Com dívidas de R$ 250 milhões, varejista Amaro definiu plano de reestruturação em “um cenário de juros extremamente altos e retração de crédito, especialmente para o varejo”
A Amaro é mais uma empresa varejista que busca alternativas negociadas com seus credores para não ir à falência. As dívidas da empresa somam R$ 244,5 milhões, sendo R$ 151,8 milhões em dívidas bancárias e R$ 92,8 milhões com fornecedores. Além do e-commerce, a empresa tem 20 lojas físicas e emprega 594 trabalhadores diretos.
Diferentemente das Americanas que pediu na Justiça uma Recuperação Judicial, a Amaro entrou com pedido de recuperação extrajudicial na 3º Vara de Falências e Recuperação Judicial de São Paulo no dia 22 de março. O pedido foi aceito pela Justiça no dia 24 de março..
Em nota, a empresa anunciou um acordo com credores e um plano de reestruturação em “um cenário de juros extremamente altos e retração de crédito, especialmente para o varejo, a Amaro protocolou um plano de Recuperação Extrajudicial como parte do processo de reestruturação do negócio”.
“A empresa tem como objetivo preservar sua liquidez e adequar a sua estrutura de capital para fortalecer a operação. Além disso, visa a manutenção do relacionamento com fornecedores e parceiros”, informaram.
A recuperação extrajudicial não abrange credores trabalhistas e de acidente de trabalho, que continuam com seus direitos inalterados. O plano envolve pagamentos somente de credores quirografários, os que não possuem um direito real de garantia, e a adesão foi de 41,63% deles. A empresa contratou a Alvarez & Marsal para cuidar da sua reestruturação.
A Amaro tentou, antes, buscar investidores para o negócio, o Mercado Livre foi sondado, entre outros, sem sucesso nessas tentativas. Nessas circunstâncias a marca recorreu à Justiça para conseguir um fôlego que permita retomar a normalidade das atividades.
Ainda que no radar de grande parte dos agentes econômicos, a crise econômica, que vem já de antes da pandemia, acelerou fortemente desde final de 2021 e em 2022, no Brasil e no mundo, seja pela inflação dos alimentos e do petróleo, vinculada ao cenário de conflito na Europa.
A resposta do governo passado foi dar força para a decisão do Banco Central (BC) de aumentar os juros, promovendo uma verdadeira escalada na Selic, que é a taxa básica (menor) da economia, que de 2% ao ano março de 2021 subiu para 13,75% ao ano a partir de junho de 2022.
O remédio amargo e equivocado para reduzir a inflação – o aumento dos juros para “derrubar” a demanda, quando evidentemente os fatores que desequilibraram os preços na economia foram outros, não o consumo alto das famílias, está gerando um efeito tão negativo que empresas, pessoas e famílias estão com seus orçamentos estourados.
“Os juros elevados criaram uma pressão enorme no caixa da companhia”, segundo a Amaro. Apenas em 2022, foram desembolsados cerca de R$ 24,5 milhões em pagamentos de juros.
Na lista de credores da companhia, constam dívidas de cerca de R$ 49 milhões ao Itaú; R$ 37 milhões ao Santander; R$ 18 milhões ao BTG Pactual; R$ 12 milhões ao banco ABC Brasil; e R$ 1 milhão ao Safra.
A Amaro se junta à crise de outras varejistas, como Marisa e Tok&Stock, que também buscam negociação com seus credores. Nos três casos, as lojas estão sofrendo em meio à alta dos juros.
O pedido de recuperação da Amaro foi feito com a solicitação de urgência, em razão da iminência de “atos de constrição de patrimônio, falência e/ou despejo das lojas citadas que companhia sofre na justiça e que colocam em risco as atividades empresariais”. Por isso, a companhia pede, ainda, que essas ações sejam suspensas por 180 dias com a homologação do plano.
No fim de fevereiro, o VBI Logístico (LVBI11) chegou a entrar com um pedido de despejo contra a Americanas. Isso aconteceu depois de a varejista deixar de pagar o valor integral do aluguel de janeiro referente a um galpão de armazenagem na Bahia.
A rede varejista quase conseguiu o aporte de um fundo em 2022, mas alega que “a piora do mercado com a alta dos juros e retração dos investimentos em empresas de tecnologia” fez o futuro sócio desistir dos planos.
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