Para o ministro, desrespeito de Bolsonaro à quarentena leva confusão à população
O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, disse que Jair Bolsonaro não respeitar as orientações do Ministério da Saúde deixa a população confusa sobre o que fazer para combater o coronavírus.
A população “não sabe se escuta o ministro da Saúde, se ele escuta o presidente, quem é que ele escuta”, disse Mandetta em entrevista ao Fantástico, da TV Globo.
O Ministério da Saúde tem defendido as orientações da Organização Mundial de Saúde (OMS), que são de distanciamento social para evitar a propagação violenta do vírus.
Para Bolsonaro, devem ficar em casa apenas aqueles que pertencem a grupos de riscos. Essa “ideia” não é defendida por nenhuma entidade médica.
“Não existe absolutamente nada que influencie mais essa resposta do que como que a sociedade brasileira vai se comportar nos próximos meses, nos próximos dias”, afirmou o ministro.
Segundo Mandetta, Bolsonaro tem se preocupado mais com a economia. “O Ministério da Saúde entende a economia, entende a cultura e educação, mas chama pelo lado de equilíbrio de proteção à vida”.
“Eu espero que essa validação dos diferentes modelos de enfrentamento dessa situação possa ser comum e que a gente possa ter uma fala única, unificada”, pois é a falta disso que tem deixado a população confusa. “A gente pode ter uma disciplina e pedir muita disciplina para as pessoas. Disciplina significa faça você também seu sacrifício, para que a gente possa bloquear o máximo possível”, continuou.
Contrariando as recomendações da OMS e do Ministério da Saúde, Bolsonaro tem incitado a população a sair da quarentena e se expor ao contágio do coronavírus. Ele inclusive mentiu, dizendo que o coronavírus está indo embora, quando os números mostram justamente o contrário.
“Parece que está começando a ir embora essa questão do vírus, mas está chegando e batendo forte a questão do desemprego”, falou Bolsonaro, em uma videoconferência, no domigo (12), com líderes religiosos em comemoração à Páscoa.
De acordo com as secretarias estaduais de Saúde, até as 14h da segunda-feira (13), o país está com 22.740 casos confirmados e 1.271 mortes pela Covid-19.
“Nós não experimentamos no Brasil o ‘lockdown’, o fechamento total. Nós estamos com uma diminuição de mobilidade social importante, chegamos a ter uma diminuição expressiva, relaxamos, estamos em torno de 50%, 55%, já chegamos a ter 70%”, continuou Mandetta.
“Quando você vê as pessoas entrando em padarias, em supermercados, fazendo aquelas filas encostadas, grudadas, pessoas que estão fazendo piquenique em parque, isso é claramente uma coisa equivocada”.
Mandetta alertou que “se cada empresário, se cada setor achar que o dele é essencial, que o dele tem que trabalhar e começar um efeito cascata, o Ministério da Saúde vai mostrar na outra semana que ‘essa atividade aqui fez isso com essa cidade’”.
O ministro disse que não pode obrigar a população a ficar em casa e Bolsonaro a seguir suas orientações, mas que as consequências caso a quarentena não continue serão sérias e previsíveis.
“Eu estou dizendo qual é o caminho: vamos por aqui. Se você vai ao médico e ele diz que não coma doce porque você é diabético, tem pessoas que comem doce sistematicamente mesmo sendo [diabético]. A gente pode dizer pra ela: você vai ter problema, o seu rim vai parar, você pode ter déficit de visão, amputação de perna, e a pessoa continua comendo doce. Mesmo que ela tenha todas as complicações, a gente vai lá para tentar minimizar o problema da visão, do rim, da perna”.
“Infelizmente não vai ser num toque de mágica que vamos passar por isso. A gente tem que pautar por foco, disciplina e ciência e ficar muito firme nesse tripé, e planejamento para que possamos sair disso juntos”.
Luiz Henrique Mandetta falou que, a partir de estudos feitos com o avanço do coronavírus em outros países, “sabíamos que na primeira quinzena de abril estaríamos com os números mais ou menos como estão [mais de 1.200 mortes]. Sabíamos também que os meses de maio e junho seriam os meses de maior estresse para o nosso Sistema de Saúde”.
“A gente imagina que os meses de maio e junho vão ser os mais duros para as nossas cidades”.
O ministro também comentou que “não existe capacidade de se fazer uma testagem de 200 milhões de habitantes” e que a prioridade é testar os profissionais de saúde. “Nós vamos testar aqueles que a gente precisa mais que voltem ao trabalho. Se um médico ou enfermeira já se contaminou e já tem os anticorpos, ele trabalha com muito mais agilidade e a gente sabe que ele não vai mais adoecer daquela doença”.
O Ministério da Saúde já distribuiu mais de um milhão de testes.
Mesmo sem a testagem de toda a população, é possível fazer predições da curva de avanço do coronavírus porque “a gente tem modelos matemáticos. Com esses exames que nós fazemos, a gente tem modelos estatísticos, modelos matemáticos que nos permitem dimensionar, qual é o ritmo, para onde está indo, em que bairro está, em que cidade está, se está se deslocando, para qual faixa etária, se está internando quem, qual é a capacidade instalada. Nós temos modelos matemáticos que nos permitem fazer cálculos muito bons, que nos dão muita informação sem testar 100% das pessoas”.
Henrique Mandetta contou que ainda “tem muita gente que vê na internet a fake news de que isso é uma invenção de países para ganharem vantagens econômicas, tem outras que acham que tem um complô mundial contra elas, como se tivesse alguma solução com um passe de mágica e que não precisasse que ninguém fizesse nenhum tipo de sacrifício”, o que prejudica a quarentena em todo o país.