta de alimentos e 25 padarias da ONU estão sem funcionar há um mês
“A desnutrição está aumentando. Mais de 9.000 crianças foram internadas para tratamento de desnutrição aguda desde o início do ano na Faixa de Gaza”, alertou a diretora executiva do Fundo das Nações Unidas para a Infância, Catherine Russel. Enquanto crescem os bombardeios israelenses a depósitos de alimentos, a situação vai se deteriorando rapidamente e se multiplicam os mortos.
Com a asfixia provocada pelo cerco israelense dos últimos dois meses, pelo menos 10 organizações não governamentais (ONGs) fecharam nas últimas semanas por falta de alimentos e 25 padarias da ONU estão sem funcionar há 30 dias. A política israelense vem sendo denunciada por vários países e entidades de direitos humanos como “crime de guerra”.
A gravidade da situação está expressa no cotidiano, relatou uma fonte médica à Agência Anadolu, descrevendo que, no sábado (3), uma criança “morreu de desnutrição e desidratação no Hospital Infantil Al-Rantisi, na Cidade de Gaza”.
Conforme o Unicef, mais de 75% das famílias em Gaza relataram diminuição do acesso à água, com muitas famílias com crianças necessitando escolher entre beber, tomar banho e cozinhar.
DIARREIA PARA CRIANÇAS PEQUENAS REPRESENTA RISCO DE VIDA
Sem água potável, informou Catherine Russell, “a diarreia aquosa aguda agora representa 1 em cada 4 casos da doença registrados em Gaza. A maioria desses casos ocorre em crianças menores de cinco anos, para as quais a diarreia representa risco de vida”.
“Por dois meses, crianças na Faixa de Gaza enfrentaram bombardeios implacáveis, sendo privadas de bens, serviços e cuidados essenciais. A cada dia de bloqueio humanitário, elas enfrentam o risco crescente de fome, doenças e morte – nada justifica isso”, protestou a diretora do Unicef.
O Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (WFP) divulgou em seu relatório semanal sobre Gaza, quarta-feira (30), que “em 25 de abril, o Programa Mundial de Alimentos (PMA) informou que seus estoques de alimentos em Gaza estavam esgotados, enquanto a agência entregava seus últimos suprimentos restantes às cozinhas que preparavam refeições quentes”. “O PMA também destacou o impacto da deterioração da nutrição em grupos vulneráveis, incluindo crianças menores de cinco anos, mulheres grávidas e lactantes e idosos, alertando que a situação atingiu novamente ‘um ponto de ruptura’”, acrescentou.
A descrição é que os pais agora estão vendo seus filhos vulneráveis morrerem de fome, com armazéns vazios e cozinhas comunitárias fechadas à força. Em um lugar onde 80% da população depende de ajuda, segundo as Nações Unidas, essas agências humanitárias não têm mais muito a oferecer.
Incapaz de sentar-se, o menino Ossama Al-Raqab, de apenas cinco anos, se encontra deitado na ala pediátrica do Hospital Nasser, parcialmente destruído pelos bombardeios israelenses. Sofrendo de fibrose cística, está tão faminto que mal consegue levantar a cabeça. Suas bochechas afundaram nas cavidades do rosto, as costelas estão salientes e seus membros são pouco mais que ossos. Seus músculos faciais estão tão desgastados que ele não consegue mais fechar a boca, relatam os médicos.
Sentada ao lado de Ossama, sua mãe Mona mostra uma foto do filho, antes saudável e sorridente, quando comia ovos, abacates, castanhas de caju e amêndoas. “Ele precisa de comida, e alimentos que contenham proteína e gordura. Mas essas coisas não estão disponíveis agora e, se estiverem, são caras”, relatou. Ossama está entre as milhares de pessoas que já estão sendo tratadas por desnutrição e, há meses, médicos como Al-Farra vêm advertindo que a fome um dia se tornará fatal. Esse alerta agora é realidade.
Apesar disso, os nazisraelenses continuam apertando o cerco. Somente entre 18 de março e 27 de abril, o Escritório de Direitos Humanos da ONU (Achudh) registrou 259 ataques a prédios residenciais e 99 a tendas. A maioria dos ataques resultou em mortes, 40 deles ocorridos na área de Al Mawasi, em Khan Younis, precisamente onde o exército israelense repetidamente orientou civis a buscarem refúgio.
Pelos cálculos oficiais, mais de 400 palestinos estão sendo assassinados a cada semana pelos bombardeios sionistas na Faixa de Gaza, a grande maioria mulheres e crianças. Milhares ficaram feridos – boa parte mutilados – nos dois meses desde que o governo de Benjamin Netanyahu violou o cessar-fogo de janeiro. Nem mesmo os barcos de pesca palestinos têm recebido trégua, enquanto os pescadores buscam desesperadamente trazer alguma fonte de proteína para suas famílias.