OAB e um grupo de advogados e intelectuais também se solidarizaram com Patrícia Mello, da Folha de S. Paulo
Duas mil e quatrocentas (2.400) mulheres jornalistas assinaram um manifesto em defesa de Patrícia Campos de Mello, da Folha de S. Paulo, que foi agredida pelo ex-funcionário da Yacows, Hans River do Nascimento, agência de disparos de mensagens em massa, durante depoimento na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) das Fake News.
Durante o depoimento, Hans disse que Patrícia teria se insinuado sexualmente para tentar obter informações sobre as mensagens que a Yacows enviava durante a campanha eleitoral de 2018 pró-Bolsonaro.
No manifesto, as jornalistas afirmam que Hans ofendeu Patrícia, uma das jornalistas “mais sérias e premiadas do Brasil”, “sem apresentar qualquer prova ou mesmo providência”.
A Folha publicou prints que provam que foi Hans quem convidou Patrícia para ir a um show, e que ela ignorou o convite, conversando apenas sobre a reportagem que estava fazendo.
“É inaceitável que essas mentiras ganhem espaço em uma Comissão Parlamentar de Inquérito que tem justamente como escopo investigar o uso das redes sociais e dos serviços de mensagens como Whatsapp para disseminar fake news”, dizem as jornalistas.
Hans River entrou com uma ação trabalhista contra a Yacows e fez denúncias contra ela ao jornal. A empresa fraudava números de CPF e usava nome de idosos para abrir linhas telefônicas pelas quais fariam os disparos.
Depois que apresentou à jornalista vídeos e fotos provando o que dizia, voltou atrás e pediu para “retirar tudo o que eu falei até agora, não contem mais comigo”.
O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSC-RJ) endossou o crime de Hans contra a jornalista. “Eu não duvido que a senhora Patrícia Campos Mello, jornalista da Folha, possa ter se insinuado sexualmente, como disse o senhor Hans, em troca de informações para tentar prejudicar a campanha do presidente Jair Bolsonaro”, publicou em suas redes sociais”.
O presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), disse que “dar falso testemunho numa comissão do Congresso é crime. Atacar a imprensa com acusações falsas de caráter sexual é baixaria com características de difamação. Falso testemunho, difamação e sexismo têm de ser punidos no rigor da lei”.
CARTA
Um grupo de advogados e intelectuais também assinou uma carta em “irrestrita solidariedade” à jornalista.
“Indignados com a mentirosa e covarde agressão de que foi vítima a jornalista Patrícia Campos Mello, os cidadãos brasileiros que esta assinam vem prestar-lhe irrestrita solidariedade. Independente do fato de ser uma das mais brilhantes e respeitadas em sua área de trabalho, é intolerável que a mentira, a discriminação e a misoginia sejam usadas como armas para atacar a liberdade de consciência, a liberdade de informação, a igualdade e o direito à honra, atributos garantidos a todos e a todas na Constituição de 1988. Ao mesmo tempo, apelamos ao presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia, para que tome providências exemplares para conter episódios como esse, em que ódio e falsidade tentam turvar o sadio combate democrático de ideias”, diz o texto.
OAB
A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) também emitiu nota em solidariedade e em repúdio ao ataque à jornalista:
“O Observatório da Liberdade de Imprensa da OAB – Ordem dos Advogados do Brasil vem prestar irrestrito apoio a Patrícia Campos Mello, objeto de ataques e insinuações agressivas em comissão parlamentar de inquérito.
O uso de difamação para afetar a imagem de uma profissional de comunicação que incomoda justamente por sua competência merece repúdio das instituições que prezam a liberdade de expressão e de informação”.